Por Bruno Chaise
O anúncio da vacina para turistas em Nova York feito na semana passada pelo prefeito Bill de Blasio pavimentou com bases um pouco mais sólidas o caminho do chamado turismo de vacinação. Pesa a favor o fato de que Nova York pretende disponibilizar vacinas da Janssen-Johnson, de dose única, o que diminui o tempo da viagem. Outro chamariz é o excedente de imunizantes, o que fez muitos estados suavizarem a exigência de ter que apresentar um comprovante de residência para receber a picada. Sem perspectiva clara de quando poderão receber a vacina por aqui, brasileiros dispostos a gastar um bom dinheiro para serem vacinados estão fazendo as malas. Hoje o Brasil tem 18% da população imunizada com pelo menos uma dose e, neste momento, está com a produção paralisada em razão da falta de insumos da China.
A situação nos Estados Unidos é oposta. O país afrouxou as rédeas com relação à vacinação de estrangeiros em razão da grande massa de imigrantes ilegais que, ou não poderiam comprovar um endereço ou se sentiriam ameaçados ao terem que apresentar uma identificação. Mas também pela queda no número de vacinados diários do país, que caiu de 3,4 milhões para 2,2 milhões no início de maio, segundo dados da BBC. Como forma de incentivo, diversas campanhas estão no ar e quem se vacinar pode ganhar de ingressos esportivos até US$ 1 milhão em sorteio da loteria.
Até mesmo lojas estão disponibilizando vacinas, como é o caso da Macrobaby, loja de enxoval de bebês em Orlando, na Flórida, cujo dono é brasileiro. A loja aplica vacinas da Pfizer e da Moderna de graça e passará a disponibilizar a da Jansen a partir do dia 20 deste mês. Para se vacinar é necessário apresentar apenas o passaporte.
Agências no Brasil oferecem pacotes com vacinação, mas sem garantia
O setor do turismo no Brasil, praticamente inerte há mais de um ano, viu aí uma oportunidade de colocar no mercado pacotes que incluem a vacina. Os Estados Unidos não permitem a entrada de pessoas que tenham passado pelo Brasil 14 dias antes do desembarque em solo americano, por esse motivo é necessário a quarentena em um terceiro país. Os pacotes podem custar até R$ 50 mil por pessoa e uma agência de Belo Horizonte disse ter embarcado até 20 pessoas por semana com esse intuito.
A Flytour Viagens e a agência de intercâmbio Experimento, braço da CVC, anunciaram nas redes sociais pacotes para Nova York com quarentena de 15 noites no México mais agendamento para tomar a vacina. As agências não dão garantia de que ocorrerá a vacinação. A VT procurou ambas, mas os atendentes desconheciam o pacote.
Viajar, neste momento, ainda é um investimento de risco porque as regras podem mudar a qualquer momento. Passar horas dentro de um avião utilizando uma máscara e ainda correr o risco de contaminação pode ser estressante, sem contar a exigência de exame RT-PCR para viajar e depois para voltar. E tem uma questão ainda mais complexa e de ordem ética. Se está sobrando vacinas, por que não enviar o excedente para os países que estão precisando?
*Fonte: Viagem&Turismo; Fotos: Divulgação