A Bahia se despede de Cira, famosa baiana do acarajé em Salvador

Por Yuri Abreu

Uma das maiores baianas de acarajé que, ao lado de Dinha – falecida em 2008 – fez a iguaria ficar conhecida não apenas na Bahia e no Brasil, mas também no mundo todo, nos deixou. Aos 70 anos, veio a óbito a quituteira Jaciara de Jesus Sants, mais conhecida “Cira do Acarajé”, ontem, em Salvador. Há 18 dias, ela estava internada no Hospital São Rafael, por conta de problemas renais, mas não resistiu. Ela deixou cinco filhos e oito netos.

O corpo da baiana, que conquistou baianos e turistas com seus quitutes, foi velado na casa onde ela residia e ganhou fama, no bairro de Itapuã. Foto: Márcio Filho/MTUR 

 

Por alguma coincidência, quis o destino que Cira partisse exatamente no mesmo dia em que é celebrado o Dia de Santa Bárbara – Iansã para os adeptos das religiões de matriz africana. Além disso, é justamente o acarajé o alimento ofertado a divindade durante os rituais do candomblé. Segundo membros da família, a baiana era “filha” de um orixá de dupla personalidade: Oxum Opará, quando em parte do ano carrega consigo as características de Oxum, e na outra parte, exatamente Iansã.

O corpo foi velado na casa onde ela residia, no bairro de Itapuã, onde a quituteira ganhou a fama que a levou para outros pontos da cidade, inclusive para uma região da capital baiana onde a “rival” Dinha era famosa: o bairro boêmio do Rio Vermelho. O sepultamento está previsto para ocorrer neste sábado, às 10h, no Cemitério de Itapuã. “Ela sempre foi muito forte, trabalhou a vida toda com isso e hoje todos nós trabalhamos com o acarajé. Deixou um legado, com certeza”, completou, disse uma das filhas dela, Cristiane de Jesus, em entrevista ao G1.

Assim que a morte de Cira foi divulgada pelos quatro cantos de Salvador, não tardaram para mensagens de lamento e homenagens a ela surgirem. Um dos primeiros a comentar a passagem da quituteira foi o prefeito de Salvador, ACM Neto. “A Bahia perde um patrimônio, um ser humano querido e amado por todos os baianos e por todas as pessoas que visitaram Salvador nos últimos anos. Ela herdou uma tradição, todo aquele conhecimento que vem de geração em geração, e soube acrescentar o seu toque especial, tornando o seu acarajé um dos preferidos da Bahia. Neste dia de Santa Bárbara e Iansã, nós sabemos que Cira será bem-recebida por Deus. Expresso aqui os meus sentimentos. Que Deus possa confortar a todos os seus familiares e amigos”, disse.

“Nossa cultura e gastronomia perdem um dos maiores ícones da nossa cidade, Cira do Acarajé. Uma baiana daquelas que com seu carisma e suas delícias encantou todo mundo. Que Deus conforte a família e os amigos nesse momento de profunda dor!”, disse o prefeito eleito da capital baiana, Bruno Reis.

O governador da Bahia, Rui Costa, foi mais um a prestar condolências à família de Cira. “Quero manifestar meu profundo pesar pela morte de Cira,uma das mais famosas baianas de acarajé de Salvador. Com seus deliciosos quitutes, encantou baianos e turistas de todo o mundo e será lembrada como um dos ícones da nossa culinária. Que Deus conforte seus familiares e amigos”, afirmou.

Para o senador e ex-governador do Estado, Jaques Wagner, Cira foi “uma mulher lutadora que dedicou sua vida a este nobre ofício que é símbolo da nossa cultura”. “Fátima e eu recebemos com tristeza a notícia da morte de Cira do acarajé. Que siga em paz e com a certeza de que seu legado jamais será esquecido. Nossa solidariedade aos amigos e familiares”, acrescentou.

Conforme o presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM), Fernando Guerreiro, Cira foi a rainha da arte culinária da cidade. “Mulher de uma energia luminosa, que encantava a todos com seu talento e capacidade de trabalho. Salvador perde mais um dos seus ícones, que vai deixar saudades em todos que relaxavam ao final do dia com seus quitutes e seu sorriso”, definiu.

Em nota, a Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBA) manifestou pesar pelo falecimento de Cira do Acarajé. “A baiana, de 70 anos de idade, era dona de um dos tabuleiros mais famosos da cidade de Salvador, sendo uma figura ilustre do bairro de Itapuã, e estendendo seu trabalho em quiosques espalhados pelo Rio Vermelho, Piatã e Lauro de Freitas”. A quituteira começou a trabalhar cedo, desde os 12 anos de idade, sendo que aos 17 assumiu o ponto de sua falecida mãe, que também era baiana.

Ao todo, foram mais de 50 anos dedicados à arte gastronômica e cultura dos quitutes. O acarajé feito por ela, por diversas vezes foi considerado por júris especializados como o melhor da capital baiana, e em seu tabuleiro também ofertava deliciosos abarás, passarinhas, cocadas e bolinhos de estudante. “O nome e o legado de Cira do Acarajé certamente permanecem eternos para a Bahia. A SecultBA presta a sua solidariedade aos amigos e familiares”, finaliza a nota do órgão estadual.

*Fonte: Tribuna da Bahia

Compartilhe         

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *