- Duda Tawil, texto e fotos, de Paris
A 20 quilômetros do centro de Paris, ou 20 minutos pela linha D do metrô, saindo da estação Gare de Lyon na capital francesa, está situada a Maison Caillebotte, no município de Yerres, que em meados do século XIX, de 1860 a 1879, foi a residência de verão da família do grande pintor impressionista Gustave Caillebotte (1848-1894).
Há cinco anos, totalmente renovada, a propriedade engloba um belo e grande jardim, verdadeiro parque em estilo inglês, uma horta, alguns animais, uma capela, um pier para aluguel de barcos no vizinho rio Yerres (a canoagem era uma das paixões de Caillebotte, retratada em muitos de seus célebres quadros) e sobretudo a bela casa transformada em memorial, com mobiliário como na época da família do artista, reproduções de seus quadros mais emblemáticos, fotos, objetos pessoais e butique. Ao lado, funciona o ótimo restaurante L’Orée du Parc, de cozinha tradicional francesa, com sala interna e terraço (tel.: +33.1.69.45.47.78).
Aberta ao público em 2017, tem como diretora a talentosa Valérie Dupont-Aignan, e desde então constitui um dos mais bonitos passeios culturais da chamada região parisiense. É também local para exposições temporárias, como precedentemente de Éric Liot, Érik Desmazières, Christelle Téa e Markus Lupertz, este com curadoria de Danièle Cohn.
Atualmente, e até 30 de outubro vindouro, sua grande exposição tem por temática as “Modernidades Portuguesas”, com curadoria de Anne Bonnin. Ela apresentou a inédita e interessante exposição à imprensa ao lado de Raquel Henriques da Silva, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, especialista do Modernismo português, e que assina um texto no catálogo.
O evento abre uma porta pouco conhecida da história da arte, a do Modernismo em Portugal. Ela começa no início do século XX, e em grande parte se passa entre Portugal e Paris, o centro internacional do vanguardismo nas artes plásticas, cosmopolita e moderna.
A exposição está na programação da Saison/Temporada França-Portugal de 2022, e sobretudo se situa entre 1910 e 1970. A figura de referência do Modernismo luso é o poeta Fernando Pessoa (1888-1935), sem esquecer a figura emblemática do poeta Mário de Sá Carneiro (1890-1916), confidente do seu melhor amigo, Pessoa, através de inúmeras cartas. Suicidou-se muito jovem em Paris, onde veio estudar desde 1912.
São artistas inovadores que compõem a mostra, como Amadeo de Souza Cardoso, Santa Rita Pintor, José de Almada Negreiros, Eduardo Viana, Sarah Affonso, Ofélia Marques, António Dacosta e Mário Cesariny, o casal Sonia e Robert Delaunay (ela, ucraniana e ele, francês, que moraram um período em Portugal devido à Primeira Guerra Mundial), o casal Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes (ela, portuguesa, e ele, húngaro), que nos anos 40 viveram no Brasil, mas antes se exilaram na França e obtiveram a nacionalidade francesa.
Em outro prédio da Propriété Caillebotte, no meio do parque, na Orangerie, até 18 de setembro está em cartaz “Hans Reichel – Luzes Interiores”, exposição do pintor alemão de Wurtzbourg, onde nasceu em 1892, até sua morte em 1958, em Paris. Ao ver as obras de Paul Klee (1879-1940), também alemão mas que nasceu e cresceu na Suíça, decide ser artista plástico. A profunda admiração os levou a ter, numa certa época, um ateliê juntos.
Foi também amigo do russo Kandinsky (1866-1944), tido como o pioneiro da arte abstrata. Chegou a ser deportado pelos nazistas, e nos campos de concentração, nos quais, doente, pintava aquarelas maravilhosas. Sobreviveu, se instalou definitivamente em Paris até sua morte, onde tinha muitos amigos, um personagem doce e queridíssimo. Chegou a expor com Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).
Organizada por Valérie Dupont-Aignan, ela reagrupa quatro pinturas a óleo e principalmente muitas aquarelas do lindo trabalho de Reichel, em formato sempre pequeno. Um pintor-poeta que se revela através de temas simples do cotidiano, com pássaros, peixes, flores, um universo mágico que encanta a todos, seja no figurativo como na abstração. Muitas das obras expostas são provenientes da Galeria Jeanne Bucher Jaeger, de Paris e de Lisboa, que tem na sua presidência e direção geral Véronique Jaeger.
Boa viagem e boa visita a todos!
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