Brasil deve olhar para bons exemplos para melhorar o turismo nacional e internacional

Em tempos de outrora, a recuperação econômica de um país geralmente passava pelo ramo industrial. Com a reativação de campos fabris, a construção de novas cadeias de produção e programas para colocar dinheiro no bolso de consumidores em potencial, a economia voltava a se aquecer e seguir seu caminho “natural” após um choque adverso. Entretanto, os tempos de hoje são outros.

Países como a Costa Rica promovem sua riqueza natural e cultural em canais de televisão por assinatura. (Crédito: Getty Images)

 

Enquanto os avanços logísticos levaram países como o Brasil a perder boa parte desse potencial industrial, fomos compensados com a capacidade atual de atravessar grandes distâncias através de aviões e navios. Estes veículos de grande porte servem tanto para transportar nossos produtos de um canto a outro do planeta como para nos transportar a lugares antes tidos como inalcançáveis, fosse por questões puramente logísticas ou meramente financeiras.

Com isso, a indústria do turismo virou o foco de países desenvolvidos e também de países em desenvolvimento para fazer a economia continuar a fluir de maneira constante e harmônica. O Brasil, com suas dimensões continentais e riquezas naturais de dar inveja a nações de porte semelhante, é um dos destinos favoritos dos viajantes, com 6,3 milhões de estrangeiros visitando o país em 2019. Isso teve um efeito tremendo na geração de empregos do setor, com um aumento de 330% em vagas formais dentro da indústria do turismo entre outubro de 2018 e 2019.

Em 2018, ano que foi o auge da indústria até aqui, o turismo teve contribuição de 8,1% ao produto interno bruto brasileiro por meio dos 152 bilhões de dólares arrecadados pelo setor. Uma quantia maior do que o PIB da Argélia, país do norte da África com quase 45 milhões de habitantes, em 2020.

É bem óbvio, no entanto, que o Brasil tem total capacidade de melhorar – e muito – tais estatísticas, algo que já vem sendo cogitado há alguns anos por órgãos oficiais como a Embratur. Seguindo o exemplo de outras nações mundo afora que fizeram do turismo um dos principais atores da sua economia, o país tem caminhos concretos que podem ser implementados em curto e médio prazo para gerar ganhos para a esfera pública e privada, e consequentemente para a população como um todo.

Espera-se que em 2022 Portugal tenha crescimento econômico por volta dos 5% – Lisboa, capital de Portugal (Crédito: DT). 

Um pacote de iniciativas para impulsionar o turismo no Brasil

O marketing é a alma de (quase) todo bom negócio. E no turismo isso não é diferente. Quem assiste a canais de televisão por assinatura já viu comerciais de países da América Latina, como Costa Rica e Colômbia, e até de alguns países europeus que fazem campanhas de marketing no mundo inteiro com a meta de atrair para si a atenção – e consequentemente a visita – de turistas estrangeiros.

Essas campanhas também são feitas pelo Brasil, ainda que com menos intensidade do que em anos de outrora. Além disso, governos federal e estaduais investem também em comerciais que procuram incentivar o turismo nacional, uma vez que a circulação interna de dinheiro através do turismo serve como um excelente catalisador de desenvolvimento regional – principalmente em regiões que não são tão bem favorecidas, como aquelas que se encontram em grande parte no sudeste e no sul do país.

A nível mais concreto e direto, iniciativas privada e pública podem se unir para criar roteiros de visita a cidadãos estrangeiros que estejam dispostos a explorar o Brasil em seu nível mais “interno”, como, por exemplo, por meio de visitas a parques de proteção ambiental. Tais parques muitas vezes se encontram em estados do norte e do nordeste do país que precisam incrementar suas economias para além de atividades agropecuárias. E o turismo pode servir como o complemento perfeito a estas atividades, ainda mais se tiver um toque de sustentabilidade.

As cidades litorâneas, que hoje são o principal destino dos turistas estrangeiros, também podem ser fomentadas ainda mais. Para estas localidades, um excelente complemento às atividades turísticas que já são desenvolvidas ali é a construção de cassinos resort. Estas estruturas, como sabemos, são famosas em lugares como Las Vegas, nos Estados Unidos, e Macau, na China, por serem excelentes polos turísticos.

Para se ter uma ideia do potencial desse mercado, em 2019 Las Vegas registrou 42,5 milhões de visitantes e cerca de 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo costumam acessar sites que oferecem modalidades diversas de cassino, indo desde jogos de mesa mais tradicionais, como blackjack online (vinte e um) e roleta, aos caça-níqueis – ícones dessa indústria. Partindo desses números, é possível perceber que os cassinos resort no país poderiam muito bem servir como forma de aumentar a quantidade de viajantes em território nacional, o que inevitavelmente envolveria também o crescimento dos setores de hotelaria, agências de viagens, linhas aéreas e cruzeiros. A consequência disso é geralmente a arrecadação de boas quantias para governos e a criação de um grande número de empregos. Nos Estados Unidos, a indústria de cassinos resort e suas várias contrapartes foram avaliadas em 261 bilhões de dólares, com quase 2 milhões de empregos tendo sido gerados pelo mercado.

Bons exemplos no outro lado do Atlântico

Pode ser difícil seguir tais caminhos quando se é um pioneiro. O Brasil, no entanto, não seria um pioneiro nestas iniciativas, uma vez que muitos outros países já seguiram o caminho de investir boa parte dos seus recursos no turismo. Entre estes, um dos melhores exemplos vem de Portugal.

O país europeu foi gravemente afetado pela crise de 2008 e sofreu mais ainda entre 2011 e 2013 por conta de crises bancárias. A maneira encontrada para uma rápida recuperação econômica foi investir nas riquezas urbanas e rurais do país, o que incluiu grandes centros, como Lisboa e Porto, e também locais interioranos nas regiões do Algarve e Alentejo. Resultou que em 2018 o turismo teve impacto de 19% sobre o PIB de Portugal – a quinta melhor marca alcançada mundialmente. Na Europa, apenas a Grécia possuía um impacto turístico maior.

Espera-se que em 2022 Portugal tenha crescimento econômico por volta dos 5%. Grande parte desse crescimento virá a partir da recuperação das atividades turísticas no país, principalmente no turismo urbano, que foi altamente afetado no ano passado. A expectativa é de voltar a atrair ou até superar os 25 milhões de turistas estrangeiros que vieram para Portugal em 2019 – quase quatro vezes mais do que a marca alcançada pelo Brasil no mesmo ano.

Assim sendo, por que não olhar para Portugal e usar o país como exemplo de iniciativas a serem seguidas para que efeitos semelhantes possam ser produzidos no Brasil? Ainda que sejam necessárias adaptações devido a questões logísticas e geográficas, o que deu certo em Portugal certamente tem potencial de funcionar por aqui também.

*Fonte: Diário do Turismo 

 

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