Por Nelson Rocha
As cores das centenas de quadros já pintados pelo artísta plástico Totonho, ganharam as telas inspiradas pelo desejo nutrido por ele desde menino, de colorir o mundo das crianças. “Eu sempre pensei de fazer um trabalho dentro da arte, que pudesse mudar um pouco a mente dos adultos, mas é difícil. O homem quando é preparado para cortar árvores, ele nunca vai conseguir plantar e regar uma semente. Mas quando o homem é preparado para plantar e regar uma semente, ele nunca vai cortar uma árvore“, diz o filho de Conceição da Feira, cidade do interior da Bahia, que deixou a sua terra natal para ganhar o mundo mostrando que ele pode ser melhor se desenhado com o colorido da natureza, do bem e da paz.
No próximo dia 4 de Junho, sábado, a Galeria Flores do Cabo, de Sintra, em Portugal, promove a abertura dessa que será a 16ª exposição do artista no país, com duração de três meses, ou seja, da Primavera ao Verão europeu.
Antonio de Araújo Pereira é conhecido como Totonho. Diz ser fã de ícones das artes plásticas como Salvador Dalí, Monet e Van Gogh, mas se considera um “auto-didato nato, que começou a falar com sete anos, mas o dom para a pintura se manifestou aos três” .
A infância, no ambiente rural do interior da Bahia, o fez ensaiar as primeiras pinturas utilizando café, argila, frutas, água, com as quais aquarelava as paredes, utilizando pincéis improvisados com folhas das bananeiras, atitude que impressionava a comunidade.
Na sequência, Totonho passou um tempo em Salvador, sempre com a família, depois foi morar no Capoeiro Sul, vila em Cachoeira, no Recôncavo baiano. A esta época já pintava em cartolina com as latinhas de tinta da construção civil e já era remunerado por criar ilustrações sobre fatos históricos a pedido dos amigos. ” Com 14 anos fiz a primeira exposição no Bar Rouxinol, sucesso absoluto. Dois anos depois fui para Salvador determinado a ser artista“, relembra.
Quando passou a frequentar o Centro Histório da capital baiana, conheceu o artista plástico Carlos Bastos, que o convidou a deixar seus trabalhos em sua galeria, no Hotel Pelourinho. Questionado por ele sobre a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Totonho disse que o assunto “soou de uma maneira que eu não sabia do que que ele estava falando. Nem sabia que pintor se chamava de artista plástico. Ele me disse que eu era um grande artista e que poderia ter futuro. Deixei com ele uns quadros consignados e, como eu não tinha preço, ele vendeu tudo, não sei por quanto, mas me passou um dinheiro. Isto foi muito importante pra mim“, declarou. Novos convites para exposições permitiram continuar o nobre ofício de artista plástico com o olhar na mãe natureza.
Mas, a vida de Totonho ficou mais difícil com o falecimento do pai, que era maquinista de trem e tinha seis filhos. “Diante de tantas dificuldades que estavamos tendo naquele momento, sem norte, a minha mãe disse: A vida esta difícil, mas Deus te deu um dom…faz o que Deus te deu…Aquilo foi legal pra caramba“, recorda.
Com mais “injeções de ânimo” por parte de amigos, Totonho seguiu em frente. Fez Curso Livre na Escola de Belas Artes da UFBa, o que foi, para o artista “uma seta para o futuro”. Inspirado e se reinventando a cada momento, Totonho se jogou completamente na criação através dos pincéis e não parou mais de expor, inclusive no exterior. Além do Brasil e Portugal, o artista participou de exposições, salões e workshops na Alemanha, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra e Suiça. Suas telas mostram a beleza das matas virgens e a lamentável devastação do planeta.
A sensibilidade artística de Totonho literalmente também pinta com a poesia: “Despi-me do medo, criei asas/Busquei a fauna e a flora nas selvas das pinceladas e fiz a dança das cores abrirem novas estradas/Atravessei oceanos, peguei carona nos ventos/Bailei com todas as flores, na sala dos pensamentos“, escreveu em Volto Já.
O bom é que ele volta a expor de forma presencial, depois do longo período impedido pela pandemia. Aqui também um pouco do seu lado poeta: ” Arte é vida/ Sem arte, a vida se reparte em duas partes: uma parte e a outra fica partida/ Por amor à arte, meu amor, não parte“, escreveu exaltando a beleza natural da tela O Coreógrafo e a Bailarina, que integrou a exposição Aquarela do Brasil, de 2009, em Decatur, Illinois, nos Estados Unidos.
” Totonho é um daqueles artistas excepcionais que comovem um grande público que vai à busca de suas criações, adquirindo-as com um forte sentimento de ter feito uma boa escolha“, declarou Roland Issenlor, presidente da Fundação SyRo d`Arts, quando da exposição ocorrida em Lautenbach-Zell, na França, em Abril do mesmo ano.
“Como é fácil de ver, Totonho é um ecologista militante. É um amante e admirador da natureza. A pintura luxuriante de Totonho insere-se neste grande movimento de renascimento da filosofia da natureza fortemente marcada por uma nova ética, uma ética ecológica à maneira de São Francisco de Assis ( 1182-1226, na transição da Idade Média para o Renascimento“, pontuou em texto Abílio Afonso Ferreira, professor de Estética e da Teoria da Comunicação, no Porto (Portugal).
“Semeando a Esperança” é o nome da exposição de 2022 em Portugal, onde tem seu atelier. ” Minha maior esperança é ver o mundo em paz. Eu não acredito em pessoas que criam guerra no leste da Europa, outros querem armar o Brasil para uma guerra civil, essas coisas…e o mundo não quer mais isso. A esperança do mundo é realmente conscientizar as crianças e ver essa nova geração desarmada, e entender que não existe vencedor numa guerra. A paz tem que emanar no mundo“, conclui, Totonho.
Se você desejar adquirir uma obra do artista entre no site totonho.com, siga seu Instagram, visite sua exposição. Outra opção é visitar a galeria de Totonho, na Ladeira do Carmo, 28, no Centro Histórico de Salvador, na Bahia-Brasil.
