Por Seleucia Fontes (Exclusivo: Texto e fotos)
Peguei um voo com destino certo para o Sul do País. Deveria ir direto para Santa Catarina, mas desviei o caminho para Ponta Grossa, no Paraná. Para quem vive no Centro-Norte do Brasil, talvez possa soar estranho a busca pelos atrativos deste município que é mais conhecido por seu importante distrito industrial, agropecuária e como centro universitário. Mas já deve ter ouvido falar no Parque Estadual de Vila Velha sem saber que este município, o quarto maior do Estado em população, com cerca de 400 mil habitantes, e distante apenas 114 km de Curitiba, tem muito mais a revelar.
História
A trajetória de Ponta Grossa revela suas vocações. Apesar da fundação oficial datar de 1823, tropeiros já circulavam pela região por volta de 1700, quando também começaram a surgir as primeiras fazendas por toda a região conhecida como Campos Gerais do Paraná, que reúne 12 municípios.
Como em outras povoações, tudo começou com uma capela, mas o local de construção provocou disputa entre os fazendeiros, que de forma messiânica resolveram soltar um casal de pombos para ver onde eles pousariam. Já o nome seria referência a uma grande colina coberta por um capão de mato e visível a grande distância, que passou a ser conhecido como “Capão da Ponta Grossa”.
No século 19, a cidade já era um importante centro comercial, graças à sua ligação com outras regiões pela malha ferroviária. A estação que recebeu imigrantes de vários países, como Itália, Rússia, Alemanha, Ucrânia, Polônia, Síria e Líbano hoje é um museu.
Entre as rochas
Era criança quando estive em Vila Velha pela primeira vez. Impossível esquecer a impressão provocada pelos arenitos formados e esculpidos nos últimos 300 milhões de anos. Suas formas incríveis aguçam imaginações de todas as idades, que buscam semelhanças com animais, perfis humanos, taças, personagens de desenhos animados, utilitários domésticos.
Além da área dos arenitos, a Unidade de Conservação (UC), que soma 3.122 hectares, conta ainda com as Furnas, dois grandes poços de desabamento surgidos há 400 milhões de anos, com água formada pelo lençol subterrâneo e vegetação exuberante, fora um enorme e curioso elevador que antigamente descia com os visitantes pelo vão da principal furna, mas foi desativado por questões de segurança. Há, ainda a bela Lagoa Dourada-foto-, que há milhões de anos também foi uma furna e ganha uma coloração amarelada quando suas águas refletem a luz do Sol.
Os passeios são viáveis para pessoas de todas as idades e alguma disposição para caminhadas. São R$ 10,00 para percorrer as trilhas dos arenitos, com parte do acesso feito por ônibus do Parque, mais R$ 8,00 para seguir até as Furnas e Lagoa Dourada. A taxa do guia (R$ 180,00) é paga separadamente, ficando bem em conta, apenas R$ 10,00, quando há grupos maiores e nos finais de semana. De Ponta Grossa, são apenas 24 km de distância, de Curitiba, 92 km. Há opções de passeios mais complexos, que precisam de agendamento prévio, como caminhadas para áreas mais distantes, passeios noturnos e cicloturismo.
Estes atrativos únicos, reunidos no Parque criado em 1953 e fechado entre 2002 e 2004 para revitalização, com construção de novas trilhas e restrição de acessos antes liberados, agora passarão por nova mudança. A gestão de 400 hectares da UC – hoje sobre a responsabilidade do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) – passará para a iniciativa privada a partir de 2020.
Segundo o gerente do Parque, Juarez Baskoski, a mesma empresa que administra Fernando de Noronha e Cataratas do Iguaçu terá a missão de unir exploração turística e preservação ambiental desta área que já foi muito castigada por mãos humanas que deixavam seus nomes esculpidos nas rochas. Há muitos desafios pela frente, como melhorias nos equipamentos receptivos e necessidade de aumento de pessoal – hoje, a capacidade de carga é de 800 pessoas/dia, mas poderá chegar a 1200. Nada disso descredencia este atrativo de beleza única.
Fernanda Karina Haura, turismóloga e presidente da Associação dos Moradores do Jardim Vila Velha, comunidade localizada no acesso às Furnas com cerca de 300 moradores, conta que a maioria dos 21 guias de turismo e demais funcionários do Parque vive na vila. Há muitas expectativas com a mudança de gestão, porém manter o local preservado e aberto ao público é interesse de todos.
Rota da Cerveja
Hoje, especialmente por conta do Parque Estadual de Viva Velha, Ponta Grossa está na rota dos turistas em viagem para Curitiba e Foz do Iguaçu, além de mochileiros, americanos e europeus, devido a presença de descendentes dos imigrantes, sem contar uma forte vocação para o turismo de negócios. O trade turístico local acredita que a terceirização da administração do Parque poderá aumentar o fluxo de visitantes de outras regiões brasileiras.
