Por Hieros Vasconcelos Rego
Falar do Porto do Moreira é difícil: todos os melhores jornalistas, escritores, artistas, escrivinhadores dessa Bahia e desse Brasil têm textos sobre este ponto/tradição que reúne histórias, fatos, lembranças e memórias. Ali é antiguidade e contemporaneidade: borbulharam ideias, anamneses, recordações e atualidades. Era, assim me disseram, de tudo um pouco: a cerveja gelada, a comida gostosa, do molho pardo à bisteca, nada era ruim, nem mesmo a discordância. Memória afetiva que até mesmo quem não viveu, imagina.
Da trupe do jornalismo setentista, deduze-se, tinha Marrom, Jamil, Paulinho Lima, Aurora, Celene, Jolivado, Jorginho, Carlos Libório, França Teixeira, Linalva Maria (saudades), Socorro, e tantas e tantos que vi e admirei.
Olivia Soares, ‘Bubu’, Cissa, Vanderlei Carvalho… Valdemir. Nem sei se todos esses nomes frequentavam o Porto do Moreira, mas ali, quando olho, são essas pessoas que vejo. Lucia Ferreira, Nice Melo. Nem precisa falar em Caetano, Gil, Gal, Betha, Batatinha, Ederaldo Gentil, Riachão. A arte e a música se encontravam nos mesmos lugares, sem soberba: todos que viviam nos arredores dos teatros, que soletravam e recitavam aos soluços, aos gritos em plenos pulmões. Porto Moreira pulsava vida.
Hoje, se vê o Porto do Moreira em frente ao ponto de ônibus onde trabalhadores pegam o Ribeira ou o Massaranduba, lotados, suados, insuportavelmente cheios. Feirantes, ambulantes, floriculturas, de tudo existe em frente aquele lugar e quase ninguém vê a vivacidade dali. Entrar no Porto é como caminhar por corredores falantes. As paredes estão repletas de folhas de jornal: Alexandre Lyrio, André Uzeda, Eduarda Uzeda, muita gente escreveu sobre.
E ele continua ali, singelo, mas já não resistindo mais: está prestes a fechar as portas e deixará apenas na memória os momentos indiscutivelmente bons, o papo que já está de manhã, flor da madrugada que não volta mais. A geração 35+ passa e não vê – se preocupa com a tela da tv ou com o feed do Instagram. A noite da Carlos Gomes voltou a pulsar, mas o Moreira está ali, atrás, apagado, em pontos de drogas. Restaurante/bar/jóia rara: quem viveu, viveu.
Genildo Lawinsky conta: “Era moleque, França Teixeira me levava lá dia de sexta principalmente, todo mundo da rádio, ia de galera todo e era a tarde inteira. Ia junto pessoas que eram amigos como Carlos Alberto de Andrade que foi promotor de justiça e chefe do MP, mais recente, já nos anos 80, depois veio, Josair Bastos. Eu ia com Carlos Libório, Washington Souza filho, essa galera. Jolivaldo não sei, nunca encontrei”
O Porto do Moreira não abriu nesse domingo. Não tem um WhatsApp. O telefone fixo ninguém atende. Mas ele está ali.Com seu galo, acordando a madrugada da velha CG. Fonte: Tribuna da Bahia.