Setor de viagens “antecipa“ o futuro com touchless, biometria e passaporte digital

Por Igor Regis

Touchless, biometria e passaporte digital de saúde. Estes são termos que devem ganhar cada vez mais destaque no mercado de viagens ao longo dos próximos anos. Processos que seriam implantados até o fim da década tendem a ser antecipados por conta da pandemia de Covid-19. A indústria da aviação é vista como uma possível pioneira destes avanços, que posteriormente tendem a se multiplicar para outros setores. Este passo rumo ao futuro foca em facilitar processos, melhorar a experiência e garantir mais segurança, mas esbarra no desafio da segurança de dados.

Estes avanços e desafios em meio ao cenário provocado pela pandemia foram os temas do painel promovido pela Amadeus na manhã desta terça-feira (27). O evento virtual reuniu representantes do governo federal e entidades representativas do setor de aviação e do turismo para debater as tendências. O encontro foi mediado por Gustavo Murad, diretor regional de aeroportos da Amadeus.

Esta necessidade de um avanço tecnológico acelerado em virtude do cenário atual foi destaque da fala do diretor para as Américas da Associação Internacional do transporte Aéreo (IATA), Felipe Reis. Ele apontou três pilares, que consistem em desafios que a gente tem são de curtíssimo prazo, curto prazo e médio a longo prazo. O mais urgente, como já debatido no setor, é a criação de um passaporte digital.

“O de curtíssimo é conseguir que os países emitam o passaporte de saúde, com vacina ou teste de Covid, em formato digital. Para ter ideia Londres trabalha hoje em dia com 100% do staff para atender 20% dos passageiros. Então é preciso ganhar escala com algum documento eletrônico”, ressaltou o diretor da IATA.

Cumprida esta etapa, Reis indica que os próximos passos da indústria serão no sentido de tecnologias touchless, que reduzirão o contato físico no embarque, despachos de bagagem e em outros processos. Na esteira desta evolução está também o último pilar, que é a universalização da biometria.

“Ninguém quer mais entregar documento e ficar tocando em nada. Isso vai se adiantar em função da pandemia e é o caminho que vamos perseguir. E o objetivo final é caminhar para biometria, que vai ser a grande chave do futuro. Esperávamos ter um processo mais driveado por biometria no final dessa década e isso vai ter que acontecer nos próximos dois ou três anos. Uma série de projetos da indústria terão que ser adiantados”, completa.

Lufthansa é a primeira linha aérea a substituir cartões de embarque por câmeras em voos em Miami

Embarque por biometria da Lufthansa em Miami. Companhia foi a primeira aérea a substituir cartões de embarque por câmeras em voos na cidade.

‘EMBARQUE + SEGURO’ NO BRASIL

Esta linha de evolução já está no radar do governo federal, que já colocou em prática a  chamado ‘Embarque + Seguro’, que consiste na verificação biométrica dos passageiros para embarque. A inciativa já contou com testes nos aeroportos de Florianópolis e Salvador, utilizando motores de busca e verificação do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) para fazer o reconhecimento facial.

O coordenador-geral da Departamento de Planejamento e Gestão da Secretaria Nacional de Aviação Civil, Paulo Henrique Possas, destacou que essa integração alcançada com o motor da Serpro era o grande desafio para a implantação de um sistema como este em escala.

“Quando a gente consegue integrar a cadeia, conseguimos bons resultados. Você tira a foto no check-in do aplicativo, o mecanismo do Serpro vai nas bases governamentais fazer o reconhecimento, e na entrada da área segura toda a sua experiência é com base nessa informação, tanto pra acesso a área restrita quanto para embarque na aeronave”, explica o coordenador geral.

Embarque biométrico no Aeroporto de Salvador teve início nesta segunda-feira (14)

Embarque biométrico no Aeroporto de Salvador iniciado em dezembro do ano passado.

A ideia é não só usar a ferramenta para simplificar o embarque e garantir um processo mais confiável de checagem da identidade, mas também criar experiências personalizadas, com base nas informações pessoais. O grande desafio em meio a estas tecnologias é garantir a segurança de dados.

“Quando a gente consegue um grande avanço com a tecnologia nós temos outras fragilidades, como vazamentos de informação e ciber ataques. É um desafio que temos que equacionar, mas a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados é um framework legal que nos traz mais segurança no tratamento dessas informações. Nosso projeto biométrico é baseado na LGPD, que é um fundamento que consideramos importantes”, ressalta Possas.

TECNOLOGIA JÁ EXISTE

Decius Valmorbida, presidente da unidade de Viagens da Amadeus, trouxe ao debate o fato de que as tecnologias para estes avanços já existem. O executivo apontou que reproduzir os modelos em escala e atingir uma integração serão os maiores desafios para garantir este avanço do setor de viagens.

