O coronavírus é a mais recente má notícia para a economia italiana, que já tinha 2020 como um ano difícil, devido à desaceleração chinesa e alemã, cujo resultado foi de -0,3%, no quarto trimestre do ano passado. Agora, o contágio na Lombardia e Veneto, com o bloqueio de 11 municípios, implica no comprometimento de setores importantes, com repercussões negativas para todo o país.
As áreas mais afetadas pela desaceleração chinesa são o luxo e o turismo. Segundo a Federcongressi & Eventi, entidade nacional de empresas públicas e privadas do setor, o vírus pode custar 1,5 bilhão de dólares em negócios de turismo e de eventos.
A produção e as atividades laborais pararam em Lodigiano e Vò Euganeo, com impacto inevitável nas empresas em todo o território. Passeios escolares cancelados, como convenções e feiras. Cancelamentos de viagens de negócios e lazer. Escolas e universidades – com sua cadeia de suprimentos – fechadas, em todo o norte do país.
Se é impossível fazer previsões de longo prazo sobre o impacto econômico do coronavírus na Itália, os efeitos são claros no curto prazo.
“As medidas adotadas, atualmente, têm, em si mesmas, um impacto significativo e, certamente, no primeiro trimestre, teremos uma queda acentuada no PIB”, antecipa o economista Fedele De Novellis, chefe do grupo de trabalho de previsão e análise macroeconômica do REF Ricerche, empresa de consultoria e análise econômica.
Neste caso, seria o segundo trimestre consecutivo no negativo: a Itália, portanto, tecnicamente entraria em recessão. De acordo com Lorenzo Codogno, fundador da LC Macro Advisors e ex-gerente geral do Departamento do Tesouro, a tendência do primeiro trimestre pode “comprometer o ano todo”, reduzindo o PIB de 2020 entre 0,5 e 1%.
Atingidas as duas regiões que representam um terço do PIB
Lombardia e Vêneto, onde foram tomadas as medidas mais rigorosas para conter o contágio, geram juntas cerca de um terço do PIB italiano: respectivamente 390 e 163 bilhões em 2018, em um PIB italiano de 1,765 bilhões.
Isso é suficiente para entender que as repercussões econômicas da emergência “podem ser muito fortes”, como reconheceu o primeiro-ministro Giuseppe Conte. Especialmente porque na zona vermelha, por menor que seja, existem empresas cujos produtos são muito relevantes para suas respectivas cadeias de suprimentos. No entanto, a extensão das consequências está, obviamente, ligada à duração da crise.
“No pior cenário, aquele em que o vírus se espalha rapidamente e se estende aos países vizinhos, obviamente haveria efeitos muito significativos no crescimento de toda a zona do euro. Mas se a ação de contenção for bem-sucedida, a recuperação após a contração será rápida e os níveis de produção terão uma tendência “V”. Obviamente, existem muitas possibilidades intermediárias entre esses dois extremos”. Qual será o rumo da situação será compreendido a partir dos próximos dias.
As repercussões mais duradouras no turismo
No entanto, existe um setor que, além de ficar no olho do furacão por várias semanas, provavelmente sofrerá efeitos duradouros: o turismo, com 2 milhões de funcionários e responsável por cerca de 13% do PIB italiano. “Podemos imaginar que se viajará menos, por pelo menos um ano”, prevê De Novellis. Com os voos diretos de e para a China suspensos, o afluxo de turistas do país já entrou em colapso, o que no ano passado garantiu às cidades italianas mais de 5 milhões de hospedagens, além de estimular a demanda no setor de moda e luxo.
Nessas horas, o quadro piorou exponencialmente: os surtos do norte da Itália, os resultados imediatos das medidas tomadas pelo governo e a psicose que se seguiu estão causando uma explosão de cancelamentos. Não apenas por turistas estrangeiros cujos governos desaconselham a viagem à Península: muitos italianos que estão indo para o exterior também estão desistindo, já que alguns países estão prontos para impor quarentena aos que chegam do norte da Itália.
A CNA Turismo (Confederação Nacional dos Ofícios e da Pequena e Média Empresa ) já teria solicitado que o ministro Dario Franceschini convocasse uma mesa para estudar medidas de compensação.
*Fonte: ORIUNDI. Net, com informações do jornal Il Fatto Quotidiano