Nesta sexta-feira, dia 8 de janeiro, a partir das 9h da manhã, o prefeito Bruno Reis inaugura oficialmente o RUA – Roteiro Urbano de Arte, projeto da Fundação Gregório de Mattos/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo que colocou em vários pontos do bairro do Comércio obras de artistas visuais contemporâneos e que ao mesmo tempo fazem uma homenagem aos mestres das artes na Bahia. A cerimônia acontecerá na Rua da Grécia, onde está instalada a obra “Lágrimas”, de Vinícius S.A. (foto), com a presença do prefeito, do presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, de autoridades municipais e dos artistas.
Sobre o RUA
Ao descer o Plano Inclinado Gonçalves em direção ao Comércio já se nota. Faixas coloridas estão nas paredes que ladeiam a subida e a descida do “charriot”; mais alguns passos e é possível se deparar com duas grandes esculturas que remetem à força da religiosidade de matriz africana que permeia a cidade de Salvador; na Rua dos Ourives o sol incide sobre uma estrutura vazada e palavras se projetam no chão(foto) ; na Praça da Inglaterra, de um lado mulheres volumosas e engraçadas olham para quem passa, do outro cavalinhos de balanço podem ser cavalgados pelas crianças; na Rua da Grécia lâmpadas cheias de água fazem parecer que gotas de chuva estão suspensas no ar.
Durante todo esse trajeto, grafitados, postes, bancos, caixas de luz, o asfalto, com listras coloridas no chão, conectam tudo, levando o pedestre a percorrer a primeira etapa do RUA – Roteiro Urbano de Arte, projeto da Fundação Gregório de Mattos/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/Prefeitura de Salvador, que tem como objetivo tornar o Comércio uma galeria a céu aberto, requalificando, enriquecendo, humanizando o bairro.
“A arte que chega de forma inesperada, sem avisar ou pedir licença, surpreendendo e revirando nosso dia. Esta é a proposta do Projeto RUA, criar obras de arte que dialoguem com a cidade e seus moradores, que resignifiquem espaços transformando o olhar que se tem sobre eles”, afirma Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos, que desenvolveu o projeto para o eixo de economia criativa do programa #vemprocentro, que visa transformar e dinamizar o centro de Salvador e é coordenado pela SEDUR – Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo.
Quem faz o RUA
No RUA – Roteiro Urbano de Arte, que tem curadoria de Daniel Rangel, oito artistas visuais contemporâneos, através de suas obras/instalações/
E nesta interação artística e amorosa, Bel Borba homenageia Carybé, Ayrson Heráclito a Mestre Didi, Ray Vianna a Mario Cravo Júnior, Lanussi Pasquali a Joãozito, Zuarte homenageia Reinaldo Eckenberg, Iêda Oliveira a M.B.O, Vinicius S.A. a Rubens Valentim. Há também o trabalho em grafite de Bigod, conectando tudo.
As obras/instalações/
Para realização de um projeto tão ousado e inédito a Fundação Gregório de Mattos trabalhou em sinergia com diversos órgãos municipais: SEMAN, SECIS, LIMPURB, DESAL, SEMOP, Diretoria de Iluminação Pública, SEMOB e SEDUR.
SAIBA MAIS SOBRE CADA OBRA/INSTALAÇÃO:
ÁREA 1- VIVA PÁRIDE BERNABÓ – BEL BORBA HOMENAGEIA CARYBÉ – PLANO INCLINADO GONÇALVES
É no Plano Inclinado Gonçalves, o “charriot”, que começa o RUA – Roteiro de Arte Urbana e com uma grande instalação de Bel Borba. Com uma série de murais al na entrada superior do equipamento e placas instaladas nas paredes laterais, Bel Borba homenageia Carybé. “Faço uma abordagem de maneira sutil à obra de Carybé”, diz o artista, que revela se sentir honrado de ter a possibilidade de estar ao lado dos artistas que participam do RUA, neste projeto que para ele sem dúvida ajuda a revitalizar o Centro de Salvador. “Quando vejo um ambiente, rua, prédio, repartição, qualquer instituição pública com a presença de uma obra de arte vejo sinal de vida inteligente. A arte ajuda a humanizar e inevitavelmente atrai visitação, o que faz com que venhamos a ocupar este lado da cidade que é tão pitoresco”, sentencia Bel.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Bel Borba no RUA
“As cores e formas de Bel Borba estão espalhadas por Salvador e suas obras fazem parte da paisagem urbana da cidade de forma definitiva. A identificação dos soteropolitanos com o trabalho do artista se deve aos belos diálogos que realiza em locais específicos com referências à cultura local. O traço fluido de seus desenhos e pinturas são sutilmente transpostos para o espaço público com uso de distintos materiais, como azulejos, chapas de ferro e tintas.
