Ilha de Marajó: Turismo entre búfalos e praias

 Por Seleucia Fontes: Texto e fotos

 

Localizada no Estado do Pará, a Ilha de Marajó é um desses lugares quase “míticos”, cercada por muitas curiosidades e pouca informação. Pensamos logo nos búfalos, claro, e na cerâmica marajoara. Porém, este arquipélago com pouco mais de 104,6 mil quilômetros quadrados revela muitas belezas naturais e um povo hospitaleiro.

                A Praia do Pesqueiro é um dos atrativos naturais da Ilha de Marajó 

 

A ilha costeira do tipo fluviomarítima fica situada na Área de Proteção Ambiental do arquipélago do Marajó, separada do continente pelo delta do Amazonas, pelo complexo estuário do rio Pará e pela baía do Marajó.

O principal acesso se dá pela travessia da baía a partir de Belém. O ferry boat parte do porto de Icoaraci às 7h e retorna às 16h. O ponto de chegada é o porto Camará, em Salvaterra, e a vantagem são os preços acessíveis aos pedestres e a possibilidade de embarcar com segurança seu veículo. São cerca de 3h30 a 4h de travessia, um tempo que pode ser reduzido para quem busca a lancha rápida, um pouco mais cara, porém mais confortável, com horários alternativos e tempo de percurso de 2h.

Turismo rural

Os búfalos são originários da Índia, e o Brasil possui o maior rebanho do Ocidente, com 3 milhões de cabeças, sendo que Marajó lidera as estatísticas, com três cabeças para cada morador da ilha.

Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Búfalos, a primeira introdução de búfalos no Brasil ocorreu em 1890, quando Vicente Chermont de Miranda comprou cabeças da raça Carabao para a Ilha de Marajó, pertencentes a fugitivos da Guyana Francesa que naufragaram nas costas da Ilha. Em 1895, Leopoldina Lobato de Miranda e seus filhos realizaram uma importação de búfalos italianos. As duas raças deram origem ao búfalo negro de Marajó. Vale lembrar que animais de outras raças foram levados para outras regiões do País.

Seu Tonga recebe os visitantes para contar um pouco sobre os búfalos e sobre a fazenda - Foto: Seleucia Fontes
              Seu Tonga recebe os visitantes para contar um pouco sobre os búfalos e sobre a fazenda 

 

Carlos Augusto Guedes, o Tonga, 74 anos, se apresenta como um velho vaqueiro, mas na verdade é agrônomo, ex-prefeito e um dos maiores defensores dos búfalos. Ergueu “do zero” a Fazenda Milonga há 46 anos e hoje recebe visitantes de todos os cantos para uma imersão que vai muito além da venda de produtos. Seu Tonga, que reduziu a produção para melhorar a qualidade dos seus produtos, recebe pessoalmente todos os visitantes, defende o turismo rural e explica como transformou sua propriedade de 80 hectares em exemplo de trabalho fundamentado na sustentabilidade, na preservação ambiental e no fortalecimento da geração de renda.

“Não tem porteira na nossa propriedade, nossa filosofia é dar oportunidade para os outros produtores, porque o turismo é a indústria mais justa”, pontua com simpatia, defendendo a importância econômica, social e cultural do búfalo para os moradores da ilha. “Aqui a gente não vende queijo, vende história”, ressalta.

Sua filha, Gabriela Guedes, revela o desafio de produzir em uma pequena área, sem perder de vista a função social. “Não nos interessa construir uma pousada, queremos gerar a partilha”, completa, ressaltando que a Fazenda Mironga mantém a produção artesanal do queijo para gerar maior distribuição de renda. Quem visita a propriedade também pode degustar e adquirir doce de leite de búfala e licores de frutos típicos da região, como o taperebá e o murici, passear pelo jardim coberto por árvores medicinais e, claro, montar um búfalo.

“O brasileiro precisa conhecer a carne de búfalo”, completa Seu Tonga, que defende a criação de uma universidade na Ilha, para aprofundar as pesquisas relativas ao animal cuja carne, muito saborosa, é produto de exportação com baixo consumo interno. Azar o nosso.

Sol e praia

Primeiro forte construído em Salvaterra foi consumido pela erosão - Foto: Seleucia Fontes
Primeiro forte construído em Salvaterra foi consumido pela erosão

 

A Ilha de Marajó precisa ser redescoberta. Seu turismo foi muito forte no século 20, quando um navio levava visitantes de todos os cantos, em especial europeus, para conhecer suas belas praias e artesanato único. O navio afundou, as visitações sofreram uma queda expressiva e, após a pandemia de Covid-19 os empreendedores da região buscam a renovação.

Hoje, o ponto de chegada à Ilha é o Porto Camará, em Salvaterra, cidade que guarda consigo os vestígios do primeiro forte construído na ilha principal, que marca o início da colonização não índia, e a bela praia de Joanes. Por meio de uma balsa chegamos a chamada “capital do Marajó”, Soure, uma cidade que conta com um rico patrimônio histórico e cultural e as praias de Pesqueiro e Barra Velha.

Em Barra Velha, as raízes das árvores oferecem sombra aos visitantes - Foto: Seleucia Fontes
Em Barra Velha, as raízes das árvores oferecem sombra aos visitantes 

 

Todas as praias são bem estruturadas e cada uma a seu modo oferece suas barracas com peixe, frutos do mar e carne de búfalo. São banhadas pelo rio Amazonas, que é invadido pelo mar. O resultado é uma água “salobra”, de temperatura extremamente agradável e uma correnteza que varia conforme o dia, formando uma restinga, no caso da Barra Velha, que também chama atenção pelas árvores típicas dos manguezais, fincadas na praia com raízes enormes e aparentes que dão sombra aos banhistas.

Mais motivos para conhecer a Ilha de Marajó? A receptividade dos moradores, a simplicidade da vida cotidiana, a gastronomia, o artesanato… Fica aqui o convite: vá sem medo e desfrute deste Brasil pouco conhecido!

*Fonte: JP Turismo

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