A comunidade brasileira de Santo Estevão, uma pequena vila rural a 60 quilômetros de Lisboa, foi atingida por um surto de Covid-19. Já há 22 casos confirmados. No total, mais de 80 pessoas precisaram ficar em isolamento.
Os casos estão concentrados em nove famílias que vivem e trabalham na região. Uma grande parte dos brasileiros atua como caseiro ou em serviços relacionados à manutenção dos sítios e residências de alto padrão da vila.
O primeiro caso identificado na comunidade brasileira foi no fim da semana passada, quando um homem procurou atendimento em um hospital da região.
Após um exame confirmar que se tratava de covid-19, as autoridades fizeram uma força-tarefa para identificar redes de contágio e realizar testes em todos os potenciais afetados.
“Os brasileiros foram extraordinários. Fizeram o isolamento e cumpriram todas as regras”, afirma o presidente da Câmara Municipal de Benavente (equivalente à Prefeitura), Carlos Coutinho.
“Trata-se de uma população que está há muitos anos em Portugal, bem estabelecida, alguns já vivem aqui há 14 anos. Têm filhos e estão perfeitamente integrados”, diz ele.
De acordo com o prefeito, o caso inicial teve origem em Lisboa. A capital portuguesa tem hoje a situação mais problemática para a covid-19 no país, concentrando mais de 70% dos novos casos.
Na vila de Santo Estevão, todos os casos confirmados estão isolados em casa, com monitoramento constante de profissionais de saúde. A maioria das pessoas está assintomática.
Devido à falta de condições adequadas de isolamento em suas próprias casas, quatro pessoas foram encaminhadas para a Câmara Municipal. O objetivo é que elas consigam cumprir o distanciamento sem pôr em risco outros familiares que, até agora, não foram infectados.
Nas ruas da vila de Santo Estevão, o clima é de apreensão entre os poucos brasileiros que saem às ruas.
Temendo represálias, eles pedem para não serem identificados, mas dizem que já há quem olhe com desconfiança para os estrangeiros.
Em março, no começo da pandemia, a comunidade paquistanesa foi atingida por um surto, iniciado em uma fábrica –vinte pessoas acabaram infectadas na ocasião.
“Houve tantos portugueses contaminados também. Acho injusto discriminarem a comunidade brasileira. Aconteceu a mesma coisa com os paquistaneses. Não está certo discriminarem, mas acontece. Notei que os brasileiros têm até evitado sair de casa”, diz Maria Sousa, moradora da vila.
*Fonte: Jornal de Turismo; Foto: Folhapress