França aposta na redução da diferença de preços entre viagens de avião e trem

 

A França vai dar o pontapé de saída no sentido de aumentar os impostos sobre os voos para investir mais no transporte ferroviário, segundo o seu ministro dos transportes, Clément Beaune, mas diz que este tem de ser feito em conjunto com outros países. Esta medida visa tornar as viagens de comboio na Europa mais atraentes, reduzindo a diferença de preços entre os bilhetes de avião e os de comboio.

“Muitas pessoas ficam chocadas com o fato de muitas vezes ser mais barato apanhar um avião do que um comboio”, disse o governante à emissora francesa RMC, citado pela euronews.com, que dá conta de um panorama semelhante em todo o continente. Por isso, referiu que isto tem de ser feito em conjunto com outros países.

“Não faz sentido ter um imposto sobre o combustível em França se não o tivermos na Alemanha ou em Itália”, explica. “Precisamos de uma ação europeia”, defendeu Clément Beaune.

Esta decisão francesa vem ao encontro de uma análise que a Greenpeace acaba de publicar que mostra que apanhar um comboio custa, em média, o dobro do que voar. O relatório, que comparou os custos dos bilhetes de avião e de comboio em 112 rotas na Europa, incluindo 94 ligações transfronteiriças, concluiu que os bilhetes de avião são quase sempre mais baratos.

A ONG denuncia que os caminhos-de-ferro estão a ser “minados” por condições de concorrência favoráveis às companhias aéreas e apresenta propostas para tornar o transporte ferroviário mais atrativo, “numa altura em que a Europa enfrenta vagas de calor e incêndios florestais e o tráfego aéreo se debate com atrasos e cancelamentos maciços”.

A aviação, segundo o relatório, é um dos setores mais prejudiciais para o clima e mais injustos do mundo, dado que afeta todo o planeta, apesar de envolver apenas 1% da população mundial, sendo ainda a que mais cresce, como fonte de emissões de gases com efeito de estufa, entre os transportes.

Uma das principais razões para esta disparidade, segundo a euronews.com, é o fato de o setor da aviação beneficiar de impostos mais baixos. E dá como exemplo que, num voo de Paris para Barcelona, a companhia aérea não só não paga IVA, como também está isenta do imposto sobre o combustível. Se fizermos a mesma viagem de comboio, a empresa ferroviária paga um imposto sobre a energia e um IVA sobre os passageiros. Isto significa custos mais elevados para a empresa, que se refletem nos preços dos bilhetes.

O jornal cita também Jo Dardenne, diretora de aviação do grupo de campanha de transportes limpos Transport and Environment (T&E), que destaca que “numa situação de crise climática, conceder isenções fiscais a um setor super poluente é incompatível com os desafios atuais”, que congratula-se com os planos da França e espera que se possa ir mais longe no futuro. A T&E calculou que, se todas as isenções fiscais do setor da aviação fossem suprimidas em toda a Europa em 2022, seriam arrecadados 34,2 mil milhões de euros.

No entanto, em resposta ao movimento francês, a maior associação de companhias aéreas da União Europeia, Airlines for Europe, disse à Euronews Green que “a França já impõe algumas das taxas de voo mais elevadas da União Europeia. Aumentá-las ainda mais não vai garantir mais financiamento para a descarbonização da aviação ou mais investimentos nos caminhos-de-ferro”.

A importância da aviação para a economia e para o setor do turismo também é importante. O aumento das taxas levaria a um aumento dos preços dos voos, o que poderia levar a uma diminuição das viagens. Fonte: Publituris.pt.

Dardenne, segundo notícia do mesmo jornal, contrapõe que a crise climática é uma ameaça muito maior para o turismo e aponta o exemplo dos incêndios florestais e das ondas de calor na Europa este verão, que têm perturbado as férias no continente.

Refira-se que a Comissão Europeia tem estado a trabalhar num futuro “Regulamento relativo aos serviços de mobilidade digital multimodal” para melhorar o processo de reserva de bilhetes de comboio, autocarro e avião.

A proposta deverá ser apresentada no outono, embora dez associações europeias e internacionais tenham assinado uma carta aberta em junho, instando a Comissão a ser ambiciosa, depois de se ter noticiado que a proposta seria uma versão diluída dos planos originais.

A União Europeia está também a tentar reformular os seus impostos sobre a energia. Pretende introduzir um imposto sobre o combustível e tornar os combustíveis mais ecológicos mais baratos, mas atualmente não existe unanimidade no bloco.

A Greenpeace acredita que é preciso ver mais dos governos, e apela à introdução de bilhetes climáticos – bilhetes simples e económicos de longo prazo, válidos em todos os meios de transporte público de um país ou de uma região definida. Denuncia no seu relatório que os preços atuais dos comboios vão “na contramão da emergência climática”.

O grupo também quer que as instituições da União Europeia se envolvam na criação de um bilhete climático transfronteiriço. Segundo a organização, este poderia ser financiado através de impostos sobre os lucros excecionais, da eliminação progressiva dos subsídios às companhias aéreas e de um sistema de tributação justo baseado nas emissões de CO2.

Os dados da organização ambiental Greenpeace, transferidos para um gráfico da Statista, mostram que é no Reino Unido e Espanha onde a diferença de preços entre os dois meios de transporte é mais acentuada, sendo o bilhete de comboio quatro vezes mais caro em média do que o bilhete de avião. Já, em França e na Bélgica, para o mesmo trajeto, viajar de comboio é, em média, 2,6 vezes mais caro do que de avião. Apenas um país é uma exceção, a Polónia, onde a opção ferrovia custa geralmente metade do preço do avião.

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