Museu Wanderley Pinho, na Bahia, comemora 50 anos com obras de requalificação

 

No seu aniversário de 50 anos (completado em 15/02/21), o Museu Wanderley Pinho (foto), localizado em Caboto (Candeias/BA), comemora o andamento do projeto de restauração de todo o seu complexo que inclui o casarão, a fábrica, o atracadouro e toda a área urbanística do local. As obras, que são executadas com recursos do Prodetur Nacional Bahia, através de financiamento do BID, no valor de R$ 27 milhões, fazem parte de um conjunto de intervenções que estão sendo realizadas no entorno da Baía de Todos-os-Santos, sob a responsabilidade da Secretaria de Turismo do Estado, que resultará na requalificação do turismo náutico e cultural da maior baía do Brasil.

O projeto de recuperação contempla a urbanização e revitalização de toda a estrutura do antigo Engenho Freguesia (como era chamado o complexo), hoje Museu Wanderley Pinho – um importante equipamento cultural que conta a história da Bahia e do Brasil a partir do século XVI. Com um acervo de mais de 200 peças e achados arqueológicos que remetem ao ciclo do açúcar, o museu ocupa um casarão de quatro andares, 55 cômodos e a capela. Tombado como patrimônio nacional pelo IPHAN, a construção possui grande importância arquitetônica e cultural, sendo administrado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

 “Nós temos aqui este patrimônio que é a Baía de Todos-os-Santos, mas faltava uma infraestrutura adequada para que barcos de várias procedências pudessem circular e atracar com conforto e segurança nos municípios que compõem o seu entorno e desfrutar dessas belezas naturais. E no caso específico da revitalização do Museu Wanderley Pinho vamos aliar o turismo náutico ao cultural. É um equipamento que conta não apenas a história do Recôncavo Baiano, mas também do Brasil. Esta requalificação nos permitirá resgatar a originalidade desse museu. Temos planos de futuramente construir restaurantes, hotéis e lojas de artesanato para valorizar nosso patrimônio e turismo”, informou o secretário de Turismo do Estado, Fausto Franco.

 João Carlos de Oliveira, diretor geral do IPAC, reforça que o museu será um importante atrativo cultural da Baía de Todos-os-Santos e destacou a evolução das obras do atracadouro como fundamental para se ter mais uma forma de acesso ao museu, e que será também um ambiente para realização de grandes eventos, o que tornará o equipamento autossustentável.

 “Compreendendo a importância de trabalhar de forma integrada com as comunidades do entorno do museu, foram realizadas ao longo desses 15 anos reuniões com moradores de Caboto, Passé e de Ilha de Maré com objetivo de estabelecer um diálogo com eles sobre as questões históricas, culturais e ambientais presentes no sítio histórico. A participação da comunidade resultou na elaboração e execução de atividades socioculturais e educativas e também em reuniões convocadas pelo IPAC e pela Setur para que os moradores tivessem conhecimento do projeto de recuperação física do conjunto arquitetônico, do projeto expográfico e do plano museológico”, explicou Fátima Santos, da Diretoria de Museus do IPAC.

 “Nunca perdi uma reunião aqui.. Agora parece que estou sonhando acordado. Enquanto quilombola e lembrando de todo o sofrimento que nossos antepassados viveram, posso dizer que é um orgulho participar de um projeto desses que é fundamental, não somente para nós, mas para todo o Recôncavo”, declarou Ernandes Carlos Lopes, 77 anos, de Ilha de Maré.

 “É com grande felicidade que vemos o que está sendo feito. Esperamos que nossa comunidade seja incluída num processo de qualificação para poder continuar trabalhando aqui e também estar preparada para o aumento do turismo em nossa região”, disse a presidente da Associação Comunitária Amigos do Caboto, Fernanda Pita. “Estas obras já estão trazendo benefícios para a região porque muita gente que está trabalhando é daqui. Esperamos que, com o museu aberto, estas oportunidades de trabalho continuem”, informou Carlos Bispo da Silva, o “Oscar”, representante da comunidade de Madeira.

