Museu de Arte Moderna da Bahia abre exposição em celebração aos 100 anos de Mário Cravo Jr.

 

Um dos mais importantes artistas do movimento modernista das artes na Bahia, o escultor, gravador, desenhista e professor, Mario Cravo Jr. (1923-2018), é homenageado pelo Museu de Arte Moderna, com inauguração da exposição comemorativa Mario Cravo Jr – Legado – 100 anos nesta terça-feira (29), às 17h, no primeiro pavimento do Casarão do Museu (Av. Lafayete Coutinho, s/n – Comercio, Salvador – BA). Foto, crédito Mário Cravo Neto.

São cerca de 60 quadros pintados sobre madeira e tela, parte da coleção que foi doada ao Estado da Bahia, composta por pinturas, esculturas, desenhos e serigrafias produzidas nos anos 1980 até meados da década de 1990. A maior parte das obras estavam no ateliê do artista no Espaço Cravo, no Parque Metropolitano de Pituaçu (Orla Atlântica de Salvador), onde também havia uma edificação para exposições e obras de arte expostas ao ar livre. O parque é administrado pela Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), mas as obras ficaram sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura (SecultBA) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

Para Luciana Mandelli, diretora Geral do IPAC, a exposição celebra o centésimo ano de nascimento do artista baiano e faz uma justa homenagem a este que é um expoente da geração de artistas modernistas da Bahia. “Com o novo sistema estadual de museus, instalado em nossa gestão, estamos qualificando e diversificando o perfil das nossas exposições que são apresentadas para o público. Mario Cravo Jr. deixou o seu legado e segue uma referência viva para muitos artistas. Suas obras estão em processo de transferência de salvaguarda para o Museu de Arte Moderna da Bahia e apresentá-las ao público é motivo de muito orgulho para a Bahia”, afirma Luciana.

De acordo com a diretora do Museu, Marília Gil, a exposição apresenta a expressão vigorosa e criativa desse artista baiano. “Para nós é uma honra conservar e promover obras de uma trajetória tão rica e produtiva de um modernista baiano da importância de Mario Cravo Jr.”, afirma Marília. De acordo a diretora, duas das esculturas que estavam na antiga sede dos Correios, no bairro da Pituba, em Salvador, também farão parte do acervo do MAM em um segundo ato da exposição, ainda sem data confirmada.

O Museu de Arte Moderna da Bahia é administrado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, unidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Funciona de terça-feira a domingo, de 10h às 18h. Mais informações: (71) 3117-6132 e 3117-6139 (segunda a sexta, 9h às 12h e 13h às 15h) e www.mam.ba.gov.br.

MAM e obras públicas

 

O curador da mostra e atual diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC Bahia), Daniel Rangel, destaca que Mario Cravo Jr. foi um dos primeiros interlocutores artísticos de Lina Bo Bardi, primeira diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia e autora do restauro do Solar do Unhão, em Salvador. “Mario foi também o segundo diretor do museu, entre 1966 e 1967, e agora grande parte da sua produção passa a fazer parte desse museu”, completa Daniel. Foto, crédito Geral Moniz

Daniel explica que essa exposição não é uma retrospectiva, mas sim um pequeno recorte do acervo doado e produzido nos anos 80 e 90. Segundo o curador, Mario Cravo possui o maior número de obras instaladas em locais públicos na capital baiana. “Além das obras do Parque de Pituaçu, ele fez a antiga ‘Sereia’ de Itapoan, no início da Avenida Dorival Caymmi, a ‘Cruz Caída’ na antiga Sé e o busto de Ruy Barbosa no Fórum da cidade”, relata Daniel Rangel. Ele lembra ainda a fonte diante do Elevador Lacerda e o monumento Clériston Andrade, na Avenida Anita Garibaldi, dentre muitos outros.

Sobre Mario Cravo Júnior

Nasceu em Salvador (1923) e faleceu na mesma cidade (2018). Foi escultor, gravador, desenhista e professor universitário. Filho de um próspero fazendeiro e comerciante, Mario da Silva Cravo e Marina Jorge Cravo (prima do poeta Castro Alves), a família morava na Ribeira de Itapagipe quando Mario, o primeiro de quatro filhos, nasceu. A família veio de Alagoinhas numa tentativa de se instalar em Salvador, mas em poucos anos retornaram à Alagoinhas pois seu pai foi eleito prefeito da cidade. A política esteve presente na vida de seu pai, apesar de ser comerciante e fazendeiro, uma tradição de família. Também escreveu um livro, “Memórias de um homem de boa fé” (1975). Já sua mãe gostava de literatura e poesia, sendo responsável pelos primeiros contatos de Mário com os livros.

Na fase escolar retorna a Salvador para estudar, onde frequenta o Colégio Antônio Vieira. É nesse período que ele descobre sua habilidade para o desenho e seu interesse pela astronomia. Depois, Mario experimenta a argila do Rio Itapicuru, onde experimenta pela primeira vez o esculpir. Nesta mesma época, embora tenha montado um observatório na fazenda que seu pai comprou no interior da Bahia, sua vontade de se tornar um astrônomo foi liquidada pelo fato de saber que teria de estudar engenharia e daí por diante fazer cálculos de maré. Em 1945 casa-se com Lúcia e desta união nascem quatro filhos, o primeiro é Mario Cravo Neto (1947-2009) o renomado fotógrafo.

Mario Cravo Jr. executa suas primeiras esculturas entre 1938 e 1943, período em que viaja pelo interior da Bahia. Em 1945, trabalha com o santeiro Pedro Ferreira, em Salvador, e muda-se para o Rio de Janeiro, estagia no ateliê do escultor Humberto Cozzo (1900-1973). Realiza sua primeira exposição individual em 1947, em Salvador. Nesse ano, é aceito como aluno especial do escultor iugoslavo Ivan Mestrovic (1883-1962) na Syracuse University, no Estado de Nova York, Estados Unidos, e, após a conclusão do curso, muda-se para a cidade de Nova York.

De volta a Salvador, em 1949, instala ateliê no Largo da Barra, que logo se torna ponto de encontro de artistas como Carlos Bastos (1925-2004), Genaro de Carvalho (1926-1971) e Carybé (1911-1997). Em 1954, passa a lecionar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Entre 1964 e 1965, mora em Berlim, patrocinado pela Fundação Ford. Retorna ao Brasil em 1966, ano em que obtém o título de Doutor em Belas Artes pela UFBA e assume o cargo de diretor do Museu de Arte da Moderna da Bahia (MAM/BA), posição que ocupa até 1967. Em 1981 coordena a implantação do curso de especialização em gravura e escultura da Escola de Belas Artes da UFBA. Em 1994, doa várias obras para o Estado da Bahia, que passam a compor o acervo do Espaço Cravo, localizado no Parque Metropolitano de Pituaçu, em Salvador.

Sobre o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – O IPAC é uma autarquia vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) e atua de forma integrada e em articulação com a sociedade e os poderes públicos municipais e federais, na salvaguarda de bens culturais tangíveis e intangíveis, na política pública estadual do patrimônio cultural e no fomento de ações para o fortalecimento das identidades culturais da Bahia. Mais informações: www.ipac.ba.gov.br.

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