“A IATA já desenvolveu um ID para passageiros e vários outros provedores já disponibilizam, já existem, governos com certificados digitais e companhias aéreas já estão integrando processos em aeroportos, adicionando a questão da segurança das bagagens e o auto check-in. Uma questão é a escala. Isto está em uma rota, ou um aeroporto e precisamos trazer isso para um mundo inteiro. A outra é a ausência de um padrão e aí a tecnologia entra pra ajudar nisso. Vai ter um padrão e enquanto isso cabe a tecnologia simplificar e trazer todas as iniciativas de forma transparente para o usuário integrando o mundo inteiro, até para trazer este padrão e reduzir custos”, analisou.

Os passos da implementação da tecnologia do setor de viagens

IMPACTO COVID

Além do futuro, o painel debateu também o presente e o cenário do mercado após 14 meses de pandemia. Quem abriu o debate sobre o panorama global do setor foi Felipe Reis, da IATA, que abordou os impactos na América Latina e Caribe . De acordo com dados da entidade, onúmero de empregos diretos e indiretos da indústria na região caiu 52%, de 7,6 milhões para 3,7 milhões na comparação 2019 para 2020.

O impacto financeiro caiu pela metade (50%), de US$ 187 bilhões para US$ 93 bilhões. Em abril de 2019, a região tinha 1.780 rotas internacionais, caindo para 1.419 em dezembro de 2020. “Se não fossem, eventualmente, os governos na maioria dos países do mundo terem oferecido algum tipo de ajuda, seguramente teríamos muito mais quebras do que a gente teve nos 14 meses de pandemia. Infelizmente não a gente não descarta que outras quebras possam ocorrer, por isso trabalhamos com os governos para criar mecanismos para que isso ocorra”, explicou Felipe Reis.

Impactos da pandemia na aviação em 2020. (Fonte: IATA)

Impactos da pandemia na aviação em 2020. (Fonte: IATA)

Ajuda financeira fui justamente um dos pontos destacados na fala do presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas, Eduardo Sanovicz, que apontou a falta de aportes e linhas de crédito como um dos pontos sensíveis desta atuação governamental no Brasil durante a pandemia. O setor não conseguiu chegar a um consenso sobre os moldes de uma linha de crédito via BNDES e, além disso, não contou com apoio financeiro como aconteceu com aéreas nas principais economias. “Dos 20 maiores grupos de aviação do mundo, 17 foram objeto de alguma decisão por parte de seu governo”, ressaltou, citando exemplos de Estados Unidos, França e Alemanha.

O presidente da Abear, no entanto, destacou a atuação do setor público em aspectos regulatórios, essenciais para aliviar os impactos da crise. Entre as ações, destaca-se a decisão de não restringir voos, com a implementação da malha essencial, o subsídio estacionamento de aeronaves nos pátios da Infraero, a flexibilização dos pagamentos de taxas ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), a elaboração de protocolos junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, principalmente, a edição da MP 925, que estabeleceu um prazo de 12 meses para a reembolso, além de sua transformação na 14.034, que garantiu mais segurança jurídica para o setor.

Sanovicz tabém apontou para a expectativa de uma retomada no último bimestre do ano, que está atrelada a variavel da vacinação em massa. “A vacinação em massa tem que se tornar um fato no Brasil para no mínimo 100 milhões de pessoas, para que isso possa gerar uma sensação de conforto e segurança para que as pessoas retornam às suas atividades. Outra é o impacto que isso terá no avanço da economia. Com a recuperação de atividades em diversos segmentos nós vamos ter um retorno de demanda”, afirmou.

Operação de Azul, Gol e Latam por estado (Fonte: Anac)

Malha essencial implantada no fim de março de 2020 (Fonte: Anac)

CORPORATIVO E NOVO MERCADO

Principal mercado da aviação comercial, o corporativo foi certamente o mais afetado pela pandemia. A adesão ao home office e às apresentações virtuais, além das restrições contribuíram para uma tendência mais lenta de retomada. Para Sanovicz, a recuperação deste setor será mais lenta e tende, com menos viagens curtas e rápidas devido à virtualização das reuniões. Para ele a retomada deste segmento virá acompanhada da retomada dos eventos, como feiras, congressos e convenções.

Ela também destacou o surgimento de um novo mercado, que engloba profissionais de viajam com a família a lazer fora do período de férias, devido ao crescimento do trabalho home office.

Já o presidente executivo, Gervásio Tanabe, corroborou o impacto nas viagens curtas, mas afirmou que crê que os impactos da virtualização se restrinjam a treinamentos e que com o avanço da vacinação, congressos não serão afetados. “Eventos vão voltar num menor grau? Inicialmente sim. Mas esse movimento vai começar a vir na medida que ocorra vacinação em massa e a gente continua fazer uma medição. Com isso e os protocolos acredito que as pessoas terão mais confiança”, analisou.

*Fonte: mercado&eventos; Fotos: divulgação

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