Turismo esportivo: Atins, nos Lençóis Maranhenses, é destino para praticar o kitesurf
Por Juliana Vieira
Ventos fortes e constantes tornaram o sossegado vilarejo Atins, povoado de Barreirinhas (MA), em uma excelente opção para a prática do kitesurf. O local é mundialmente reconhecido como um dos melhores destinos brasileiros para a atividade, que utiliza prancha e uma grande pipa (ou kite) para velejar. O que alguns ainda não sabem é que suas águas rasas e tranquilas fazem dele o lugar ideal também para quem deseja iniciar no esporte, seja na água salgada ou doce.
“A nossa praia é uma lagoa do mar, é um braço de mar”, explica Renato Cortez, instrutor de kitesurf, sobre o extenso trecho da praia de Atins na foz do rio Preguiças. Por conta disso, há poucas ondulações, tornando o aprendizado mais fácil. “Onda empurra o aluno, cobre a prancha. É por isso que aqui é um dos melhores picos do Brasil para se aprender kite“, afirma.
Também é possível velejar em uma das lagoas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses que ficam próximas ao vilarejo. Essa característica foi, inclusive, um dos principais motivos que levaram o paulista Renato a abrir uma escola de kitesurf na vila. “Temos as lagoas, que é uma coisa diferente, é um diferencial. Estamos aqui nos Lençóis Maranheses, onde as lagoas são próximas ao mar”, conta Cortez.
Há, no entanto, algumas distinções entre velejar no braço de mar e nas lagoas do Parque, que vão além da diferença de salinidade da água e de cenário. O instrutor Mailton Silva ressalta que não há onda nenhuma nas lagoas, um aspecto muito positivo para quem está aprendendo, mas o vento é rajado por conta da presença de dunas altas — diferente da praia de Atins, onde o vento é mais constante, sendo melhor para a prática.
“Imagina uma bacia: não é o mesmo vento dentro da bacia e fora da bacia, o vento passa por cima”, exemplifica Mailton, que nasceu em Atins e é responsável por uma escola de kitesurf na localidade. Assim, as pipas podem precisar ficar mais altas durante o velejo na lagoa.
Cayo Shimuk, cearense que mora no povoado há seis anos e, nos últimos cinco, tornou-se instrutor de kitesurf, prefere praticar na praia de Atins, considerando o vento e o fato de haver mais espaço do que nas lagoas do Parque. “No Nordeste, aqui [na praia de Atins] é um dos melhores lugares para aprender a velejar”, avalia. Mas conta que muitos turistas têm predileção pelas lagoas por conta da coloração da água e da exuberância da paisagem. “Os dois lugares são incríveis”, complementa.
Segundo Mailton, em julho, quando os ventos começam a ficar mais fortes, o destino recebe mais kitesurfistas brasileiros. Em agosto e setembro, os velejadores estrangeiros lotam as águas. Em geral, paulistas, mineiros e fluminenses são o principal público, conta Cayo.
Diferente do surfe, que precisa de ondas e de um preparo físico maior, o kitesurf exige apenas boas condições de saúde e disposição, e pode ser praticado por adultos, idosos e até mesmo crianças. “Temos pipa para isso. Temos equipamento para qualquer idade”, esclarece Silva.
As escolas de kitesurf da região oferecem curso com dez horas de duração para iniciantes, e fornecem os equipamentos necessários, incluindo os de segurança. As aulas começam na areia, onde o aluno conhece as bases do esporte. Depois, segue para o controle da pipa dentro da água em área rasa. Por último, o aprendiz une o kite à prancha, sendo acompanhado pelo professor via rádio comunicador.
“A galera chega à prancha por volta da quarta hora, normalmente, e aí é só alegria, é o que todo mundo quer: velejar. É um esporte em que você se sente livre”, diz Shimuk. Quem conclui o curso está preparado para velejar, mas não de maneira independente. “Tem que continuar fazendo mais aulas para se tornar independente”, recomenda o instrutor.
Os maranhenses Saulo Prazeres, de 40 anos de idade, e Jethro Raposo, de 39, praticam kitesurf há 13 e 7 anos, respectivamente. Saulo conheceu Atins em 2009, durante velejo que partiu de Tutoia (MA), e Jethro teve seu primeiro contato com a vila em 2016. Eles gostaram tanto do povoado que decidiram construir uma casa no local juntamente com outros amigos velejadores.
E o lazer virou negócio quando resolveram transformar o imóvel no hotel Vila Aty, em atividade há quase três anos. “O empreendimento começou por causa do kitesurf. Queríamos ter uma lugar perto da praia onde nos sentíssemos em casa sempre que estivéssemos em Atins velejando. E é essa a sensação que tentamos transmitir aos hóspedes do hotel: de estar em casa”, relata Saulo.
Conhecedor da região e do esporte, o empresário recomenda a prática do kitesurf nos meses de julho a dezembro, período em que os ventos estão mais fortes. “O ponto alto é entre setembro e novembro”, destaca.
Vilarejo
Atins possui localização estratégica para conhecer o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, pois fica situado a apenas 2,5 km do início das dunas e lagoas do Parque. A calmaria e rusticidade de suas ruas de areia convidam à contemplação da natureza, atraindo turistas de várias partes do país e do mundo.
O destino agrada tanto a quem deseja um lugar mais tranquilo para descansar quanto aos amantes do turismo de aventura. O Canto dos Lençóis, também conhecido como Canto do Atins, reúne algumas das mais belas lagoas da região que proporcionam banhos relaxantes, como a Lagoa Tropical e a Lagoa das Sete Mulheres. Também é possível praticar esportes como kitesurf, wakeboard, caiaque e stand up paddle.
O acesso a esse vilarejo de natureza preservada pode ser feito por terra — em veículo 4×4 percorrendo trilhas de areia — ou pelo rio Preguiças, em barco ou lancha, todos partindo do centro de Barreirinhas.