O Teatro Castro Alves (TCA) fecha o ano de 2020 com o lançamento de “Abraço no Tempo”, vídeo que conclui sua temporada anual, desta vez vivida sob os impactos da pandemia da Covid-19, que modificou os planos de toda a sociedade. Este que é o maior e mais importante equipamento cultural da Bahia demonstra sua atenção e compromisso de ser parte da vida social, reunindo grandes forças para uma ode de reconhecimento a este rasgo temporal. Os seus dois corpos artísticos – o Balé Teatro Castro Alves (BTCA) e a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) – juntam-se a dois artistas atemporais: Caetano Veloso, convidado especial, e o imortal Ludwig van Beethoven, homenageado pelos 250 anos de seu nascimento. Esta entrega de encerramento conclui e é consequência de uma jornada desafiadora, em que o TCA foi capaz de mais uma vez se reinventar e realizar uma série de ações digitais que mobilizaram mais de 150.000 pessoas nos últimos nove meses, promovendo arte e cultura também como expressões de humanidade, ânimo, respeito e resistência. O material será lançado no canal de YouTube do TCA (www.youtube.com/teatrocastroalvesoficial).
Assim, no fim de ano, quando damos aquela boa olhada para trás para seguir adiante, “Abraço no Tempo” reflete sobre a vivência coletiva de 2020: o tempo de quarentena, de distanciamento e de incertezas, que rapidamente nos fez questionar tudo. O tempo de que se perdeu noção, que tomou outros ritmos e que nos convidou à sua intensa percepção. Um tempo que foi experimentado com emoções extremas, diante do desconhecido, do inesperado, do imprevisível. Entre medo e coragem, insegurança e esperança, distâncias e união, pressa e paciência, este será um tempo marcado na história de gerações. O tempo: esta matéria que é, ao mesmo tempo, concreta e líquida, lenta e veloz, pesada e que nos escapa por entre os dedos. O tempo como fluxo. O passado, com suas gravidades, o presente, intensamente nervoso, e o futuro, promissor e repleto de expectativas, são outros nomes que damos ao tempo e que agora nos conclamam atenção, dedicação e mais afeto.
O filme tem como eixo o diálogo entre o popular e o erudito, costurando tempos diversos na existência do contemporâneo. A obra do compositor L. V. Beethoven, um dos pilares da música ocidental, fez a passagem entre os rigores do classicismo e o arrebatamento do romantismo. Colocando em forma de música seus conflitos e paixões mais profundos, sua arte é das criações que resistem ao tempo: um testemunho da condição humana com todas as suas contradições e adversidades, em todo seu drama e esplendor. O plural, popular e sofisticado cancioneiro de Caetano Veloso e suas poéticas tão presentes no imaginário do povo brasileiro se conectam a este discurso. Integram o programa “Allegro ma non troppo” do Concerto para violino em Ré Maior, Op. 61, com a solista Priscila Rato, violinista e spalla da OSBA, e “Allegro com Brio” da Sinfonia n° 7 em Lá Maior, Op. 92, ambas de Beethoven, além de um arranjo especial assinado por Marcelo Caldi que une a Sinfonia nº 9 “Tema final”, também de Beethoven, à canção “Oração ao Tempo”, de Caetano.
Com roteiro de Moacyr Gramacho e Fábio Espírito Santo, que assinam direção geral junto a Adriano Moraes, assistência de direção de Rose Lima e Wanderley Meira, direção musical de Carlos Prazeres, direção de arte de Renata Mota, coreografia de Ana Paula Bouzas a partir de criações dos bailarinos do BTCA, iluminação de João Batista, sonorização de Beto Santana e Vavá Furquim, direção de produção de Virginia Da Rin e todo suporte de engenharia do espetáculo do Centro Técnico do TCA, “Abraço no Tempo” é grandioso como o tema que aborda. Gravado nos palcos e espaços do Complexo do TCA, tem em sua monumental arquitetura uma metáfora sobre as proporções da relação do homem com o tempo. Com dança e música, linguagens que têm o tempo como regente de movimentos e compassos, os artistas em cena se relacionam com estruturas que, além da beleza expressa neste aglomerado tombado pelo Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), demostram a miudeza humana diante do tempo universal.
“Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos, tempo, tempo, tempo, tempo, num outro nível de vínculo” – esta é a fé de “Oração ao Tempo” que aqui se reverencia. Uma afirmação radical da nossa capacidade de sentir e ir além.
BTCA + OSBA
Nas circunstâncias impostas pela pandemia da Covid-19, seguir produzindo arte tornou-se uma questão de reinvenção, e foi isto que os dois corpos artísticos do Teatro Castro Alves (TCA) fizeram: o Balé Teatro Castro Alves (BTCA) e a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA-foto) reagiram às circunstâncias para manter ativos os seus compromissos de criação, difusão, formação, qualificação e memória para a dança e a música. Descobrindo novos talentos e desenvolvendo novos saberes, nos últimos nove meses, a internet tornou-se palco para exibição de grande volume de criações inéditas e de repertório, bate-papos, intercâmbios, aulas e muita interação com públicos diversos.
Com destaque, BTCA e OSBA foram protagonistas de “Um Concerto para o Guarda-Roupa”, vídeo-espetáculo gravado na Sala Principal do TCA, em que bailarinos e músicos performam para uma plateia formada por figurinos do Guarda-Roupa do Centro Técnico do TCA: uma metáfora de saudade, marcando poeticamente o desejo de rever e reverenciar o público, além de homenageando a classe artística. Outro destaque foi a maratona conjunta para criar e estrear novas obras, quinzenalmente, dentro do projeto “Voltando aos Palcos”. As duas companhias artísticas oficiais da Bahia apresentaram seis criações inéditas, entre outubro e dezembro, em espetáculos encenados na Sala do Coro do TCA e transmitidos ao vivo no canal de YouTube do TCA e pela TVE Bahia.