É o caso do presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares dos Campos Gerais (SHRBS), Daniel Wagner, que acredita no sensível aumento da ocupação das mais de 70 hospedagens de Ponta Grossa, dentre elas o Planalto Select Hotel, por ele gerenciado, a partir da maior divulgação do Parque e de outros atrativos, como igrejas, museus, casas de cultura.
Thaís Pius, presidente do Ponta Grossa Campos Gerais Convention & Visitors Bureau, conta que apesar do foco na captação de eventos para o município, a entidade acompanha de perto iniciativas voltadas ao desenvolvimento do turismo local. “A concessão era esperada, vai favorecer a contratação de mão-de-obra local, a implantação de novas atividades em Vila Velha, com turismo sem degradação do meio ambiente”, pontua.
“Hoje, nosso forte é o turismo de negócios, queremos ampliar o turismo de lazer”, continua Thaís, ao revelar que uma das apostas é a Rota da Cerveja, estimulada pela instalação de grandes fábricas nos últimos cinco anos e microcervejarias. A qualidade da água da região é um dos fatores de atração para empresas e mestres produtores.
No município, que registra mais de um século de tradição na produção cervejeira, estão registradas as grandes fábricas como a Heineken e Ambev, além de microcervejarias, como Oak Bier, Koch, Shultz, Palais e Strasburger, de acordo com a Associação das Microcervejarias dos Campos Gerais. A programação ocorre mensalmente, e inclui degustações em todos os estabelecimentos visitados.
Cachoeiras
Ponta Grossa também se destaca por abrigar outros atrativos naturais que convidam a uma maior permanência.
Faltou tempo para percorrer a chamada Rota das Cachoeiras, que inclui o Buraco do Padre, uma furna com cascata interna, o Cannyon e Cachoeira do Rio São Jorge, mas conheci a bonita Mariquinha, uma cascata com 30 metros de altura e um banco de areia que forma uma pequena praia e convida os visitantes à contemplação e ao mergulho. Fica localizada em uma unidade de conservação, na propriedade de Odair Scheibel, que desde 1999 divide a atividade turística com a agricultura.
A trilha para a cachoeira, cujo nome homenageia uma antiga moradora local, é bem cuidada e com baixo grau de dificuldade. Há ainda acesso para duas pequenas grutas. Na entrada, há um camping com capacidade para 200 barracas, lanchonete, banheiros e o empresário já pensa em uma ampliação, já que o fluxo no verão chega a 800 visitantes nos finais de semana, oriundos principalmente de Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo.
Se você nunca pensou em Ponta Grossa como um destino turístico, aqui estão alguns bons motivos para programar esta viagem, lembrando que é possível ampliar o tempo de estadia na região e conhecer os atrativos de outros municípios dos Campos Gerais do Paraná, bem como da Capital, Curitiba!
Outras dicas
Como chegar – Azul, Gol e Latam oferecem voos diários para Curitiba. O percurso de 114 km até Ponta Grossa podem ser percorridos em carro alugado ou ônibus (2 horas).
Onde ficar – Ponta Grossa possui uma boa rede hoteleira. Uma boa opção é o Planalto Select Hotel (reservas@hotelplanalto.com.br), que apresenta boa localização, 66 acomodações confortáveis, café da manhã colonial e o diferencial “Pet Friendly”, aceitando pets de até 7 kg.
Passeios – A cidade dispõe de receptivo turísticos com agências, operadoras e guias especializados. Mas todos os atrativos são facilmente localizados por meio de aplicativos.
Imperdível:
Vila Velha
Acesso – Rodovia BR 376 (Ponta Grossa -Curitiba), Km 28 a partir de Ponta Grossa, saída pela Av. Visconde de Mauá ou Av. Visconde de Taunay.
Visitação – Arenitos, entrada das 8h30 às 15h30 de quarta à segunda, com permanência até as 17h30. (Fechado às terças para manutenção. Furnas e Lagoa Dourada: 9h30, 11h, 13h30 e 15h30. Ingressos: R$ 10,00 (arenitos), R$ 8,00 (furnas e lagoa). Presença de guia, que é pago à parte, é obrigatória.
Grupos – Acima de 15 pessoas com agendamento pelo e-mail pevilavelha@iap.pr.gov.br e contratação do guia pelo e-mail agendamentongtur@gmail.com.
Cachoeira da Mariquinha
Acesso – Distante 30 km do centro da cidade, pela Rodovia do Talco – PR 513. Após o vilarejo do Passo do Pupo, a estrada não é pavimentada.
Entrada – Day-use das 8 às 20 horas, R$ 15,00; acampamento e rapel, R$ 30,00. Crianças até 5 anos não pagam entrada. Obs: Proibida a entrada de animais nas trilhas e cachoeira.