Turismo religioso em Salvador atrai milhares de visitantes todos os anos

Por Lily Menezes

Se alguém está na vontade de passar um feriado ou final de semana em Salvador, chega logo com uma lista de lugares que ‘tem’ que visitar: Farol da Barra, Pelourinho, Mercado Modelo, Elevador Lacerda… Embora todos sejam cartões-postais dignos de nota (dez, neste caso!), a cidade também tem um potencial e tanto para o turismo religioso. Tanto que há uma lenda a respeito de a aniversariante do dia ter 365 igrejas para se visitar, uma para cada dia do ano. Ainda que hoje esse número já tenha passado dos quatrocentos templos, quem tem fé vai não só a pé, mas de ônibus e avião também: essa modalidade de turismo tem o poder de atrair até 1,5 milhões de visitantes para a Bahia todo ano, principalmente em ocasiões especiais como as homenagens à Santa Dulce dos Pobres.

Cidade possui alternativas e roteiros para todos as manifestações de fé.  Foto: Tatiana Azeviche 

 

E, em tempos de Carnaval cancelado pelo segundo ano consecutivo, o turismo religioso tem sido um investimento e tanto para continuar incrementando a movimentação na cidade. A devoção ao Anjo Bom da Bahia é um exemplo do aumento na demanda: na Catedral Turismo, uma das maiores agências de viagens destinadas para quem se interessa em peregrinar, já existem seis excursões agendadas para este ano. Uma delas, marcada para agosto, já está nas últimas vagas. Para a Pastoral do Turismo (Pastur), a cidade tem mesmo vocação para esse nicho. O crescimento das viagens motivadas pela fé em Salvador foi de quase 10%, de acordo com a Secretaria de Turismo da Bahia (Setur).

“Muitas cidades estão construindo atrativos em razão do turismo religioso. Nós já temos todos em Salvador. E olha que nem estamos falando do turismo cultural, como é o caso do Centro Histórico. Temos atrativos de pelo menos três ou quatro dias de turismo religioso”, frisou o padre Manoel Filho, coordenador da Pastur. Durante a pandemia, a Prefeitura de Salvador inaugurou o Caminho da Fé, que une o Santuário de Irmã Dulce a outra parada obrigatória para quem está visitando a cidade: a Basílica Santuário Senhor do Bonfim, no bairro de mesmo nome. A dupla é a mais visitada por peregrinos de todo o Brasil. O percurso de um quilômetro abrangeu diversas intervenções, como ampliação de passeios e itens de acessibilidade, e custou R$ 18,2 milhões.

Devoção a Santa Dulce dos Pobres | Foto: Romildo de Jesus

 

Mais recentemente, em janeiro, os painéis de azulejos do corredor lateral, no arco do cruzeiro e na cancela da capela-mor da basílica foram requalificados. O atual titular da Secretaria de Cultura e Turismo, Fábio Mota, acredita que o turismo religioso pode ajudar a estender a estadia do viajante; com os investimentos feitos pela pasta, a expectativa é de que a permanência passe dos atuais seis dias para dez. “O turismo religioso sempre foi uma aposta”, assegurou. Além das tratativas com as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) e a requalificação do Caminho da Fé, uma das ideias da Secult para atrair o turista religioso é de ampliar a sinalização turística específica para quem está curioso pelas sutilezas do sincretismo soteropolitano, contando a história de cada lugar.

Entretanto, as melhorias para alavancar o turismo religioso não se resumem à fé católica: os praticantes de outras correntes, como as religiões de matriz africana, devem ser contemplados com a requalificação das Dunas de Itapuã, no trecho situado às margens da Avenida Dorival Caymmi. O projeto da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) procurou manter o contorno original do monte e contempla um receptivo para apoiar os visitantes com informações sobre o local, incluindo o uso espiritual.

O turismo de fé deve receber ainda neste mês a inauguração do Parque Pedra de Xangô, que tornará a área do entorno protegida como um patrimônio da cidade. Embora a pedra já seja tombada, a área do local no bairro de Cajazeiras 10 vinha sofrendo com os atos de vandalismo. A expectativa é de que o local, antes conhecido como Buraco da Onça, permaneça como parada de interesse para quem quer conhecer a região que abrigou um dos mais antigos quilombos já conhecidos, o Orobu, e que tem mais de dez terreiros de candomblé. O prefeito de Salvador Bruno Reis acredita que essa profusão de crenças é um ativo extremamente importante para a cidade. “Aqui é a capital da diversidade, e cabe aos gestores que se preocupam com a cidade dar plenas condições para que o povo possa manifestar de forma livre a sua fé”, afirmou. *Fonte: Tribuna da Bahia.

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