A instalação que o artista criou para o projeto RUA – Roteiro de Arte Urbana, Viva Páride Bernabó modifica a paisagem de um cartão postal – o Plano Inclinado Gonçalves – que conecta a Cidade Alta, o Pelourinho, com a Cidade Baixa. Uma obra que respira o próprio entorno, com uma paleta de cores que estão presentes no Pelourinho e nas roupas dos transeunte. O formato de serpente se aproveita da arquitetura horizontal inclinada do local e do movimento do bondinho para criar um colorido cinético dinâmico.
Viva Páride Bernabó homenageia Carybé, cujo o nome de batismo era Hector Julio Páride Bernabó, artista que apesar de não ter nascido na Bahia, possui traços que se identificam com o imaginário da cultura baiana. A relação entre Carybé e de Bel Borba vai além da questão de abordarem uma temática comum – a baianidade – e se aproxima ainda na sutilidade como ambos formalizam suas obras.”
ÁREA 2 – JUNTÓ – AYRSON HERÁCLITO HOMENAGEIA MESTRE DIDI – RUA DOS FRANCISCOS CONÇALVES
O segundo impacto que o RUA promove é o encontro com o totem criado por Ayrson Heráclito para homenagear Mestre Didi. É a escultura “Juntó”, uma referência ao segundo orixá das pessoas, que acompanha os orixás principais que regem as cabeças. Feliz por estar homenageando o “grande mestre Didi”, Ayrson Heráclito chama atenção para a importância histórica e econômica do bairro do Comércio. “O RUA é um projeto fundamental de revitalização para a região, para o fluxo urbano da cidade, para a implantação de um modelo de arte humanizada. A ocupação deste espaço salvaguarda o patrimônios dos processos de arruinamento. Estou muito feliz em colaborara com minha arte para esse investimento de renovação do bairro do Comércio”, revela o artista.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Ayrson Heráclito no RUA – “A escultura Juntó de Ayrson Heráclito é uma obra que remete a um totem ou coluna com emblemas sagrados. A palavra juntó se refere ao segundo orixá ou orixá adjunto das pessoas, responsável pelo nosso equilíbrio e por acompanhar os orixás principais que regem nossas cabeças. A escultura, no âmbito do projeto RUA – Roteiro de Arte Urbana, é uma homenagem ao escultor, sacerdote e escritor baiano Mestre Didi.
A sensação de suspensão e elevação provocada pela escala da obra se relaciona formalmente com os eguns, entidades com as quais o Mestre Didi se relacionava, como o seu Xaxará de Obaluaiyê (seu juntó) e o Oxé colocado na “cabeça” da escultura, alude diretamente a Xangô, que era seu orixá regente. A ressignificação contemporânea da cultura afro-brasileira é o elemento central do trabalho artístico de Ayrson Heráclito que vem traduzindo e atualizando a temática através das linguagens atuais.
O encontro de Mestre Didi e Heráclito se torna possível por meio de uma percepção estética e conceitual que se cruza na circularidade temporal como em um xirê, ritual do candomblé que conecta homens e divindades.”
ÁREA 3 – LAROYÊ – RAY VIANNA HOMENAGEIA MARIO CRAVO JÚNIOR – RUA DOS FRANCISCOS CONÇALVES – A próxima parada é numa encruzilhada onde Ray Vianna colocou Laroyê, sua escultura em fibra de vidro, com seis metros de altura, representação de Exú. Laroyê homenageia o artista Mario Cravo Júnior, que foi um dos mais importantes escultores baianos e um grande forjador de “exus”.
