Turismo de saúde: conheça o que Portugal tem a oferecer a quem visita

Por Raquel Relvas Neto

O mundo mudou e os critérios para viajar também. Com o surto da pandemia da COVID-19, será que a saúde sobe na lista e lidera os critérios na hora de escolher determinado destino de férias em detrimento de outro? É uma das questões que fizemos a vários ‘players’ que têm a sua oferta ou estratégia turística focada no turismo de saúde ou médico. As condições dos serviços de saúde de determinado destino vão começar a estar no topo dos critérios de quem viaja? Conheça o que Portugal tem a oferecer a quem visita.

No final de 2019, o Turismo de Portugal, o Health Cluster Portugal (HCP), a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) assinavam um Protocolo de cooperação para a promoção internacional da oferta portuguesa de Turismo Médico. Já na altura se considerava que Portugal tinha boas condições para se afirmar internacionalmente no âmbito deste mercado, além de que a Saúde era já apontada como um ativo emergente na estratégia Turismo 2027 e um pólo de desenvolvimento do país. Ao dia de hoje, em que o país está a ter números mais favoráveis na evolução da contaminação no que ao surto do novo coronavírus diz respeito, quando comparado com outros destinos europeus, esta estratégia pode ganhar mais força.

Aos números junta-se ainda o facto de Portugal liderar, inclusive, a tabela de países que mais projetos  inovadores tem no combate à COVID-19, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), estando ainda a ser elogiado pela boa gestão da crise sanitária. Estes são dados que, conjuntamente com outros, como o lançamento do selo de garantia sanitária para os estabelecimentos de atividades turísticas pelo Turismo de Portugal, contribuem para fortalecer a confiança de Portugal como destino turístico seguro no que à saúde diz respeito.
Apesar de considerar que ainda é prematuro e “arriscado” fazer cenários evolutivos, Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal, continua a frisar que “a saúde ganhará atenção reforçada e a procura de cuidados não diminuirá, antes pelo contrário”. A questão que se coloca é se a procura fora do país de residência habitual vai ou não aumentar.

Na verdade, como já falado pelos demais especialistas em várias áreas, só depois da descoberta da vacina ou de meios terapêuticos para a cura da COVID-19, vai ser possível retomar “os padrões de consumo, de globalização e mesmo de procura de bem-estar que conhecíamos e desfrutávamos até ao princípio do ano em curso”.
Joaquim Cunha considera que, apesar dos sistemas nacionais de saúde poderem ter de sofrer alterações, “o Turismo Médico, enquanto prestação de cuidados de saúde a não residentes, só poderá vir a crescer”. Neste sentido, e tendo em conta o protocolo assinado no final de 2019, como referido em cima, o HCP está a trabalhar no sentido de “encontrar os ângulos e as abordagens positivas que este, que será o cataclismo das nossas vidas, nos possa trazer”.

Oferta

À parte do atual momento, já existiam unidades hoteleiras que se focavam neste produto turístico como atrativo da sua oferta. É o caso do Vila Galé Sintra – Resort Hotel, Conference & Revival Spa, que quando abriu portas em maio de 2018 já se posicionava como um ‘healthy lifestyle hotel’, promovendo um estilo de vida saudável, conjugando cuidados médicos, alimentação equilibrada, saúde física e mental, com prática de exercício físico e terapias holísticas.
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé, considera que a unidade localizada junto à serra de Sintra está “bem posicionada” e “acreditamos que reunirá boas condições para ter uma procura acrescida quando reabrir: está numa zona isolada e verde, tem ar puro, oferece programas de bem-estar, alimentação saudável e fitness ao ar-livre e tem um foco na saúde. E estes poderão ser fatores que os clientes eventualmente vão valorizar mais nesta fase”.

