França: Festival “La Ronde”, de artes plásticas contemporâneas, em 10 museus de Rouen e região

  • Duda Tawil, texto e fotos, de Rouen
Até o dia 23 de setembro, atravessando todo o verão, as cidades de Rouen, Notre-Dame-de-Bondeville e Elbeuf-sur-Seine, na região histórica da Normandia, no norte da França e a 1h15min pelo trem saindo da estação Gare Saint-Lazare, em Paris, abrem a sua temporada de artes plásticas contemporâneas com o Festival La Ronde, na sua 6a edição. São ao todo 14 artistas homenageados ou participantes, selecionados por uma comissão, com o tema “Heroínas”, uma homenagem às mulheres artistas visuais. É uma bela iniciativa da Metrópole e da RMM – Reunião dos Museus Metropolitanos Rouen Normandia.
O Museu de Belas Artes de Rouen exibe a exposição “Nadja” e artistas com suas instalações em La Ronde
São seus nomes: “Nadja” e Nina Childress no Museu de Belas Artes de Rouen, Sheila Hicks no Museu Industrial da Corderie Vallois e Berthe Mouchel  na Fabrique des Savoirs; e fazem parte de La Ronde 10 artistas confirmados ou emergentes: Garance Alves, Kacha Legrand, Aurélia Jaubert, Florence Jou, Lou Parisot, Cathérine Menoury, Iris Sara Schiller, Samuel Buckman, Guy Lemonnier e Fabien Lerat. Foram selecionados por Sylvain Amic, conservador-chefe e diretor da RMM, Ami Barak, curador da exposição e crítico de arte, e pela apaixonada Florence Calame-Levert, conservadora-chefe das coleções das Artes Moderna e Contemporânea do Museu de Belas Artes de Rouen e curadora de La Ronde.
Pintura “Idylle”, de 1925, de Francis Picabia, do Museu de Grenoble, da exposição Nadja
 
Entre palavras e imagens, “Nadja, um itinerário surrealista” homenageia Léona Delcourt, morta em 1941, aos 38 anos, num hospital psiquiátrico, e depois, esquecida. Fruto de sua relação amorosa com o escritor André Breton, que ele encontrou em 1926 e em seguida escreveu “Nadja” em 1927 e publicou em 1928. É a obra-prima por excelência do Surrealismo. A curadoria da exposição é de Alexandre Mare, em parceria com a Biblioteca Nacional da França, Museu Nacional de Arte Moderna (Centro Georges Pompidou) e a Biblioteca Jacques Doucet, todos em Paris. São pinturas, desenhos, documentos, retratos e fotos que contam toda uma época de efervescência cultural na Cidade Luz, traz à tona a importância de uma grande mulher artista, e elucida o seu destino trágico.
A artista plástica americana Sheila Hicks, 88 anos, é uma grande personalidade da cena contemporânea internacional, exímia nas instalações e esculturas têxteis. O Museu Nacional de Arte Moderna (Centro Georges Pompidou) emprestou várias peças do seu acervo, sobre a artista. A curadoria é de Michel Gaulthier, do MNAM. Ela própria criou para esta exposição “O Fio Condutor” no Museu da Cordoaria Vallois, uma manufatura de cordoarias no passado, várias instalações originais com o lugar, o moinho e a ex-fábrica de cordas. Artista sem fronteiras, vive na França e no seu trabalho transparece um itinerário que a levou à América Latina – México, Chile, Argentina – e ao Marrocos.
Para a franco-americana Nina Childress, em “Le Tombeau de Simone de Beauvoir”, a escritora que é o pilar do Feminismo é uma heroína, por isso, esta grande homenagem em forma de várias obras que compõem uma imensa instalação a ocupar toda uma sala do Museu de Belas Artes de Rouen. Ela explicou sua relação íntima com a cidade, e que Beauvoir foi professora de Filosofia em Rouen no início de sua carreira nos anos 1930. Através das pinturas, e algumas esculturas, as diferentes facetas da grande figura da emancipação feminina do século XX.
Nina Childress entre duas obras da sua instalação em tributo a Simone de Beauvoir
 
