Estação do Trem da Morte sobrevive no pantanal em meio ao caos do bioma

Por Marcelo Toledo

A estação tem seus problemas de conservação, mas os maiores obstáculos estão no entorno dela. A estação Agachi, em Miranda, está no meio do pantanal sul-matogrossense, que sofreu uma tragédia ambiental nos últimos anos.

Um dos pontos de embarque e desembarque de passageiros que utilizavam a rota entre Bauru (SP) e Corumbá (MS), que ficou conhecida como Trem da Morte, a Agachi é uma estação inaugurada em 1929 e atendeu passageiros da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil até a década de 1990, período em que a ferrovia foi concedida à iniciativa privada.

 

O Expresso Oriental, também conhecido como Trem da Morte, liga o Brasil, a partir de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, a Santa Cruz de la Sierra. Foto: Reprodução- Crédito: Campo Grande News.

 

Localizada na zona rural de Miranda, a estação está cercada com arames farpados e hoje fica numa propriedade particular, segundo relatos de moradores.

Miranda é uma das cidades que integram o pantanal brasileiro, que ainda sofre com os danos das queimadas registradas ainda em 2020.

Na maior planície alagável do planeta, as marcas dos estragos são visíveis, assim como a prolongada seca que atingiu a parte sul-matogrossense do bioma.

A estação com tijolos aparentes não tem portas ou janelas, mas a cerca a tem protegido de danos mais graves desde a interrupção no transporte de passageiros, no início da década de 1990.

A inscrição NOB, alusiva à Noroeste do Brasil, segue lá, assim como a placa indicando a altitude (185 m) e a localização (km 1.104+600m). A plataforma de embarque, coberta com telhas de zinco, está conservada.

A estação tem ainda uma casa vizinha na mesma área, também protegida pela cerca de arame farpado.

Em comparação a outras estações, a Agachi é pequena, com duas portas maiores e outras duas menores, além de três janelas de onde se observa a plataforma de embarque.

TENTATIVA DE RETORNO

Depois que o trem deixou de operar oficialmente, houve uma iniciativa para a retomada do transporte de passageiros nos anos 2000, de forma turística, num trecho entre Campo Grande e a cidade, passando por Aquidauana, mas durou pouco.

Ideal para quem gostava de passeios contemplativos ou de aprender sobre a fauna e a flora, o trem era chamado pelos usuários de Trem do Pantanal ou Pantanal Express. Foto: Fabio Padilha/ reprodução.

Havia previsão de que a rota fosse ampliada até Corumbá, mas isso nunca ocorreu.

Ainda hoje há defensores da retomada desse roteiro, o que poderia beneficiar o turismo sul-matogrossense ao permitir que os visitantes conheçam o pantanal de outra forma.

A Noroeste do Brasil, entre Bauru e Corumbá (MS), com 1.272 quilômetros, herdou o nome do Trem da Morte original, que liga Puerto Quijarro a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.

A rota boliviana ganhou o nome devido ao grande número de acidentes e por ter sido, no passado, usada para o transporte de doentes.

Com o tempo, a “extensão” brasileira, já que Corumbá é vizinha a Puerto Quijarro, ganhou a mesma denominação, graças à desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.

A Noroeste do Brasil passou a fazer parte da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) em 1957, onde ficou até a concessão à Novoeste na década de 90.

Da empresa, em parceria com a Ferroban e a Ferronorte surgiu a Brasil Ferrovias, que depois passou a ser Nova Novoeste, até ser incorporada à ALL (América Latina Logística).

Esta, por sua vez, foi absorvida pela Rumo Logística, atual detentora da concessão da ferrovia, mas o contrato inclui apenas algumas estações -não é o caso da estação Agachi.

Das 122 estações erguidas entre Bauru e Corumbá, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.

*Fonte: Jornal de Turismo

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