“Optei por fazer uma representação de Exú – O orixá africano da comunicação e do movimento – tema que Mário tanto incorporou e representou tão bem em sua vida e obra, e dei o título de Laroyê, a saudação deste orixá. Com seis metros de altura é formada pelo encontro de três planos com diferentes formas sinuosas e longas pernas que permitem a circulação livremente no chão formando um grande tripé com 4,5 metros entre eles. No centro forma-se um espaço vazado que torna possível a visão do outro lado através deste. Um lado é preto e o outro é vermelho. De cada lado que se olha se vê uma nova composição de forma e cores”, informa Ray Vianna.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Ray Vianna no RUA – “O movimento retorcido das formas, as cores utilizadas e o título da escultura Laroyê é uma referência direta a Exu, orixá mensageiro entre o céu e a terra, responsável por abrir os caminhos e que vive nas encruzilhadas.
Criada especialmente para o projeto RUA – Roteiro de Arte Urbana, a escultura de Ray Vianna está instalada em uma das muitas encruzilhadas que existem na Cidade Baixa. Laroyê homenageia ainda o artista Mario Cravo Júnior, que foi um dos mais importantes escultores baianos e que era um grande forjador de “exus”. A influência de Cravo Júnior no trabalho de Ray Vianna vai além da questão escultórica, e se encontra ainda na vontade artística de ocupação do espaço urbano.
Escultores orgânicos, de tempos distintos, que revelam por meio de suas obras uma leveza improvável de materiais pesados, como o aço, concreto e fibra de vidro, e outros menos rígidos, como o lápis, as tintas e os pincéis”.
ÁREA 4 – JARDIM PARA ALGUNS SILÊNCIOS – LANUSSI PASQUALI HOMENAGEIA JOÃOZITO – RUA DOS OURIVES
O momento seguinte se dá a partir da intervenção artística Jardim para Alguns Silêncios, de Lanussi Pasquali, em homenagem a Joãozito. A obra é formada por poemas vazados numa estrutura de ferro, que podem ser lidos no chão da Rua dos Ourives, a depender da incidência da luz.
“Tento trazer alguns elementos do que João pensava como intervenções no bairro do Comércio, região que ele estudava desde anos 90. Nos seus dois últimos anos de vida ele propôs transformar o local num distrito artístico, um bairro modelo em que práticas culturais, econômicas e sociais fossem justas e igualitárias e aplicadas paulatinamente”, revela Lanussi, que conta que Joãozito sonhou o Comércio como um lugar residências para acolhimento de jovens artistas e novos produtores culturais e da própria população do entorno.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Lanussi Pasquali no RUA – “A intervenção artística Jardim para Alguns Silêncios de Lanussi Pasquali propõe uma cisão radical e orgânica no meio da paisagem de concreto da Cidade Baixa. O desenho rizomático do jardim e da escultura poética estão espelhados e a obra se torna uma fissura no tempo e no espaço, ao resgatar plantas e palavras que sempre estiveram ali.
Os poemas vazados na estrutura de ferro, que se movem e deformam de acordo com o sol e a incidência da luz, são de autoria do artista visual Joãozito, que é aqui homenageado. A instalação foi pensada especialmente para ocupar o espaço onde está instalada, uma obra de arte específica (site specific), criada no âmbito do projeto RUA – Roteiro de Arte Urbana.
O trabalho de Lanussi Pasquali esteve intimamente ligado ao de Joãozito nos últimos anos, uma que vez que foram parceiros de arte e vida, até a passagem dele. Suas palavras aqui ecoam mas também suas ideias tornam-se, de alguma forma, realidade, uma vez que sonhava com projetos de ocupação artística na área do comércio. Jardim para Alguns Silêncios é portanto um projeto concebido por Lanussi, e mais que homenagem é uma continuação do trabalho do qual Joãozito também faz parte.”
ÁREA 5 – HARAS PARA M.B.O – IÊDA OLIVEIRA HOMENAGEIA M.B.O. – PRAÇA DA INGLATERRA (RUA ESTADOS UNIDOS)
Através de um jogo de amarelinha e de 15 cavalinhos de aço, Iêda Oliveira montou o Haras para M.B.O, uma instalação para que as pessoas reflitam sobre a presença da cultura popular em nosso dia a dia, e possam participar e interagir com as obras que estão na Praça da Inglaterra.
