Aeroporto de Salvador está pronto para a retomada da atividade turística

Por Donaldson Gomes

O turismo mundial deve experimentar um movimento semelhante ao que se registrou após a gripe espanhola no início do século passado, acredita o diretor-presidente do Salvador Bahia Airport, Júlio Ribas. “As pessoas tinham vivido um período em que tudo era incerto, morreram milhões e milhões de pessoas, seja pela guerra ou pela gripe espanhola e depois disso, o que elas mais queriam era aproveitar a vida”, destaca.

“Minha impressão é a seguinte, as famílias que faziam uma viagem por ano a lazer, vão fazer duas ou três. Vão desviar gastos de outras coisas para viver experiências com suas famílias e as pessoas que amam. E o tráfego aéreo é importante para isso”, destaca. “O cheiro de um carro novo é bom, mas o cheiro de um acarajé quentinho, próximo a uma praia é melhor ainda”, comparou Ribas, no programa Política & Economia veiculado ontem, durante entrevista ao jornalista Donaldson Gomes, editor do CORREIO.

 

 

Segundo Júlio Ribas (foto), o aeroporto, que é administrado pela Vinci Airports está pronto para a retomada da atividade turística. Desde que assumiu a administração do Aeroporto Internacional de Salvador, a Vinci já investiu R$ 700 milhões em melhorias no local, sendo R$ 600 milhões em obrigações contratuais e R$ 100 milhões em obras que a empresa avaliou serem necessárias. “Não há obras pendentes, mas muitas vezes avaliamos que há necessidade de fazer algo mais para termos um processo de melhorias contínuas”, explica.

A pandemia do novo coronavírus provocou uma queda no número de embarques no Aeroporto de Salvador de 10 mil passageiros por dia para 354 em março do ano passado. “Menos de 4%”, lembra Júlio Ribas. Segundo ele, este cenário demandou uma reestruturação na operação, com um “encolhimento” do terminal.

“Pensamos, o que vamos fazer neste período? Decidimos fazer mais melhorias. A gente atacou algumas obras adicionais que precisávamos fazer na pista, terminamos a nossa unidade de geração de eletricidade por energia solar, fizemos outras melhorias e muitas coisas. A gente trabalhou mais”, conta. Além disso, a Vinci continuou investindo na busca de novas rotas e empresas para operarem por Salvador.

Hub da Gol
Um resultado, lembra Ribas, já pode ser notado. Em janeiro de 2019, a Gol Linhas Aéreas tinha 13 destinos a partir de Salvador. Este ano, o número aumentou para 25. “A Gol estabeleceu um hub, uma operação de conexões aqui em Salvador. Antes a gente tinha não apenas 13 destinos, mas 13 origens”, lembra. “Com 25, a gente dobra a oportunidade de desenvolvimento turístico porque você pode atrair turistas de Curitiba, Porto Alegre, São Luiz, Teresina, Palmas, que antes poderiam hesitavam vir para cá por conta das escalas. Vou direto faz uma diferença enorme”, acredita.

Para o diretor-presidente do Salvador Bahia Airport, há bastante espaço para o desenvolvimento do hub da Gol em Salvador. “A Gol atende mais 70 aeroportos comerciais no Brasil. Se a gente está conectando com 25, isso já dá uma ideia do potencial de crescimento. Hoje cobrimos um terço, o que já é muito bom. Para se ter uma ideia, Fortaleza está cobrindo 10 destinos”, compara com a capital cearense, que era o hub anterior da companhia aérea.

A partir do Aeroporto de Salvador, por exemplo, é possível viajar com a companhia para vários destinos do país. Foto: Will Recarey

“A gente quer cobrir melhor o Norte do Brasil, o Sul já tem uma cobertura interessante, mas quem sabe não conseguimos o Trans Praias, com Salvador e Florianópolis, mas essas coisas vão acontecendo aos poucos porque precisamos de linhas que funcionem bem”, explica. “Se na pandemia a companhia consegue manter 25 voos, é possível que isso vá melhorar muito quando o cenário se normalizar”.

Outra expectativa positiva para o aeroporto é a companhia Ita, do grupo Itapemirim. A empresa está comprando aeronaves aos poucos. “Já recebemos um voo de certificação com o pessoal da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Eles evidentemente fazem esses voos para destinos que eles avaliam como possíveis rotas. Tudo caminha para Salvador receber uma rota para Guarulhos”, diz.

