Por Paulo Roberto Sampaio*
Três anos depois, escorraçado pela pandemia da Covid, eis que desembarco em Portugal, em muito levado pelo convite do amigo e ex-colega de redação, jornalista Nelson Rocha, hoje cidadão lusitano pela afinidade que tem com a terra de Camões.
Escolho o velho centro histórico, região do Rossio, ou ao menos onde tudo parece perto, para ser minha base. O tradicional bondinho, os ônibus ligando a Praça da Figueira à meia cidade, incluindo o castelo de Belém e sua tradicional pastelaria onde segue sendo feita por quase 200 anos o tradicional pastel de Belém, aquela delícia saboreada em quase toda Lisboa, mas sob o nome pastel de nata. O gosto pode até se assemelhar ao de Belém, mas a marca é exclusiva da casa e diz tudo.
Perto também a pé do Castelo de São Jorge e em especial do Bairro Alto, uma espécie de Pelourinho lusitano, mas que nos faz despertar uma pontinha de inveja. Sim, inveja, na falta de outra palavra que traduza o sentimento que urge entre nosso velho e amado Pelô e as ruas, becos, ruelas, bares, botecos e restaurantes do Bairro Alto de Lisboa.
Tudo começa pela proliferação de endereços, pelo estilo aconchegante e criativo na decoração de cada casa, pelo ir e vir sem hora para começar nem acabar, em especial a partir do fim da tarde, que nesta época do ano costuma acontecer por volta das 20 horas, fazendo fervilhar pela madrugada a dentro toda a região.
As ruas parecem higienizadas com um alvejante que além do aroma de limpeza deixam nas pedras do calçamento um brilho especial. Na parte baixa, ainda nos calçadões do Rossio, praça do Comércio e Largo da Figueira, um distraído ou desavisado turista há de pensar que havia chovido há pouco pelo brilho emanado das pedras portuguesas.
Mas voltando ao Bairro Alto, o que mais o diferencia do nosso querido Pelourinho… Diria que a segurança. Registros de violência de qualquer natureza são tão raros que comerciantes ou frequentadores não recordam do último que tenham testemunhado.
Isso faz com que verdadeiras levas de turistas da Europa, de todo o mundo e até mesmo portugueses, tanto de Lisboa quanto de todo o país, elejam esse pedaço encantador da cidade para terminar o dia saboreando um bom drinque, um bolinho de bacalhau ou uma das muitas iguarias que fazem da cozinha portuguesa uma referência na Europa, incluindo-se aí uma diversidade reforçada pela influência da cozinha italiana, também muito presente com suas massas saborosíssimas.
Resultado: o aeroporto de Lisboa é um dos mais movimentados da Europa, principalmente no fluxo turístico; suas noites são das mais agitadas entre as capitais do continente, com a vantagem do ir e vir a pé e com segurança.
Para nós baianos, que já pagamos o preço alto de 8 horas de vôo ao menos da Europa para cá, precisamos levar em conta que as belezas naturais somam muito, que o câmbio nos favorece, que nossas praias, de águas mansas e mornas são fascinantes e o câmbio nos ajuda bastante, mas nem tanto e não basta.
Temos de reforçar a segurança, oferecer serviços como banheiros higienizados em todos os estabelecimentos e qualificar nossa mão de obra, até porque Lisboa fica logo ali e não custa nada dar uma chegadinha até lá para ver como a bela capital lusitana realizou o milagre de se tornar hoje uma das mais visitadas capitais da Europa, onde todos ganham com isso.
*Paulo Roberto Sampaio é diretor de Redação da Tribuna