A artista acredita que o projeto RUA requalifica o Comércio, bairro de extrema importância histórica para o desenvolvimento de Salvador e está especialmente feliz por poder homenagear seu pai, o artista naif M.B.O., que faleceu há três anos e que é uma referência artística e humana importantíssima para Iêda. Os cavalinhos já estão na vida de Iêda desde 2001 e são uma lembrança viva dos momentos de sua infância quando sua família ia em romaria até Milagres, na Chapada Diamantina e ela se deparava com a beleza dos cenários montados pelos fotógrafos ambulantes que ficavam à disposição nas praças para fotografar os romeiros.
“Me interesso muito por essa aproximação com a cultura popular. Faz parte das minhas raízes, das minhas vivência em Santo Antônio de Jesus, na localidade de Varzejo, onde tive muitas experiências ligadas às festas populares. A ideia de homenagear outro artista, M.B.O., meu pai, a pessoa mais importante na minha vida, grande articulador de me lançar no mundo para que eu pudesse realizar o sonho de ser artista me deixa ainda mais feliz, uma felicidade que não consigo descrever. Ele está sempre comigo em todos os meus trabalhos. É uma conexão de amor, uma lembrança viva”, declara a artista.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Iêda Oliveira no RUA – “A instalação Haras para M.B.O transporta a praça da Inglaterra para outro espaço e outro tempo. Uma viagem que nos leva diretamente ao universo das praças e parques de diversão do interior, mas que antigamente também eram vistos na capital.
A cultura popular é a fonte de inspiração para a artista visual Ieda Oliveira, que ressignifica seus elementos por meio de conceitos contemporâneos, como interatividade e serialidade. A instalação que a artista concebeu para o projeto RUA – Roteiro de Arte Urbana homenageia artistas e artesões populares baianos na figura de M.B.O., que além de ter sido um importante pintor naif, era seu pai.
Apesar de ter sido inspirada culturalmente pelo ambiente no qual foi criada, foi Ieda quem influenciou o pai a se tornar artista ou talvez o tenha convencido de que sempre foi um. A proposta de Haras para M.B.O é que as pessoas reflitam sobre a presença da cultura popular em nosso dia a dia, mas que também participem e interajam com as obras e se tornem coautores da mesmas.”
ÁREA 6 – MATERNOS – ZUARTE HOMENAGEIA REINALDO ECKENBERG -PRAÇA DA INGLATERRA (AV. MIGUEL CALMON) – Ainda na Praça da Inglaterra, o projeto Maternos reúne um conjunto de cinco esculturas em fibra de vidro e resina poliéster que o artista plástico Zuarte Júnior, criou homenageando o artista Ekhenberger.
O Maternos é baseado na última fase de produção de Ekhenberger, do que ele chamou de Esquitshofrenia, uma combinação das palavras Esquizofrenia e Kitsh, criando objetos híbridos, bibelôs estranhos, a partir da cerâmica e de objetos kitsh. Zuarte se apoia nessa carga do artista e na nossa cerâmica popular, como sustentáculo para as esculturas. Tirando partido da atmosfera híbrida, edipiana, barroca e surreal, ingredientes do universo do artista Ekhenberger, procurando manter a carga dramática, a insinuação sensual, o cômico e o lúdico, elementos preponderantes na sua obra.
A figura da mãe se fazia presente no trabalho de Ekhenberger, por isso o título desse projeto. Como Ekhenberger, Zuarte procurou dar nomes também humorados à cada uma das esculturas, como: Mama Esfinge, Édipo em Cacarecos, Acendam as Cabeças, Santo e Espanto.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Zuarte no RUA – “A primeira vista, a série de cinco esculturas Maternos causa uma estranheza ao espectador. Figuras antropomórficas que se fundem com utensílios de uso cotidiano em uma colagem improvável cheia de curvas deformadas. Aos poucos, o humor das composições se sobressai e inicia-se um processo de aproximação afetiva com os personagens, que parecem afinal terem vindo de outro planeta.
Em verdade, as obras foram inspiradas nas figuras surrealistas de Reinaldo Eckenberg, artista que modelava sonhos e mesmo os que pareciam pesadelos eram carregados de muito humor. Para homenagear o artista, Zuarte mergulhou no universo psicodélico kitsch do imaginário de Eckenberg para criar a série de Maternos, no âmbito do projeto RUA – Roteiro de Arte Urbana.
