Chico César e Geraldo Azevedo fazem show em Salvador

Por Eugênio Afonso

 

Quase 20 anos de idade separam o paraibano Chico César, 58, do pernambucano Geraldo Azevedo, 77. Mas, em compensação, há muito mais aproximação e semelhança do que distância entre eles. Ambos são nordestinos e grandes compositores, fazem parte do time de craques da MPB, têm o violão como base e um universo harmônico e melódico bem similar.  Juntos, os dois cantautores apresentam, em Salvador, neste sábado, às 19h, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, o show  Violivoz.

A apresentação dará origem ao DVD que leva o nome da turnê, já que Salvador foi a cidade escolhida para a gravação do disco/vídeo digital. Foto: Marcos Hermes / Divulgação.

 

Para o cantor petrolinense, estar ao lado de Chico é sempre uma felicidade, afinal “fazer música sozinho é bom, mas tocar junto é melhor. A música também existe para isso, para celebrar a vida e a amizade”, enfatiza Geraldo. Chico faz coro com o amigo.  “Nós gostamos da troca, do encontro. Entendemos música como a arte do encontro”.

Geraldo diz ainda que Violivoz é uma grande celebração da música nordestina. “Um encontro de gerações e de canções eternizadas na memória afetiva de muitos brasileiros. Chico César é um artista fenomenal, um compositor maravilhoso. É um prazer enorme somar com ele no palco. Selecionar o repertório foi o mais difícil, pois somos dois compositores com um repertório autoral muito extenso”.

Identidade e afeto

De acordo com o autor de Mama África, as músicas que serão apresentadas foram escolhidas pelo critério do afeto. “Serão as canções de Geraldo que eu tenho vontade de cantar, de tocar com ele. As minhas canções que Geraldo tem vontade de tocar comigo. Isso obviamente coincide bastante com o gosto do público porque nós somos público um do outro. Então, há muitos hits de ambos os repertórios”.

Uma sábia decisão, porque o público, sobretudo o de grandes espaços abertos como a Concha, costuma ir aos shows embalado pelo desejo de poder  cantarolar com o ídolo. Sendo assim, os fãs podem ficar sossegados porque o repertório não vai decepcionar.

Vai ter Dia Branco, Deus me Proteja, É só Pensar em Você, Moça Bonita, Onde Estará o Meu Amor, Taxi Lunar, Bicho de 7 Cabeças, Quando Fevereiro Chegar, Mama África, dentre outras tantas. Além disso, os dois ainda fizeram duas músicas juntos. Uma durante a pandemia, Nem na Rodoviária, e outra nos ensaios, Tudo de Amor.

“Além das duas faixas em parceria com Geraldo, o Violivoz é repleto de canções da trajetória de cada um de nós, onde cantamos juntos ou um canta e o outro acompanha no violão”, endossa Chico.

Influência baiana

Geraldo diz que a escolha de Salvador para a gravação do DVD tem a ver com o local – a Concha Acústica – e com o fato da capital baiana ser uma cidade muito especial para eles.

“Foi bem difícil, pois fomos muito bem recebidos em todos os lugares por onde passamos. Decidimos pela Concha Acústica do Teatro Castro Alves pelo espaço em si, que é perfeito para essa filmagem”, explica o pernambucano.

Originário de Petrolina, cidade vizinha a Juazeiro (Ba), ele conta que sempre teve muita ligação com a Bahia e que sua maior influência musical foi o pai da Bossa Nova, o juazeirense João Gilberto. Já Chico César prefere relacionar sua admiração pela terra de Caymmi, lembrando que é descendente de africanos e que, até por isso, tem uma identificação muito forte com a baianidade.

“Sinto que a minha música sempre teve essa condição diaspórica. E, ao longo do tempo, foi se fortalecendo a consciência de que a música nordestina é uma música africana. A Bahia me enxerga como um artista que traz coisas novas, que tem uma herança, mas que a transforma em uma outra história”, pontua Chico.

Ambos gostam de enfatizar que produzem música para chegar ao coração das pessoas. “Marcando suas vidas de alguma forma. Dia Branco é um ótimo exemplo desse querer, pois simboliza o amor na vida das pessoas”, sinaliza Azevedo.

Chico pondera ainda que a música só existe se for para compartilhar. “Se fica só para mim, eu posso esquecê-la. Uma pessoa ou outra vai se ligar numa canção que você não deu a menor atenção e isso a mantém viva. Compartilhar é fazer uma espécie de sarau, um jeito de você ir abrindo ao público, em vez de guardar em casa. As pessoas se tornam responsáveis pelas canções também”, acredita o paraibano.

Admiração mútua

Amigos de longa data, a admiração que um sente pelo outro é evidente. O autor de Moça Bonita, por exemplo, confessa que a música de Chico César o remete a amizade e generosidade.

Chico, que é bem mais jovem, retribui dizendo que “tão importante quanto tentar aprender as canções de Geraldo, que o público do Brasil canta aos brados, é observá-lo abrir-se para aprender as minhas e nos misturarmos. A minha música deriva incondicionalmente da dele. Não seria de outra maneira”.

Para finalizar, e para tristeza dos aficionados por discos físicos, Geraldo avisa que o DVD só será lançado virtualmente. “Eu adoro o produto físico. Gosto de abrir o disco, ver o encarte, as letras das músicas. Mas parece que o mercado já não absorve mais tal demanda. Então, vamos fazer apenas o lançamento digital”. *Fonte: Portal A Tarde.

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