522 anos – As mil e uma faces da Baía de Todos-os-Santos

Por Albenísio Fonseca

Com contorno litorâneo de 300 quilômetros, e a navegar na idéia de que o Estado deve a ela o próprio nome, a BTS-Baía de Todos os Santos é na realidade um golfo composto por três baías, sendo a de Aratu, que comporta o porto do mesmo nome – abrigo da movimentação de 60% de toda a carga baiana em modal marítimo – e a (vendida) Refinaria Landulfo Alves.

São mais de 1.000 km², 56 ilhas e 17 municípios que compõem o Recôncavo Baiano. Berço da civilização colonial lusa nas Américas, a Baía de Todos os Santos abrigou no século XVI o maior porto exportador do Hemisfério Sul, de onde eram enviados às metrópoles européias a prata boliviana e o açúcar brasileiro, sendo o porto de Salvador o que mais recebeu escravos africanos no Novo Mundo.

A BTS é marcante, ainda, pela retilínea e íngreme escarpa tectônica, onde está assentada Salvador: “Mais belo exemplo de um bordo cristalino de fossa costeira existente em toda a América do Sul”, e que converte a cidade em verdadeiro belvedere.

Sua preservação foi legislada através do Decreto Estadual 7.595 (de 5 de junho de 1999), como área de proteção ambiental – APA Baía de Todos os Santos. Denominada Kirimurê (grande mar interior) pelos tupinambás, é considerada a segunda maior baía do mundo e do Brasil.

PROJETOS SEGUEM À DERIVA

Sim, afinal, onde andam os programas para a revitalização do tráfego de mercadorias pela BTS? Em qual gaveta ficou à deriva a inconclusa Via Náutica?

O que atrofia a implantação, na Avenida da França, de um espaço que poderia conter o Memorial do Recôncavo com centros de exposição e conferências, biblioteca, anfiteatro, Museu do Saveiro e tudo o que proporcione às novas gerações vivenciar a memória cultural desta região?

Onde estariam assoreados os planos de desenvolvimento para revigorar os estuários do Jaguaripe, Paraguaçu e Subaé? E os programas de assentamento das imensas marginais ao longo desses rios para produzirem bens agrícolas em cooperativas com alta tecnologia produtiva?

Cadê a maricultura sustentável e cooperativada, que distribuiria riquezas para as vilas de pescadores? Sim, e o inquérito sobre contaminação de mercúrio no pescado e em crianças da Ilha de Maré por chumbo e cádmio?

Velejamos, ainda, no cenário marcado por forte desigualdade social, com cerca de três milhões de habitantes e mais de 200 empresas e indústrias ou na maré dos seus principais conflitos ambientais, que envolvem pesca com explosivos, lançamentos de efluentes domésticos e industriais, ocupação desordenada do solo, desmatamento, disposição inadequada de resíduos sólidos, caça predatória, extrativismo descontrolado de crustáceos e moluscos, ocupação de áreas de preservação permanente.

Com as fundamentais iniciativas de estudos em caráter multinstitucional e multidisciplinar, malgrado os parcos recursos e desarticulação entre si, falta à BTS um Projeto Metropolitano que considere todos os aspectos científicos, culturais, artísticos e ambientais, na abrangência dos 14 municípios por ela beneficiados diretamente, outros três por sistema insular (através de rios), e que reanime a economia regional sem a inconsistência de pontuar, unicamente, a vocação em torno da rentável, mas predatória, indústria do turismo, ainda que com expressiva extensão de recifes de corais, estuários e manguezais, além da intensa relação com a história do Brasil, façam da BTS um pólo turístico por excelência. #

Foto: crédito Nelson Rocha – Arquivo PTT.

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