Por Yuri Abreu
Responsável por cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) de Salvador e aproximadamente 5% na Bahia, o turismo foi, sem dúvida, uma das atividades que mais sofreram com a crise provocada pela pandemia de covid-19. Rodoviárias fechadas, queda drástica no número de voos, pontos turísticos vazios, bares e restaurantes sem poder funcionar e, por último, encerramento das operações de hotéis deixaram um cenário de “terra arrasada” que costuma gerar emprego e renda para muitas pessoas diante de uma extensa cadeia produtiva.
Para ser uma ideia, uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o volume das atividades turísticas na Bahia, quando comparado com o 2º trimestre do ano anterior – pior fase da pandemia do novo coronavíurus –, marcou retração de 72%, mantendo a tendência de queda, iniciada no 1º trimestre de 2020 (-5,3%). No mesmo período, O fluxo doméstico (-93,5%) o fluxo internacional (-99,8%) nos aeroportos da Bahia e o fluxo no porto de Salvador (-100,0%) no 2º trimestre de 2020 desaceleram a movimentação de passageiros na capital baiana, impactando na taxa média de ocupação, nos meios de hospedagem em Salvador, numa queda de 37 p.p, quando comparados com o 2º trimestre de 2019.
Contudo, com a proximidade do verão, o número de casos da doença em queda e a já iniciada retomada de algumas atividades, a expectativa é a de que os bons ventos já comecem a soprar a favor do segmento na capital baiana e pelo estado. Mas, claro, não da mesma forma que no período pré-pandemia, ainda mais com a muito baixa possibilidade da realização do carnaval, na data original em 2021, e a montagem do Festival da Virada, neste ano, nos moldes atuais e ainda sem a confirmação de uma vacina contra o novo coronavírus que imunize toda a população.
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult) não parou de executar as ações já previstas no calendário. Contudo, a pasta elaborou um plano com ações que visam, além da segurança sanitária, o desenvolvimento do setor, com capacitação de mão-de-obra, tecnologia, inserção digital e outras ações. No primeiro momento, a secretaria disponibilizou cestas básicas para trabalhadores da cultura e do turismo, no total, foram mais de 5 mil cestas doadas”, afirmou o secretário municipal de Cultura e Turismo, Pablo Barrozo.
Além disso, o órgão criou o Centro de Recuperação do Turismo (CRT), um integrador de serviços e consultorias para empresas de turismo. “Este é o primeiro modelo executado no Brasil. Em um único local, são disponibilizados serviços públicos, 50 tipos diferentes de capacitações virtuais, em parceria com o Sebrae e Senac, e consultorias financeiras com bancos públicos e privados. Continuamos a execução das obras de requalificação da Avenida Sete e da Praça Castro Alves, que já foram entregues no mês de agosto e que impulsionarão o comércio da região”, acrescenta o gestor.
Com relação ainda as intervenções, também ocorre a requalificação da Orla no trecho de Stella Maris, Praia do Flamengo e Ipitanga, assim como a Casa da História e o Arquivo Público Municipal e a Casa da Música, no bairro do Comércio. Em outra via, a Secult desenvolveu o Selo Verificado para que os estabelecimentos da cidade passem por requisitos de higiene e segurança sanitária. Outro projeto é a capacitação de 7 mil profissionais do setor, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
CAMPANHAS E SONDAGEM
“A secretaria ainda realizou a Pesquisa Sondagem Turística que identificou o impacto, novos comportamentos, hábitos, exigências de segurança e intenção de viajar no pós-pandemia, e constatou que Salvador é o primeiro destino escolhido por turistas que pretendem viajar. Isso é resultado do cuidado que a prefeitura de Salvador vem tendo com a vida das pessoas desde o início da pandemia”, afirma Barrozo.
Noutro sentido, campanhas de promoção do destino serão executadas para incentivar o turismo para soteropolitanos, baianos e turistas do Brasil e do mundo. Já divulgamos as campanhas Visite Depois, Salvador Pede em Casa, Uma Saudade Chamada Salvador e Vem meu Amor, a mais recente, lançada no final de setembro. O vídeo da campanha, divulgada nas redes sociais e canais oficiais, mostra os protocolos de saúde e medidas de segurança adotados na cidade pelos segmentos do turismo. Há também a expectativa, em breve, do lançamento da campanha Salvador para Soteropolitanos.
“A Prefeitura de Salvador ainda alia ações para garantir a segurança dos soteropolitanos e visitantes à preocupação em resgatar a economia, inclusive no setor turístico, que está sendo estimulado de diversas formas. Na área da hotelaria, uma nova legislação permite o desconto de 40% do IPTU de 2021 de empreendimentos cadastrados no programa Proturismo sem a necessidade de contrapartidas em 2020”, diz o secretário, que também ressaltou a reabertura de museus como Casa do Carnaval e Casa do Rio Vermelho.
ESTADO
Para o turismo da Bahia como um todo, as perspectivas são positivas, principalmente se for levado em conta o que foi registrado nos feriados de 7 de setembro e 12 de outubro, conforme a Secretaria Estadual de Turismo (Setur). “A julgar pelos últimos feriados (7 de setembro e 12 de outubro), a expectativa para a retomada das atividades turística é boa. A ocupação hoteleira de destinos como Morro de São Paulo, Porto Seguro, Itacaré e Praia do Forte ficaram em torno de 100% das unidades disponibilizadas, de acordo com o plano de retomada de cada destino, que está variando entre 50 e 70%. Salvador, que teve 36% de ocupação no feriado do dia 7 de setembro, ficou acima de 50%”, disse o titular da pasta, Fausto Franco.
Contudo, segundo ele, o principal desafio para essa retomada no setor é a segurança sanitária. “Primeiro porque o destino não basta parecer seguro, ele tem que deixar isso muito claro para os turistas. Segundo, tem que ser muito criterioso para não correr o risco de ‘andar para trás’, ou seja, para não precisar fechar novamente, como está ocorrendo em alguns lugares, até mesmo do exterior. Os destinos têm que trabalhar muito a questão da aplicação dos protocolos sanitários, ter sua equipe bem alinhada neste quesito, para se cuidar e, consequentemente, passar as orientações adequadas aos turistas e estar apta a atendê-los, pontuou.
Para chamar a atenção de mais turistas para a cidade e o estado, Franco diz que o Governo da Bahia vem trabalhando junto ao trade turístico e realizando diversas reuniões com as câmaras técnicas das 13 zonas turísticas do Estado. “Neste momento está com muita cautela. Mas trabalhando numa construção conjunta com o trade, se reunindo constantemente com as câmaras técnicas das suas 13 zonas turísticas; com os gestores municipais, bem como o trade turístico. Aliado a isso, tem proporcionado capacitação, em parceria com o Sebrae, voltada para os protocolos sanitários”, contou.
“Estamos também fazendo gestão junto ao Ministério do Turismo para conseguir uma linha de crédito maior para o Setor e feito a interlocução entre empresários e trabalhadores do turismo com as instituições financeira visando mais agilidade na liberação dos recursos. Foram feitas pesquisas e levantamentos para nortear a tomada de decisões na elaboração de ações voltadas para o turismo, dentre outros. O turismo é uma atividade que precisa de várias outras áreas para funcionar, o retorno é gradual. Aliado a isso, os municípios estão retomando suas atividades turísticas, lançando seus planos de reabertura, demonstrando mais segurança com os protocolos sanitários, ou seja, gradativamente a atividade turística está se reinventando, se adaptando a esse ‘novo normal’, comentou Fausto Franco.