Na Fabrique des Savoirs, “Mulher artista e engajada”, presta homenagem a Berthe Mouchel, artista do século XIX que denunciou nas suas pinturas as mazelas da sociedade. Ela soube se fazer reconhecer num meio artístico dominado pela presença masculina de pintores e escritores. Sua obra revela o mundo operário e especificamente o trabalho das mulheres da sua época.
Professora na Escola Nacional Superior de Arquitetura da Normandia, Kacha Legrand é a artista plástica do branco, sobretudo. Seus desenhos e esculturas formam instalações, como esta “Éléments Blancs”, concebida para La Ronde no Museu Le Secq des Tournelles, no centro de Rouen. Ela se inspirou no imenso acervo de chaves do museu, especializado nas artes e objetos em ferro, para uma metáfora entre elas e as mulheres que abrem portas e novos caminhos em direção da liberação, do futuro. Lindíssima!
O poeta e artista plástico Samuel Buckman também expõe sua instalação no Museu Le Secq des Tournelles e no CHU – Centro Hospitalar Universitário de Rouen. No seu projeto intitulado “Elles”, ele interroga as características e as denominações do gênero feminino na cidade, como o rio Sena que a atravessa (detalhe: rio, em francês, é palavra no feminino), a sua célebre catedral, etc. Natural de Dunkerke, sua obra é a narração visual de suas de ambulações poéticas pela cidade rouennaise.
Poeta e artista plástico, Samuel Buckman faz homenagem a “Elas”
De origem portuguesa, Garance Alves é uma jovem artista plástica de Clermont-Ferrand, no centro da França.  As formas vazias e abandonadas, espaços negativos outrora habitados, são algumas das características do seu universo artístico – desenhos, fotos e vídeos, com instalações para La Ronde no Museu de Belas Artes e Museu da Cerâmica.
A franco-portuguesa Garance apresenta a sua instalação que está do Museu de Belas Artes de Rouen
Guy Lemonnier, ex-aluno da Escola de Belas Artes de Rouen, onde também foi professor até 2020, expõe no Jardin des Plantes, Museu de Belas Artes e Museu Flaubert e da História de Medicina. Sua instalação “La Fiancée Asynchrone” (A Noiva Assíncrona) é inspirado no “Grand Verre” de Marcel Duchamp.
Inspirado de uma pintura religiosa da coleção do Museu de Belas Artes, “A Descida da Cruz”, de Laurent de La Hyre, de 1655, o artista plástico Fabien Lerat concebeu, numa plataforma no solo uma instalação têxtil, e um vídeo, nos quais se concentrou num grupo de cinco mulheres retratadas no quadro, como Maria e Madalena, que são a parte de emoção do mesmo, e constituem, no seu entender, as verdadeiras heroínas. Ele expõe também na Fabrique des Savoirs.
Fabien Lerat mostra o diálogo entre “La Descente de la Croix” na parede e sua instalação em tecidos tingidos, no solo
A jovem Lou Parisot, diplomada pela Escola Superior de Artes e Mídia de Caen, apresenta no CHU de Rouen, no Museu Flaubert, e no Museu de História Natural uma pintura, na verdade, um autorretrato em vídeo intitulado “Wanted”.
Autorretrado pintado, porém em vídeo, de Lou Parisot, “Wanted”, no Museu de História Natural
Aurélia Jaubert é uma jovem artista plástica que expõe no Museu das Antiguidades e no Museu Nacional da Educação, premiada internacionalmente, como o prêmio especial do júri na Bienal Contêxtil em Guimarães, Portugal. Sua tapeçaria é um conjunto de telas bordadas e tecidas por ela, que as coleta, conserva e em seguida recicla, criando a sua obra.
A ida a Rouen representa um passeio pelas artes plásticas feitas hoje na França, e à cidade em si, de 110 mil habitantes, ou 500 mil com a sua região metropolitana. Uma dica de restaurante, do lado do Museu de Belas Artes, é o In Situ (www.insitu-restaurant.com), na rua Jean-Lecanuet. Informações gerais sobre a cidade no site do Ofício de Turismo e Congressos: www.rouentourisme.comE mais informações atualizadas sobre La Ronde e outros eventos museográficos: www.musees-rouen-normandie.fr

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