A sexta edição da Feira Literária de Mucugê (Fligê) começa esta semana já como marca no calendário cultural brasileiro. Desde sua criação em 2016, o evento não apenas cresceu em escala, mas também, após dois anos de interrupção devido à pandemia de covid-19, mostrou novamente em 2022 sua habilidade de criar um cenário no meio das paisagens da Chapada Diamantina para debates aprofundados sobre a cena literária nacional.
O homenageado deste ano é o compositor José Carlos Capinan, cuja trajetória está ligada ao movimento tropicalista. Ele é coautor de músicas ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jards Macalé, Edu Lobo, Paulinho da Viola, João Bosco, Francis Hime, Gereba, Torquato Neto e Zé Ramalho, entre outros. Capinan também é autor de nove livros, incluindo “Confissões de Narciso”, “Terra à vista”, “Inquisitorial” e “Vinte canções de amor e um poema quase desesperado”, no qual compartilha informações dos bastidores do processo de criação de várias canções da Música Popular Brasileira (MPB). Foto: divulgação.
Aos 82 anos, Capinan é membro imortal da Academia de Letras da Bahia. “Ele é um guerreiro da lírica literária, um poeta engajado que dialoga com várias gerações”, destaca Ester Figueiredo, curadora da feira.
Atividades
As atividades da Fligê ocorrem tanto na cidade de Mucugê quanto na Vila de Igatu – foto -, que faz parte do município vizinho de Andaraí. Nesta edição, o foco é explorar as interações entre literatura e música, observando como diversas expressões musicais dialogam com o mundo literário. A curadora destaca que a intenção é debater aspectos como o ritmo das narrativas literárias, os sons presentes na escrita e as diferentes formas de leitura em diversos meios. Foto, crédito Rita Barreto-Arquivo PTT.
No primeiro dia da sexta edição, aconteceram oficinas, desfiles e shows para animar o público. A cerimônia oficial de abertura ocorrerá no segundo dia, nesta quinta-feira (17), e as atividades se estenderão até o domingo (20). Toda a programação, além das tradicionais discussões literárias, gira em torno do tema literatura e música. Isso engloba até mesmo os filmes que serão exibidos no Fligê Cine, bem como as atividades da Fligêzinha, voltadas para crianças e que incluirão brincadeiras e contação de histórias.
O evento também apresentará mostras estudantis, sarais e concertos que abrangem tanto a música clássica quanto o repertório popular, abordando também formas artísticas como o cordel e o repente. A curadora Ester ressalta que esses momentos refletem a abordagem curatorial deste ano.
Dentre os destaques, estão artistas que transitam entre a literatura e a música. Arnaldo Antunes, renomado na cena musical, também é um escritor premiado com o Prêmio Jabuti. Chico César possui obras direcionadas ao público infantil, e embora Emicida não esteja presente nesta edição, ele também é conhecido como cantor, compositor e escritor.
Outro nome notável é o jornalista e ex-ministro Franklin Martins, autor de “Quem Foi que Inventou o Brasil? A Música Popular Conta a História da República”. Ele participará de uma mesa de discussão sobre esse assunto. Além disso, a cantora e compositora Letrux e o escritor baiano Itamar Vieira Junior, vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 com “Torto Arado”, estarão presentes. Itamar lançou recentemente “Salvar o Fogo”, e a presença dele destaca os aspectos melódicos e ritmados de seus romances, que se passam no cenário da Chapada Diamantina, seguindo o curso do Rio Paraguaçu.
Um dos tópicos em destaque no evento será o impacto das possibilidades tecnológicas. A inovação tem permitido que escritores explorem novos formatos, como o uso de QR Codes para conectar textos literários a músicas, como fez o rapper MV Bill no livro de crônicas “A Vida Me Ensinou A Caminhar”. Autores voltados para o público infantil também têm explorado dispositivos interativos que emitem sons e músicas. Ester enfatiza que essa intersecção entre tecnologia e música está entre os tópicos abordados na programação do evento. Fonte: Jornal da Chapada.