Mão de obra local

Dos 146 funcionários que estão trabalhando no projeto de restauro e requalificação do Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, 110 são das comunidades do entorno, como Caboto, Candeias, Caroba, Ilha de Maré, Madeira, Passé e Passagem dos Teixeiras. Os funcionários são contratados diretamente pelo Consórcio Engenho Freguesia (101 pessoas) e terceirizados de empresas parceiras (45 pessoas).

Mas o número de pessoas envolvidas no projeto pode ser maior. “Além dos empregos diretos, tem os indiretos e também os provocados pela locação de casas e compra de alimentos em Caboto. Temos, por exemplo, 28 pessoas de fora que moram em alojamentos do consórcio em casas alugadas em Caboto, entre profissionais e especialistas em restauro”, explica Sérgio Mehlen, arquiteto responsável pela obra.

“Dentre os contratados das comunidades, alguns exemplos chamam a atenção, pois são pessoas que foram contratadas como serventes e logo foram promovidas e, com isso, também estão aprendendo novas atividades, inclusive na área de restauro que vem sendo de forma cuidadosa e minuciosa, principalmente por se tratar de um patrimônio dessa importância”, informa Cristiano Lopes, coordenador de restauro da obra.

De Ilha de Maré, Jeferson Santos da Silva, 21 anos, é um deles. Trabalhava como pescador e está muito grato por estar na obra, agora como auxiliar de restauro. “Quando o museu estiver pronto quero vir aqui e olhar para tudo isso que eu estou fazendo parte”. No ateliê de restauro, Soraia Almeida, museóloga residente em Cachoeira (BA) é uma das técnicas em restauro trabalhando nas pinturas sobre madeira na face do altar-mor da capela. “Não conhecia o museu, mas tinha curiosidade. Estou encantada com o trabalho, pois este espaço é fundamental para a história da Bahia e é um espaço museal incrível. No momento estou removendo toda a sujeira das peças, com muito cuidado, usando aguarrás e bisturi. Depois vêm os retoques necessários”.

Railson Cotias, sócio-diretor da Arqueólogos Pesquisa e Consultoria Arqueológica, informa que foram achados artefatos que também podem auxiliar na interpretação do contexto: fragmentos de objetos cerâmicos, classificados como cerâmica comum utilitária, faiança fina e porcelanas, vidros e metais, além de fragmentos cerâmicos que podem estar associados ao contexto de produção do açúcar.

“É necessário destacar a importância da equipe em virtude da necessidade de examinar, caracterizar e salvaguardar informações da cultura material existentes na área do museu”, acrescentou o arqueólogo. Os materiais coletados durante a pesquisa são higienizados e catalogados, para que posteriormente ocorra a análise e interpretação. Por fim, eles são enviados ao Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UNEB, no município de Senhor do Bonfim, devidamente autorizado pelo IPHAN, onde são acondicionados de modo seguro. Estes materiais podem compor a futura reserva técnica do museu.

O museu

Erguido no século XVI, à margem da Baía de Todos-os-Santos, em Candeias, o antigo Engenho Freguesia foi transformado no Museu do Recôncavo Wanderley Pinho em 1971 devido ao seu valor histórico e a sua importância para a região do Recôncavo Baiano. Trata-se de um dos principais símbolos arquitetônico-paisagísticos do Brasil colonial. Construído em terras doadas pelo então Governador-Geral do Brasil, Mem de Sá, o casarão foi alvo das invasões holandesas, em 1624, e vivenciou momentos de apogeu na produção de açúcar até a segunda metade do século XIX. Seu conjunto arquitetônico inclui casa grande com 55 cômodos, fábrica e capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição da Freguesia. José Wanderley de Araújo Pinho (1890-1967), que dá nome ao museu, foi proprietário do engenho e, como deputado federal, apresentou ao Congresso, em 1930, um projeto de lei de proteção dos bens móveis e imóveis de valor artístico e histórico que resultou na criação do atual IPHAN. Atualmente, devido à realização de obras para recuperação física do seu conjunto arquitetônico, o Museu do Recôncavo Wanderley Pinho está fechado para visitação. O Museu do Recôncavo Wanderley de Pinho integra o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), unidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA).

*Fonte: Setur-BA; Fotos: Fernando Barbosa 

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