Voos internacionais

Além dos três voos semanais da portuguesa TAP, retomados em abril, a partir de 20 de julho, as viagens da Air Europa para Madri a partir da capital baiana serão retomadas. “Uma vez que as barreiras sanitárias forem derrubadas, com o avanço da vacinação aqui e em outros países, sem dúvidas vamos retomar Chile, Argentina, que sempre foram mercados muito importante, mas também Estados Unidos e Panamá”, avalia.

A portuguesa TAP já retomou a operação de três voos semanais, principalmente em repatriamento de cidadãos da União Europeia e principalmente com o transporte de cargas, conta Júlio Ribas. “Isso é muito importante porque estávamos com um problema para a importação de frutas para a Europa. As frutas continuam indo nos porões da TAP”, diz. Ele espera que até o final do ano haja um aumento na quantidade de voos internacionais.

O aeroporto vem trabalhando para aumentar a movimentação de cargas no local. Segundo Júlio Ribas, já existem conversar com resultados positivos para fomentar a movimentação de cargas em Salvador com as federações da Agricultura e da Indústria (Faeb e Fieb, respectivamente).

Ele enxerga um grande espaço para ampliar a exportação de frutas. “As nossas frutas passeiam, dão voltas por outros aeroportos. Petrolina movimenta uma quantidade imensa. O potencial é enorme”, acredita.

Ano de 2020
O ano de 2020 começou com um Carnaval avaliado como o melhor dos últimos 10 anos e uma série de boas perspectivas para o turismo. “A gente estava muito feliz porque tínhamos concluído um pouco antes as obras obrigatórias”, lembra Júlio Ribas. “Fizemos uma grande reforma, não apenas sob o ponto de vista visível, mas muita coisa que as pessoas não enxergavam, apesar de serem importantíssimas”, diz.

Além das melhorias, o aeroporto vinha em um movimento de conquista de novas rotas e atração de operadores. “O Brasil perdeu mais 430 mil vidas, eu vou falar de nossas dificuldades, mas esse cenário coloca nossas dificuldades numa outra perspectiva. Nada é tão grave quanto uma família perder um ente querido”, diz.

Entre as melhorias, além dos restaurantes e um novo píer de embarque, ele acrescenta melhorias que não aparecem tanto para o passageiro, como um novo sistema de bagagem e uma nova estação de tratamento de efluentes. Antes da reforma, a eficiência do tratamento dos efluentes era de 30%. Os outros 70% iam parar no Rio Joanes.

“O aeroporto estava há 10 anos sem licença ambiental e nossa primeira entrega foi uma estação de tratamento com 95% de eficiência, o que significa que hoje é tudo água reciclada. Nós temos aterro zero, tudo é reciclado”, conta. Além disso, o espaço conta com a geração de energia solar. A atuação resultou na escolha do Aeroporto Internacional de Salvador como o mais sustentável do Brasil. “Esse movimento em direção à sustentabilidade é muito importante porque boa parte dos nossos visitantes são adeptos do ecoturismo”, destaca.

Aprendizado na Bahia

A Vinci opera 45 aeroportos em todo o mundo em 12 países, mas segundo Ribas, um aspecto que é sempre levado em consideração é o respeito ao lugar onde opera. Ele lembra que a empresa chegou à Bahia preocupada em respeitar a cultura baiana e em construir relacionamentos. “Essa postura de aprendizagem, entendimento é constante”, garante. Um exemplo disso, ressalta, pode ser percebido nas opções arquitetônicas adotadas que sempre respeitam o “sense of place”, o senso de lugar.

“Você tem que entrar no Aeroporto de Salvador e sentir que está em Salvador, desde aquela praça central, com os moveis desenhados pensando na influência baiana, um lindíssimo painel de Caribé, que já pertencia ao aeroporto, mas estava estocado, guardado e escondido”, conta. “Hoje está exposto na área de embarque, são cinco painéis de Caribé sobre a baianidade”, diz.
Ele lembra ainda que recentemente uma gordinha de Eliana Kertezs foi transferida para lá.

De acordo com Júlio Ribas, não há uma perspectiva no momento em relação à construção de uma nova pista para o aeroporto. Segundo ele, a obra era parte dos planos da Infraero, mas o contrato de concessão estabelece a obra apenas depois que o aeroporto atingir determinados gatilhos e apenas se conseguir receber as licenças necessárias. “Se não for possível, existem soluções de engenharia para ampliar a movimentação com a pista atual”, diz. Segundo ele, a Vinci opera o segundo aeroporto mais movimentado da Inglaterra, com 47 milhões de passageiros em apenas uma pista. “Tecnologia e conhecimento técnico fazem muita diferença”.

*Fonte:  Correio*; Fotos: Divulgação/Arquivo Turismo Total

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *