Música poético-afro-baiana, rock progressivo, freejazz, um power trio não convencional: a banda Ofá, formada por Luan Tavares (violão e voz), Paulo Roberto Pitta (saxofone e sintetizador) e João Paulo Rangel (bateria), vai lançar o seu primeiro disco, “Leito d’Água”, no próximo mês de abril. Com uma trajetória iniciada em 2015 e tendo sido apontado em 2020 como um dos promissores nomes da música da Bahia, o grupo consolida seu posicionamento artístico em um álbum de oito faixas, com produção musical de Edbrass Brasil, fazendo uma imersão no universo estético e conceitual dos orixás. O trabalho, gravado no Estúdio Casa das Máquinas, em Salvador, está em fase final de produção e será disponibilizado gratuitamente nas plataformas de streaming.
Com menção ao instrumento de Oxóssi, orixá caçador, “Ofá” simboliza fartura, prosperidade, equilíbrio e cuidado com o outro, com o alimento e a natureza. Tratando conteúdos como altruísmo, amor, autoconhecimento, resistência e ancestralidade, a atmosfera musical reúne, entre as suas principais referências, a música de matriz africana, que atua acionando o corpo e a memória de uma identidade ignorada pelas bases racistas que formaram a sociedade brasileira; a poesia, que traz à tona a oralidade e se aproxima da natureza poética do português brasileiro; o rock progressivo e o freejazz, que formatam paisagens sonoras em timbres, melodias, arranjos e texturas. Como resultado, que ainda expressa formas não tão ortodoxas e tradicionais de tocar os instrumentos e usa de recursos tecnológicos de alteração de sonoridade, a Ofá dá um salto no quesito autenticidade.
Depois do EP “Além e mais” (2015), lançado através do projeto Incubadora Sonora, e construindo sua carreira nos ambientes da música independente soteropolitana, a Ofá chega ao seu primeiro disco após dois anos de pesquisa e experimentação, que envolveram estudos etnomusicológicos e composicionais. A criação das músicas se orienta pelos conhecimentos sobre a religião e a cultura afro-baianas, afirmando e celebrando a importância destes elementos para a formação da identidade do povo brasileiro.
Nas letras, o universo dos orixás é abordado de forma contemporânea, demonstrando como os ensinamentos dessa filosofia são úteis e aplicáveis a qualquer momento da história: é ancestral, é tradição, mas é também vivo, atemporal e acessível. No alicerce, a Ofá se compromete a apresentar um trabalho ético e referenciado, que questiona estruturas sociais e adiciona ao cenário musical da Bahia mais um repertório de honestidade artística e intelectual.
O projeto “Ofá:Leito d’Água” tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.