A declaração oficial de pandemia do novo coronavírus pela Organização Mundial de Saúde (OMS) completa 100 dias nesta sexta-feira (19), com a esperança de aprovação de uma vacina no segundo semestre deste ano e de tratamentos para reduzir a mortalidade de pacientes graves, enquanto governos do mundo inteiro lutam para salvar suas economias da recessão econômica histórica, marcada por um desemprego recorde
Nesse período, o vírus que provoca a doença Covid-19, descoberto no fim de 2019 na China, avançou da Ásia para a Europa e depois para as Américas, castigando principalmente países da América do Sul, como o Brasil, o Chile e o Equador.
Na Europa, diversos países já estão em estágio avançado de desconfinamento, reativando seu comércio, aulas e outras atividades não essenciais, além da reabertura de suas fronteiras internas.
Segunda onda
Nos EUA, campeão em número de casos e mortes, à frente do Brasil, há o temor de uma segunda onda de contágios após o ressurgimento do vírus em estados que reabriram recentemente, como Califórnia, Flórida e Texas.
Em todo o mundo, já são mais de 8,5 milhões de infectados e mais de 453 mil óbitos confirmados. Há ainda muita subnotificação e escassez de testes de diagnóstico, sobretudo nas áreas mais vulneráveis do Planeta, como a África e a América Latina.
Cura
Nesta semana, a Universidade britânica de Oxford, que promete uma vacina até o fim deste ano, anunciou a eficácia do medicamento dexametasona para salvar a vida de pacientes graves. Barato e amplamente disponível, este corticoide é atualmente o único medicamento que parece melhorar a sobrevida entre os pacientes com Covid-19.
O Brasil ainda estuda esse remédio e promete para agosto uma conclusão. Já São Paulo fechou acordo com o laboratório chinês Sinovac para produzir a potencial vacina, oferecer ao SUS, mas isso só depois dos testes clínicos e da aprovação do imunizante pelas autoridades, um processo que deve demorar até o segundo semestre de 2021.
No total, mais de mil ensaios clínicos estão sendo realizados em todo o mundo em dezenas de tratamentos, de acordo com o banco de dados da revista médica The Lancet (covid-trials.Org).
Destacam a associação de dois medicamentos anti-HIV (lopinavir e ritonavir)-, a transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas a pacientes, a clorpromazina antipsicótica e tocilizumabe.
No entanto, a maioria dos especialistas acredita que a chave será encontrar uma combinação de medicamentos para somar seus efeitos.
Otimismo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) espera que centenas de milhões de doses de uma vacina contra o novo coronavírus possam ser produzidas ainda neste ano e outros 2 bilhões de doses até o fim do ano que vem, afirmou ontem a cientista-chefe da organização, Soumya Swaminathan.
A OMS elabora um planos para ajudar a decidir quem deveria receber as primeiras doses quando uma vacina for aprovada, afirmou a cientista. A prioridade seria dada a profissionais da linha de frente, como médicos, pessoas vulneráveis por causa da idade ou outra doença e a quem trabalha ou mora em locais de alta transmissão, como prisões e casas de repouso.
“Estou esperançosa, estou otimista. Mas o desenvolvimento de vacinas é uma empreitada complexa, envolve muita incerteza”, disse ela. “O bom é que temos muitas vacinas e plataformas, então, se a primeira fracassar ou se a segunda fracassar, não deveríamos perder a esperança, não deveríamos desistir.”
Cerca de dez imunizantes em potencial estão sendo testados em humanos, na esperança de que um possa se tornar disponível nos próximos meses para prevenir a infecção da Covid-19. Países já começaram a fazer acordo com empresas farmacêuticas para encomendar doses antes mesmo de se provar que alguma funciona. Soumya descreveu o desejo por milhões de doses de uma vacina ainda neste ano como otimista, acrescentando que a esperança de até 2 bilhões de doses de até três vacinas diferentes no ano que vem é um “grande se”.
Sem mutação
A cientista afirmou que os dados de análise genética coletados até agora mostraram que o novo coronavírus ainda não passou por nenhuma mutação que alteraria a gravidade da doença que causa.
A Agência Europeia de Medicamentos estimou em maio, sendo “otimista”, que uma vacina poderia estar pronta em um ano. No mesmo período, a OMS ainda falava em 18 meses.
Mas muitos países já esperam desenvolvimentos até o fim do ano, até para evitar uma segunda onda da epidemia com a chegada do inverno no Hemisfério Norte. Assim, os Estados Unidos esperam distribuir 300 milhões de doses em janeiro de 2021, por meio de projetos de financiamento a laboratórios. No caso, a intenção também é dar prioridade a idosos, cidadãos com histórico médico e trabalhadores essenciais.
Na China, a empresa farmacêutica estatal Sinopharm, que atualmente prepara duas vacinas em potencial, espera lançá-las no mercado até o início de 2021. Na Europa, onde vários projetos estão em andamento, esses prazos também estão em queda. Alemanha, França, Itália e Holanda assinaram um acordo com a AstraZeneca para fornecer à UE 300 milhões de doses. Grupos farmacêuticos repetem que as vacinas serão vendidas a um preço acessível, e mesmo a preço de custo. A AstraZeneca prometeu “não lucrar nada”, segundo o presidente Olivier Nataf, que estima um preço de 2 euros (US$ 2,24 ) por dose. *Fonte: Diário do Nordeste