Opinião: O mundo está em perigo e o turismo também

*Por Tiago Rodrigues, Marketing & Comunicação grupo PEDAGO

Depois de no final de junho, um relatório preliminar do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima deixar o “mundo em alerta” pela gravidade dos dados revelados, estes deixam antever que, até 2050, a vida na Terra como a conhecemos pode estar verdadeiramente ameaçada. O mês de julho, por sua vez, ficou marcado pela vaga de calor que se fez sentir no Canadá que terá provocado a morte a cerca de 500 pessoas e claro, pelas cheias e inundações que tiraram a vida a centenas de pessoas, primeiro na Alemanha e Bélgica e depois na China e que fizeram vários desalojados e deixaram um rasto de destruição inimaginável em países ditos “desenvolvidos” como os acima referidos.

Estes são apenas alguns de tantos outros fenómenos que nos vão dando sinais claros de que o aquecimento global está já aí. Muitos se poderão questionar o que tem isto a ver com o turismo, mas na verdade tem tudo a ver com o turismo, ou não fosse, também, esta nossa amada indústria, a responsável por muitos dos danos ambientas que vão se fazendo sentir em tantos e tantos destinos que conhecemos. De resto, segundo um estudo da Universidade de Sidney, o turismo é dos sectores que mais contribui para as alterações climáticas, representado 8% do total de emissões de CO2.

É por isso fundamental a adoção de estratégias responsáveis seja por parte da gestão pública, seja por parte das empresas privadas do setor, por forma a mudarmos este cenário, mas sempre com a noção de que tem de passar por uma estratégia conjunta e concertada, já que ações pontuais e isoladas não terão o impacto necessário.

E se a responsabilidade social e ambiental, não fosse por si só, motivo suficiente para que fossem cada vez mais os destinos e empresas a adotar estas práticas “amigas do ambiente” nos seus modelos de gestão, não podemos nem devemos ignorar que estes destinos ficarão também mais próximos de captar o novo turista, já que também ele, valoriza cada vez mais estas questões na hora da tomada de decisão, como de resto é possível perceber no estudo levado a cabo pelo IPDT em que 21% dos inquiridos consideraram que tenderão a procurar cada vez mais por destinos com práticas sustentáveis.

Por tudo isto, a sustentabilidade tem de estar presente nas novas estratégias de gestão turística, sendo esta a melhor forma de assegurar benefícios para residentes e turistas (nunca esquecendo os investidores). Felizmente, são cada vez mais os exemplos de sucesso deste tipo de políticas, mas não nos deixemos enganar; são também cada vez mais os relatos de “Greenwashing” em empresas que se deixam levar pela “onda” da sustentabilidade, mas que depois na verdade “não a navegam”.

Mas afinal de contas porque está em perigo o turismo? É simples de perceber. Por um lado, temos uma série de destinos que, de repente, correm o risco de simplesmente perder os seus atributos de atração. Resistiria o Algarve, pese embora as fantásticas praias de que dispõe, se passasse a ser um destino onde chovesse durante a maioria dos dias do ano? Ou um destino focado no turismo de neve que de repente deixasse de ter neve?

Por outro lado, os destinos que, de repente, em função destas mudanças climáticas teriam de ajustar as suas estratégias a um novo cliente e a um novo produto (e basta pensar na quantidade de destinos dependentes excessivamente de alguns mercados e que agora com a pandemia e restrições às viagens) se vêm sem plano B nem demonstram capacidade para captar outros mercados.

Mas acima de tudo, porque corremos o risco de, por exemplo, com a subida dos níveis do mar, (que segundo um relatório da ONU, poderá subir em algumas zonas, até ao final do século, 60 centímetros), perder o nosso maior “tesouro”. A nossa cultura, o património, a nossa identidade. Basicamente, tudo o que nos faz diferentes dos demais destinos, tudo aquilo que nos torna autênticos e que é cada vez mais valorizado pelos turistas. Com o turismo em risco, temos em risco também o futuro da humanidade.

Afinal de contas, se esquecermos o nosso passado, se perdermos a nossa história, revivida nos vários destinos mundiais e cravada em vários monumentos que conhecemos, não estaremos também a perder a capacidade de sabermos de onde vimos? Receio que sim. E como sempre ouvi dizer que “sem sabermos de onde vimos, será impossível sabermos para onde vamos”, é momento de agir.

Porque acredito que ainda há tempo para salvar o mundo e o turismo!

*Fonte: Publituris/pt

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