Com uma trajetória que transita entre as artes visuais e a cenografia, Zuarte consegue compartilhar sentimentos criativos com grande rigor formal e generosidade. O artista se apropria de uma estética que conviveu, absorvendo e transformando, criando uma espécie de antropofagia “eckenberguiana”.
ÁREA 7 – LÁGRIMAS – VINICIUS S.A. HOMENAGEIA RUBEM VALENTIN – RUA DA GRÉCIA
Lâmpadas cheias de água simulam uma chuva suspensa no ar e convidam o público a uma interação lúdica. A exposição “Lágrimas de São Pedro” já passou pela Alemanha, EUA, capitais brasileiras como Recife, Curitiba, Brasília, Rio de Janeiro e agora em Salvador pode ser vista na Rua da Grécia.
“Proponho nesse trabalho a criação de um ambiente onde o espectador penetra, envolvendo-se espacialmente com a obra, possibilitando a interação entre arte e fruidor de maneira mais abrangente. Neste caso é como se tivéssemos o poder de pausar a chuva, uma chuva de gotas grandes, limpas, transparentes, leves e com isso poder contemplar sua beleza, seu poder, seu símbolo, sua necessidade”, afirma Vinícius.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Vinícius S.A. no RUA – “A instalação Lágrimas de Vinicius S.A. nos transporta para uma dimensão onde o tempo e o espaço parecem ter congelado diante de nossos olhos. Um portal feito de elementos cotidianos, como lâmpadas de vidro, nylon e água, que criam uma atmosfera imersiva mística e envolvente.
A beleza formal da composição é realçada pela incidência da luminosidade que rasga o cacho de vidro como um feixe de energia viva e presente no local. Lágrimas ativa uma sensação etérea pacificadora supra-religiosa que faz refletir sobre a necessidade de desacelerar para puder desfrutar o momento presente.
A instalação concebida no âmbito do projeto RUA – Roteiro de Arte Urbana é uma homenagem ao artista Rubem Valentin. As aproximações entre ambos artistas encontram-se na relação que possuem com a espiritualidade, na preocupação formal e na capacidade de manipularem o espaço e o tempo com suas obras.
ÁREA 8 – CONEXÃO GRAFFITI – BIGOD, JÚLIO e PRISK (COLETIVO MUSAS) – AVENIDA DA FRANÇA, AVENIDA ESTADOS UNIDOS, RUA MIGUEL CALMON E RUA CONSELHEIRO DANTAS – Conectando todo o circuito RUA o artista visual e grafiteiro, Bigod, criou o “Conexão Grafite” e espalhou por todo o trajeto grafites em postes, bancos, piquetes, em diálogo com todas as obras e seus conceitos dando a todo o caminho a ludicidade e gritando criatividade.
“Eu e minha equipe demos uma volta pelo circuito e ficamos imaginando como podíamos fazer a ligação entre as obras de arte”, diz Bigod. “Uma das ideias foram as linhas coloridas feitas no chão – os esticados – caraterística forte da pichação de Salvador, conhecida no Brasil inteiro”, explica ele. Mas além dos esticados, o que acabou acontecendo é que Bigod e sua equipe pintaram muitos “obstáculos” encontrados pela frente como as caixas de luz que hoje têm a cara de uma carranca e…de Bob Esponja. “Fomos transformando objetos em personagem de desenho, pegando obstáculos e colorindo pelo circuito, seguindo o fluxo e tentando dialogar com cada obra. Tivemos a preocupação de não deixar a ligação ficar desconexa. O que eu mais queria era que todos os artistas se destacassem, que as pessoas olhassem o caminho e seguissem as linhas coloridas. O grafite sempre tem este diálogo com a rua, seja nos muros, postes caixa de lixo, ele tem sempre essa mobilidade, destaca Bigod.
Curador Daniel Rangel fala sobre o trabalho de Bigod no RUA
As intervenções em grafite de Bigod realizam a conexão entre as sete instalações de site specific do RUA – Roteiro Urbano de Arte. Linhas coloridas demarcam o percurso, enquanto postes, bancos, caixas de telefonia e outros elementos do mobiliário urbano estão envelopados com cores e figuras carregadas de humor. Um caminho colorido que nos coloca diante de uma nova paisagem urbana onde a arte se torna componente fundamental.
*Imagens: Fotografia © Erivan Morais