Por Ivan Finotti
O estopim para a criação do Institute for Bob Dylan Studies, que oferece aulas sobre o músico, foi a doação para a Universidade de Tulsa, em março de 2016, de um gigantesco arquivo reunido ao longo dos anos pelo escritório de Dylan. São 100 mil filmes, rolos de gravação, manuscritos, pôsteres, cadernos de anotação etc. Só de fotografias são 38 mil.
O arquivo foi comprado pela George Kaiser Family Foundation, uma instituição filantrópica bilionária, cujo patrono nasceu em Tulsa e trabalha para transformar a sua cidade num polo cultural.
O Bob Dylan Center será inaugurado no centro da cidade em 10 de maio de 2022, com espaço para armazenar tudo e para exibições que acontecerão a cada temporada.
O anúncio foi feito na semana passada, como parte das comemorações da universidade pelos 80 anos do artista, neste segunda. Também em Duluth, Minnesota, cidade natal de Dylan, está havendo festejos.
Apesar de estar 80% digitalizado, o arquivo não está aberto para consultas livres na internet. É preciso ser um pesquisador e solicitar acesso.
“Se você quer ver os manuscritos de ‘Bringing It All Back Home’ ou ouvir as sessões de gravação de ‘John Wesley Harding’, tem que vir à universidade e acessar daqui”, diz o curador Michael Chaiken, há cinco anos no cargo.
“Há algumas razões para isso. Primeiro, George Kaiser quer gente visitando Tulsa. Mais importante é que precisamos proteger esse material comercialmente”, conta ele. “Quando um arquivo vai para uma instituição, ela adquire a propriedade física daquele material, mas não a propriedade intelectual dele.”
“A fundação não pode, por exemplo, lançar uma caixa com as sobras de estúdio de ‘Oh Mercy’, por exemplo. Ou ceder isso como uma canção para um comercial na TV.”
Chaiken não esquece como se sentiu ao colocar as mãos no manuscrito da letra de “Maggie’s Farm”. “Algumas músicas de Dylan são tão grandes que já são parte do tecido da consciência cultural americana. Você nunca pensa que um dia ele se sentou e escreveu aquilo. Demorou um minuto para eu entender.”
“A gente sabe essas canções de cor, mas naquele dia essas palavras estavam aparecendo ali para ele e você vê, como em tempo real, as escolhas que ele faz. Sempre que levo alguém ao arquivo, fico observando para ver se a pessoa ficará tão impactada como eu fiquei.”
*Fonte: Diário do Nordeste/FolhaPress