Vinicius de Moraes faria 109 anos neste 19 de outubro

Por Albenísio Fonseca

É um fato que a vinda de Vinicius de Moraes para Itapuã (Salvador-Ba), em 1974, foi consequência do seu envolvimento afetivo com Gesse Gessy. Mas a primeira vez que Vinicius de Moraes viu a atriz foi numa pizzaria do Leblon, no Rio, em 1969.

Ele, carioca, já era um dos maiores poetas brasileiros e um dos pais da Bossa Nova. Ela, atriz do Cinema Novo baiano, estava na companhia da cantora Maria Bethânia e de outros conterrâneos que moravam na capital carioca.

Depois de receber um recado (que diz guardar até hoje) com o número do telefone de Vinicius, Gessy ouviu de Bethânia: “O poeta está apaixonado por você”. Esperto, Vinicius combinou com todos que estavam à mesa com a atriz que, aos poucos, saíssem do restaurante e deixassem Gessy sozinha. E foi assim que ele, aos 56 anos, conquistou a bonita morena de 31, de ascendência índia e portuguesa.

Nem tudo era poesia. A história de amor com Gessy Gesse começou com Vinicius ainda casado com Cristina Gurjão, grávida de cinco meses e abandonada pelo poeta, encantado pela baiana, que se tornou sua sétima mulher. Eles se casam em 1969, no Uruguai e, em 1973, na Bahia, em um ritual cigano, tendo Jorge Amado como um dos padrinhos.

Foi somente depois do casamento que Vinicius decidiu construir uma casa em Itapuã. As obras, iniciadas em 1974, tiveram projeto de Jamison Pedra e Sílvio Robatto. O cômodo mais singular da casa de seis quartos era o banheiro da suíte do casal, de cuja banheira tinha o privilégio da vista para o mar, um bar com bebidas variadas e a máquina datilográfica ao alcance da mão.

A música sempre esteve presente na vida de Vinicius de Moraes. Sua avó materna e sua mãe eram pianistas. Seu pai, além de escrever poesia, tocava violão.

Em 1953, Vinicius compõe seu primeiro samba, “Quando tu passas por mim”, criando letra e música. Em Paris, em 1955, compõe uma série de canções de câmara junto com o maestro Cláudio Santoro.

Mas é em 1956 que ocorre o encontro que mudaria os rumos da MPB: Vinicius convida Antonio Carlos Jobim para criar a trilha sonora de sua peça “Orfeu da Conceição”, uma adaptação para o ambiente dos morros cariocas do mito grego de Orfeu, deus da música que desce aos infernos em busca da amada, Eurídice. Davam início, então, à parceria que, ainda, incluiria João Gilberto e daria origem à bossa nova.

“Garota de Ipanema”, de 1965, ultrapassa fronteiras. Ganha atenção mundo a fora, torna-se na mais famosa das canções da bossa nova e permanece como uma das músicas mais executadas do planeta.

A repercussão foi tamanha que conquistou ícones da música, sendo interpretada por Frank Sinatra, Madonna, Ella Fitzgerald, além do próprio Tom e João Gilberto, entre outros.

Helô Pinheiro, a garota de Ipanema que inspirou a dupla Tom e Vinicius, é filha de um general que integrava o SNI à época da ditadura militar.

Impressionado ao ver uma apresentação de Baden Powell, Vinicius convidou o jovem violonista para um trabalho. No fim de 1962, trancam-se no apartamento do letrista por quase três meses. Compunham compulsivamente e bebiam idem. Saldo: 25 canções e 20 caixas de uísque Haig’s.

Entre as músicas, os fundamentais afro-sambas, gravados pelos autores em 1966, destaca-se o Samba da Bênção, com emocionante parte falada; Vinicius se diz “o branco mais preto do Brasil”, pede a bênção a todos os sambistas do País “branco, preto, mulato”; e o primeiro verso soa como um manifesto de vida: “É melhor ser alegre que ser triste”.

Ressalte-se que Vinicius nunca ia à praia. Segundo Rilza Galo, “ele gostava de admirar as (bundas das) baianas preparando acarajé”. Sobre “Tarde em Itapuã”, a história da composição tem um dado pouco revelado.

Vinicius escreveu o poema e pretendia levar para Dorival Caymmi por a música. Toquinho, no entanto, pediu à Gesse Gessy que lhe “roubasse” o poema. Fez a harmonia no Rio e trouxe para Vinicius, na Bahia. * Foto:  viniciusdemoraes.com.br

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