Por Bayard Do Coutto Boiteux*
Desta vez, a linda Bali, na Indonésia, vai sediar um evento, criado pela Organização Mundial do Turismo, agência especializada da ONU, com o tema “Repensando o Turismo”. A data se refere a adoção dos estatutos da OMT, em 1970, e acontece desde 1980.
Minha primeira reflexão é que atividade turística precisa mudar. E não apenas no discurso, mas nas vozes e nos projetos. No caso específico do Brasil e do Rio de Janeiro, são as mesmas lideranças, os mesmos políticos com pouca resiliência e sobretudo vontade de inovar e lutar por um setor que vise uma forma efetiva de junção da comunidade anfitriã com aqueles que nos visitam. Para minha tristeza, vejo muitos encontros, muitos sorrisos, muito egocentrismo, aproveitamento dos cargos e pouca criatividade e luta, assim como saber exigir e pleitear de forma mais eficaz, políticas públicas e privadas, como fazem tão bem outros segmentos.
Minha segunda percepção é como somos geralmente vistos. Um setor de glamour, de sonhos, mas que no fundo não tem muito compromisso com a realidade social. Fazer do Turismo uma forma de melhoria da qualidade de vida dos mais desfavorecidos e do entorno dos produtos turísticos. Nosso desafio é reduzir desigualdades sociais e introduzir formas de geração de dinheiro novo e empregos.
Por outro lado, sinto uma desmotivação muito grande dos colaboradores da área. Com salários pouco atrativos e falta de planos de carreira, com raras exceções vivem sempre à busca de novas oportunidades com retenção reduzida de quadros nas empresas.
As faculdades de turismo vão desaparecendo. Hoje, basicamente são públicas e muitas no sistema EAD. Falta um compromisso com reciclagem contínua, formação em movimento e financiamento de projetos de pesquisa e de amadurecimento laboral. Poucos se interessam por continuar estudando e o pior poucas empresas se oferecem para pagar possibilidades de melhoria de desempenho.
Os eventos, sempre no mesmo formato, com os mesmos palestrantes, muitas vezes patrocinadores dos mesmos, com seu discurso de positividade ao extremo ou com repetições de chavões. Mais interessados em aparecer em fotos, os participantes acabam pagando caro para sair sem conteúdo de inovação, de benchmarketing ou de possibilidade de algum tipo de revolução interna ou externa. Há também uma criação de conventions bureaux, que não mostram para o que vieram e acabam tomando o lugar de entes públicos, que vivem até hoje, a fascinação pelo entretenimento da população no lugar da estruturação das suas cidades.
Não temos nenhuma liderança no legislativo que efetivamente nos represente. Há inúmeros deputados, que perto das eleições reaparecem com seus projetos mirabolantes, mas esquecem os eleitores do Trade durante seus mandatos. Fora os que se aproveitam de seus cargos públicos no Executivo para preparar suas campanhas ou utilizá-los como currais eleitorais.
Talvez seja sim o momento de repensar, de cabeça fria, sem medo de contrariar interesses de poderosos, com uma vontade de questionar e caminhar diferente, com cabeça erguida e sem conselhos de administração ou pequenos favores pessoais pontuais. Claro, temos cases de sucesso, que nos dão esperança e nos mostram, embora com pouca repercussão muitas vezes que nossa Etica está no nosso pensar, na forma como escolhemos nosso entourage, aprendendo a deixar para trás, o que não mais nos pertence e conclamando todos a buscar experiências de serviço, de cultura, de sustentabilidade, de afeto pelo outro e pela Humanidade.
O Dia Mundial do Turismo nos remete à Escolhas, à Democracia e ao Pluralismo, fundamental para nossa sobrevivência, não só empresarial, mas como indivíduos que sobrevivem a uma Pandemia e que precisam de paz e saúde mental para prosseguir nos seus projetos….
*Bayard Do Coutto Boiteux é professor, jornalista e escritor
*Fonte: Diário do Turismo; Foto: divulgação/Arquivo PTT