Um dia conheci Rita Lee…

 

* Por Gorgônio Loureiro 

Eu morava em São Paulo, estudava publicidade na ESPM, trabalhava na Editora Abril. Morava na Rua Maria José 400 Ap 04 no Bexiga. Emmanuel Roberto Públio Dias ( Mano), já era meu amigo junto com Zé Bocão, Gordo, Bira Lopes Câmara, já namorava Marlene, os
Cães Vadios já existiam e éramos nós.

Dentro desse cenário de vida de um baiano chegando em São Paulo em março de 1972, vivia desbravando e sempre buscando novas experiências paulistanas. Em São Paulo, claro, quem procurava achava vivências das mais variadas formas e tensão. Foi numa dessas surpresas que a cidade reservava para quem nela buscava e vivia, que conheci outra baiana que também morava lá. Suzy Spencer, filha da conhecida e querida atriz baiana Nilda Spencer, que trabalhava como produtora de Rita Lee que acabava de gravar o disco Tutti-Frutti e estavam trabalhando no lançamento do disco.

Conversando com Suzy sobre o que fazia em SP, logo ela pensou em me levar para conhecer Mônica Lisboa, empresária de Rita, que morava no Pacaembu, se a memória não me trai, depois de 51 anos. No primeiro encontro que tivemos, ela falou do desejo e objetivo de fazer um forte lançamento deste disco pois ele estava muito bom e com certeza seria um sucesso e se eu poderia ajudar no trabalho desse lançamento.

Como já disse, Mano era meu amigo e também fazia publicidade na ECA. Conversei com ele sobre o assunto e nos juntamos para escrever o plano de comunicação e logo também surgiu a necessidade de fazer um projeto de patrocínio, pois a proposta do lançamento era nacional. Uma excursão do Rio Grande do Sul até o Amazonas. Aí foi lançado o desafio que encaramos por ter conhecido o projeto e acreditar nele. E foi aí, quando se vislumbrava essa maratona de shows, que conhecemos Rita pessoalmente na casa de Mônica. Um contato curto e com alguma distância e mesuras.

Uma empresa aérea seria necessária para viabilizar o projeto e fomos atrás delas. VASP, VARIG e Transbrasil, esta, a única que conseguimos apresentar nosso projeto de patrocínio e ser aprovado depois de meses de negociações com o diretor de marketing senhor
Thomas, americano que gostava de Rita Lee.

Foram realizados shows em SP com tremendo sucesso e a turnê nacional seria iniciada em São Bernardo, depois Porto Alegre no Ginásio do Beira Rio. Nesse caso já com a parceria da Transbrasil. Em S Bernardo, senhor Thomas foi e conheceu Rita no camarim. Ficou super feliz, uma felicidade de fã e não de patrocinador que via o ginásio cheio. Daí foram shows em outras capitais, cidades, todas com sucesso retumbante.

Vamos cortar a cena e chegar até Salvador. Show marcado para o Teatro Castro Alves à noite e a tarde, eu ainda em São Paulo, mas com passagem de embarque já marcada para Salvador, recebo uma ligação do velho e saudoso amigo Rêmulo Pastore, na época jornalista do Jornal da Bahia. Ele ficou sabendo que o então delegado de entorpecentes, acho que Juvenal…, ia no teatro dar uma batida no camarim de Rita em busca de drogas. Pego o telefone e ligo pra falar com Mônica no Hotel, ali na ladeira da Barra, onde hoje é a casa da França e aviso pra ela do que poderia acontecer, e aconteceu. Minutos antes de começar o show, Rita recebeu a visita do delegado no seu camarim onde nada foi encontrado… Como se diz, segue o barco pra Lapinha ou o show pelo Nordeste acima, lotando de fãs todos teatros e ginásios. Eu voltei para meu trabalho e faculdade em São Paulo.

Vale dizer, que os meus deslocamentos não eram problema já que minha comissão pela venda do patrocínio para a Transbrasil foi paga em bilhetes aéreos. Então, eu tinha um talão dado pela Transbrasil, que só era chegar nos aeroportos e embarcar. De Salvador eles subiram e fui encontrá-los novamente em Fortaleza, num final de semana maravilhoso com oTeatro José de Alencar muito bonito e cheio. Retornei para São Paulo e nosso próximo encontro viria a ser em Belém.

Por indicação da amiga Malu Alencar, fomos jantar no restaurante “Lá em Casa” onde fomos recebidos por D. Maria, a sua fundadora. Hoje o tradicional “Lá em Casa” é tocado por sua neta 3ª geração, filha de Paulo 2ª. Rita adorou a comida paraense do Lá em Casa. Mas, uma chateação nos aguardava para o outro dia e uma surpresa para os dias seguintes. Ficamos sabendo a tarde que iria precisar de um alvará do juizado de Menores, que a produção tentou tirar a tempo mas não saiu. Rita, a banda (com Lee, Luiz Carlini e os gêmeos de back vocal, são que lembro) toda no ginásio, as ruas lotadas de gente batendo nas portas querendo entrar, e para acalmar o povo, tiveram que colocar caixas de som viradas para rua e Rita teve que falar com o público que faria o show no outro dia e que os ingressos valeriam.

Tudo bem, povo acalmado, alvará tirado, todos no ginásio preparados, e de repente, eu na porta do ginásio, percebo uma movimentação de pessoas e carros estranhos… Ligo minhas antenas e vejo que são policiais que iam entrar direto para o camarim de Rita buscando drogas mais uma vez. Me apresso para chegar antes avisando a todos sobre o que iria acontecer logo logo. Aconteceu e nada aconteceu pois nada tinha para acontecer. Tudo ótimo, lindo show, e agora, rumo à Manaus para finalizar a gloriosa turnê. Mas para nossa surpresa, veja o que aconteceu.

Fomos até a Transbrasil em Belém para marcar o voo para Manaus. Acontece, que os aviões da época (1976) eram o Jatões Boeings 727 e nos seus porões de carga, não caberiam toda parafernália utilizadas nos shows… E agora, o que fazer? Qual alternativa? Em barco em cinco dias, não tinha como. Decisão, encerram – se os shows em Belém, mas precisávamos ir até Manaus por causa do contrato com a Transbrasil e de Manaus para SP. Fomos cumprir tabela. Chamo meu amigo e parceiro Mano para passear em Manaus usando nossas passagens da comissão e ele foi… Hoje, vendo uma entrevista que ela deu para Pedro Bial onde fala do medo de avião, lembrei de como ela viajava, encolhida e sem falar com ninguém.

Chegamos em Manaus : hotel ao lado do teatro, passeios pelo rio a noite para ver a pesca de jacaré, compras na zona Franca disfarçada ou camuflada como queiram, e para surpresa de todos, aparece Rita no corredor do hotel de boné e andando de esqueite para desespero de Mônica com medo dela cair e se machucar, já que ela não sabia andar em cima daquele troço que estava surgindo aqui no Brasil pela Zona Franca de Manaus. A noite fomos convidados para o aniversário do filho da filha do dono do hotel e no outro dia embarque para São Paulo. Assim acabou essa maravilhosa turnê de Rita Lee para lançar o disco Tutti Frutti que é sucesso até hoje.

Voltando para SP perdi o contato com todas elas, sendo que uma vez, estava embarcando com meu filho Thomaz e encontrei com ela no aeroporto de Congonhas. Falei com ela, mas já tipo, lembra de mim, sou Gorga, que fizemos aquele trabalho, ah sim lembro…é seu filho??
E foi só como conheci Rita Lee.

*Gorgônio Loureiro é jornalista, presidente da Federação Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Turismo – Febtur.

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