Por Seleucia Fontes (Texto e fotos)
Ao viajar para o Sul do País, sempre temos a possibilidade de encontrar cidades marcadas pela forte presença de colonizadores. Este é o caso de Carambeí, que apesar de possuir nome de origem indígena tem sua história intimamente ligada à presença principalmente holandesa na região conhecida como Campos Gerais do Paraná. Sua população não chega a 23 mil habitantes, mas a cidade possui o maior Parque Histórico do País, com a reprodução a céu aberto da arquitetura e modo de vida na antiga Colônia de Carambehy, em especial entre as décadas de 1910-30.
A cidade é muito organizada, com poucos, mas bons hotéis. Sua economia é baseada na produção leiteira e no parque industrial que abriga grandes empresas e a Frísia Cooperativa Industrial, antiga Cooperativa Batavo. Sim! Você já ouviu falar e possivelmente consumiu seus produtos, sendo o nome uma homenagem a uma das tribos que ocupavam a região dos Países Baixos. Os frísios eram outro povo do local.
A proposta de construir um parque que preservasse essa memória surgiu no coração da comunidade e se fortaleceu com o apoio dos empresários locais, em especial da cooperativa, a partir da criação da Associação Parque Histórico de Carambeí (APHC), presidida por Dick Carlos de Geus. As primeiras edificações foram inauguradas em 1986, em comemoração aos 75 anos da imigração holandesa. Na festa de 90 anos, a novidade foi a Casa da Memória. O projeto tomou tal proporção que somente em 2018 recebeu 144.572 visitantes.
Origens
Ao percorrer os 100 mil metros quadrados deste complexo museal mergulhei em uma sociedade até então desconhecida. A primeira parada é a Casa da Memória, montada em um antigo estábulo de alvenaria dos anos de 1940 que reúne restaurante, exposição fotográfica, peças cedidas pela comunidade local, entre fotografias, vestimentas, móveis, mobiliários distribuídos em cômodos que reproduzem com perfeição – incluindo uso de estátuas – o interior de habitações típicas dos holandeses mais abastados, bem como de uma casa portuguesa, uma pequena venda, o interior de uma “escola-igreja”, maquete e até um caminhãozinho que o guia, Lucas, afirma ainda funcionar.
Mais adiante, a entrada para o parque se dá por uma ponte móvel sobre um pequeno lago, uma referência aos Países Baixos e convite para uma viagem no tempo. Tudo é cuidadosamente organizado e bem distribuído, apesar da grande área verde, o percurso não é cansativo.
A igreja é uma réplica fiel da primeira edificação, não mais existente na cidade, e até mesmo a Bíblia está na língua original; a escola revela o ensino bilíngue dado às crianças; a réplica da estação de trem lembra este fundamental elo de ligação com outras colônias, enquanto as casas sugerem intimidade e aconchego, mesmo dentro de sua simplicidade.
Estrebaria, ferraria, jardim holandês, cemitério, uma casa para lembrar os indígenas e demais imigrantes de outras regiões, inclusive asiáticos, completam esta ala. Mais adiante, outras casinhas cortadas por um pequeno lago mostram a arquitetura holandesa, mas internamente abrem espaço para exposições temáticas voltadas à sustentabilidade ecológica, social e econômica. Há ainda o Museu do Trator e os moinhos, é claro!
Para completar, o Parque conta com atividades especiais que envolvem a população local e atraem turistas de várias regiões do Brasil e outros países. É o caso da programação de Natal, quando o local é aberto para visitação noturna, da Festa dos Imigrantes, do arraial junino, Carnaval, Páscoa e a Feira Medieval, com os participantes vestidos à caráter e que chega a atrair 7 mil pessoas/dia.
Cidades das tortas
Sabe aquela torta holandesa que adoramos? Pois em Carambeí podemos experimentar dezenas de variações, doces e salgadas, sendo impossível definir uma preferência. A tradição também remonta à chegada dos primeiros imigrantes, por volta de 1911, e não apenas holandeses, mas também alemães, poloneses, italianos, portugueses.
O hábito dominical de comer um pedaço de torta com café após o culto se tornou um convite diário aos visitantes. Não deixe de parar em uma confeitaria para reeditar esta deliciosa tradição.
Uma das referências desta iguaria é Frederica Dykstra, descendente de uma das primeiras famílias de imigrantes da região. O dom da confeitaria herdado da avó tornou-se profissão, primeiro na Casa da Memória e desde 2007 em sede própria. O Frederica’s Koffiehuis traz vários ambientes muito acolhedores, com móveis de períodos diversos mas distribuídos com harmonia. O cardápio revela mais de 60 receitas de tortas artesanais, muitas com sabores especialmente desenvolvidos pela confeiteira e dois de seus três filhos. E o melhor de tudo, o sucesso de sua casa não a impede de manter o hábito de reunir a família para tomar café com bolo sempre no mesmo horário e na mesma mesa. Servidos?
Outras dicas
Como chegar – Azul, Gol e Latam oferecem voos diários para Curitiba. O percurso de 138 km pode ser percorrido em carro alugado ou ônibus. Entre Carambeí e Ponta Grossa são apenas 23 km.
Parque Histórico de Carambeí
Acesso – A partir de Curitiba, BR-277/BR376 e PR 151. Endereço: Avenida dos Pioneiros, 4050, Colonia.
Visitação – Terça a domingo, das 11h às 18h (aberto no período noturno no período natalino). Ingressos: R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia entrada). Quarta-feira, entrada gratuita. Guias: atendem somente grupos, mas o Parque é autoexplicativo. Obs: Vale separar ao menos 2h ou 3h para o passeio.
Informações – https://www.aphc.com.br/ Insta – @parquehistorico
Frederica’s Koffiehuis
Endereço – Av. dos Pioneiros, 1010 – Centro
Atendimento – Terça a domingo, das 14h às 20h.
Informações – https://www.fredericas.com.br/ – https://www.instagram.com/fredericas_koffiehuis
(*Agradecimentos: Associação Parque Histórico de Carambeí e Ponta Grossa Campos Gerais Convention & Visitors Bureau)