Significado econômico do turista vai além da visita

Por Carlos Prado*

Há uma tendência generalizada de se enxergar o impacto econômico provocado pelo visitante de uma localidade de forma linear. A conta imediata que se faz restringe-se ao que ele, o visitante, gasta nos dias em que permanece no destino. Da padaria ao supermercado, passando pelos bares, restaurantes, hotéis, atrativos de entretenimento e culturais, entre outros, o fluxo de pessoas implica em mais dinheiro no caixa das atividades comerciais.

Esse recorte é importante, claro. Mas fica restrito à equação de natureza financeira, proporcionada pelo consumo imediato de bens e serviços à disposição de quem visita a localidade. Parafraseando o secretário de Turismo do Estado de São Paulo, Vinícius Lummertz, formulador e difusor emérito do conceito de ‘economia do visitante’, é preciso focar, também, tudo que é feito para recebê-lo.

Localidades extrapolam a ideia de ilha. De singularidade fechada em si mesma. Poderíamos dizer que o conjunto de localidades forma um organismo plural, onde pulsa a diversidade e instalam-se os elos da conectividade, em todos os níveis. Ecossistema. Por trás do que se vê e do que se pode visitar, há uma história. Há um legado que decorre da visão e dos sonhos de gerações sucessivas.

As cidades nascem, crescem e evoluem quando nelas emergem lideranças capazes de dotá-las de infraestrutura e de instituições próprias de uma municipalidade. Franco Montoro, quando governador de São Paulo, enfatizou que “a vida acontece no município”. Sejam natas ou adotivas, as pessoas amam a sua cidade. Tem estima por ela, orgulham-se dela. Do contrário, mudam-se.

É nesse contexto que ganha corpo a percepção do que seja a economia do visitante. Mais que o foco no turista, em si, cabe levar em consideração tudo que se faz e tem motivação, em maior ou menor grau, fundamentada nas possibilidades do consumo. Da troca. Do enriquecimento mútuo de quem visita e do destino visitado.

A economia do visitante alimenta-se dos esforços coletivos que resultaram na criação de um lugar com identidade própria. Instituições e moradores, quando determinados em atuar com sintonia de propósitos, colocam suas localidades no mapa. É uma obra em edificação contínua, que se nutre do desejo de se obter um lugar melhor para todos – residentes e visitantes.

Cuidado e respeito incondicionais ao meio ambiente; busca do maior equilíbrio possível das relações sociais; e compromisso inegociável na adoção de princípios saudáveis de governança são valores harmonizadores. A economia do visitante conecta-se, profundamente, à vida do residente. Proporciona o olhar de dentro pra dentro e de dentro pra fora, em prol da percepção integradora do todo.

Tudo isso é real e factível. E está no coração do ESG.

*Carlos Prado é CEO do Grupo Tour House

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