O responsável aponta, no entanto, que o Vila Galé Sintra, à semelhança das restantes unidades hoteleiras do grupo, vai seguir “rigorosas medidas de higiene e desinfeção para assegurar a segurança de todos”. “Até que tenhamos um medicamento ou uma vacina para a COVID-19, nesta fase transitória, acredito que os clientes vão valorizar sobretudo três aspetos: confiança nas medidas de higiene, limpeza, segurança e distanciamento aplicadas pelos hotéis, marcas reconhecidas que dêem garantias e produtos em zonas menos povoadas e de menor dimensão, mais ligados à natureza, à vida saudável, ao ar-livre”, enumera.

A Longevity Wellness Worldwide (LWW) é outro dos exemplos em Portugal que tem na saúde e bem-estar nas suas unidades a sua vocação bem vincada. Para Nazir Sacoor, CEO & Founder da LWW, que tem os hotéis Longevity Health & Wellness Hotel, Longevity Cegonha Country Club e Vilalara Longevity Thalassa & Medical Spa, no Algarve, o surto pandêmico do COVID-19 veio “reforçar ainda mais a importância que o nosso sistema imunitário tem na defesa contra todo o tipo de doenças e infeções e, como tal, acreditamos que os players que conseguirem apresentar soluções Wellness com profundidade no fortalecimento do sistema imunitário, integradas em ambiente hoteleiro, terão um mercado ainda maior por desenvolver”.

É neste sentido que a LWW acredita que “acredita que o turista de lazer, Mice, ‘city breaks’, entre outros, vai dar cada vez maior importância às valências e serviços que os hotéis e destinos têm disponíveis em matéria de saúde e bem estar e não estamos a falar apenas de serviços de Spa”. Ou seja, os hotéis que tiverem “uma oferta de Wellness secundária bem estruturada, robusta, credível e sustentável terão maiores oportunidades de captar esse mercado que vai estar cada vez mais preocupado em poder “ter wellness” e manter o seu sistema imunitário forte, através de variadas formas possíveis, durante uma estadia cuja principal motivação não foi Wellness”.

Para já, nas três unidades da LWW, está a ser ajustado o conceito “Longevity Covid-19 360º Safety & Prevention Protocol, que inclui medidas de Rastreio & Testes (para colaboradores e hóspedes), de Higiene & Desinfecção reforçados e diferenciados, de Prevenção e, com alguma especialização, de Fortalecimento do Sistema Imunitário (opcional para os hóspedes que tiverem interesse) e a trabalhar com relações públicas para realçar todas as valências wellness que a marca oferece em cada localização e que contribuem para o fortalecimento do sistema imunitário”.

O diretor executivo do HCP também aponta que “a boa saúde que se faz em Portugal e as competências que neste domínio dispomos, muito para além de argumentos para a atratividade no turismo médico, serão nos próximos anos, de forma que julgo cada vez mais acentuada, uma vantagem competitiva do nosso país como destino de turismo de referência e de qualidade”.

No entanto, outros fatores são essenciais neste processo de construção de confiança e atração junto do potencial turista, como aponta Nazir Sacoor: “Há que criar todo um sistema integrado seguro desde a chegada aos aeroportos, aos meios de transporte para os hotéis e nos próprios hotéis”.

Assim, se Portugal conseguir garantir e “criar um sistema integrado deste gênero, criar um brand em torno disto e comunicá-lo agressivamente nos mercados internacionais (primeiro Europa, depois resto do mundo), acreditamos que a retoma será mais rápida”, acrescenta ainda o empresário da LWW.

 

Sistemas de saúde em atenção

A pandemia veio provocar situações de elevado stress e consequentes mazelas nos sistemas nacionais de saúde. “Na Europa e, em particular, na União Europeia, vamos ter de nos questionar se os atuais modelos de organização e de financiamento dos sistemas de saúde são os mais eficazes. Vamos ter de perceber se teríamos respondido melhor se o nível de integração fosse mais elevado. Se a partilha de recursos, neste contexto, poderia ou poderá ser uma opção a considerar, tendo em vista a qualidade da resposta aos cidadãos e a melhor utilização dos meios disponíveis. Se faz sentido pensar num sistema de saúde europeu”, destaca o responsável do HCP.

*Fonte: Publituris/PT

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