Por Jorge Mangorrinha
O arquipélago de Quiribati fica no oceano Pacífico e é constituído por 33 ilhas, com atóis e recifes espalhados por uma vasta área, abrangendo da Micronésia à Polinésia. É o único país do mundo com territórios nos quatro hemisférios da Terra.
A ilha Caroline, que foi o primeiro território do mundo a entrar no terceiro milênio, foi renomeada ilha do Milênio, porque este é o primeiro país do mundo a mudar de ano. Na reunião da Nova Zelândia entre peritos em turismo, onde estive presente, o representante viajado do atol de Taraua, a capital de Quiribati, alertou ser este “um dos países mais suscetíveis às mudanças climáticas e ao consequente aumento do nível dos oceanos”.
Este foi um tema central nesta reunião acerca do turismo na Oceânia que, aliás, já se arrasta há décadas em discussões internacionais. É comum dizer-se que, com uma subida do nível do mar de mais de um metro e meio, centenas de milhões de pessoas morreriam. Esta ameaça tem sido a peça central das negociações sobre mudanças climáticas, a principal questão enfatizada pelos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS). Estes já estão ameaçados por marés crescentes, ciclones, inundações, colheitas danificadas, aumento de doenças, inundação de áreas costeiras e perda de abastecimento de água doce.
A era pós-industrial do consumo em massa de combustíveis fósseis acelerou dramaticamente a quantidade de dióxido de carbono para níveis perigosos, danificando o ambiente e a infraestrutura de muitos SIDS e outras regiões de baixa altitude. Na Organização das Nações Unidas (ONU), 43 dos menores países insulares e costeiros de baixa altitude do mundo, representando os Estados-membros mais suscetíveis às mudanças climáticas, formaram uma coligação chamada Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS).
Embora a AOSIS represente mais de um quarto dos países do mundo, juntos eles respondem por menos de um por cento das emissões globais de carbono. Sem compromissos adequados para fazer cortes profundos nos aumentos de temperatura causados pelas emissões de gases de efeito estufa no mundo, pequenas ilhas vão desaparecer.
O que é necessário para superar os desafios políticos é uma solução duradoura e pragmática e uma política climática realista e substantiva que garanta o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável em todas as regiões do mundo. O problema também está na moeda de troca, tal como referiu o representante de Quiribati: “Quanto mais barulho fazemos, mais assustamos investidores e turistas, que são o nosso próprio sustento.”
Embora a frustração possa prevalecer entre os SIDS, eles têm sido cruciais para lançar as mudanças climáticas para a agenda da ONU. O argumento é que, essencialmente, se se perder um país que é membro da ONU, isso representa por si só um sério problema internacional. É por isso que a AOSIS defende que o mundo tem a obrigação moral de garantir que nenhum Estado insular seja deixado para trás. Urge, portanto, redesenhar o sistema para um padrão sustentável de crescimento económico de baixo carbono. “Ao garantir-se a existência de pequenos Estados insulares, como o nosso, salva-se toda a existência global”, disse o representante de Quiribati, concluindo: “Queremos continuar a ser o primeiro país do mundo a mudar de ano.”
*Fonte: Diário de Notícias/pt; Fotos: divulgação.