Por Hieros Vasconcelos Rêgo
“Aqui em Salvador a impressão que tenho é de que vou entrar num universo à parte, numa redoma de alegria, numa catarse. Já estava vivendo essa ebulição dentro de mim com a efervescência toda que foram os últimos dias no verão daqui. Mas agora parece que vou entrar num portal, sabe?. Uma explosão de sentimentos toma o peito. Mexe muito comigo, é meio que visceral. Parece que há um sentimento coletivo de felicidade e ao mesmo tempo tudo pode acontecer”.
Foi com este sentimento que a turista e antropóloga paraense, Cecília Boa Sorte, previu que acordaria nesta quinta-feira (8), após vinte dias à espera do carnaval na capital baiana, ‘se aprofundando pela segunda vez’, como preferiu se referir ao seu momento. E sentimento similar é o de muita gente que levantou hoje na cidade diante da expectativa para a maior festa popular do mundo.
Com o mote Salvador Capital Afro, o carnaval soteropolitano é aberto oficialmente nesta quinta-feira (8) com um Encontro de Trios na Castro Alves e prometendo ser um dos maiores dos últimos tempos: além da diversidade musical, com programações variadas que se estendem também em palcos nos bairros da cidade, a festa vem se democratizando cada vez mais e dando opções de folia para todos os gostos e possibilidades.
O investimento dos poderes públicos, aliada a explosão de alegria, de cultura, de entretenimento e democracia projetou o carnaval soteropolitano a nível mundial, tornando a capital um dos destinos preferidos de estrangeiros e de brasileiros do Oiapoque ao Chuí. Como diz o povo: “Tem turista para todo o lado”.
Se antes mesmo da abertura oficial, a cidade já estava lotada com os visitantes curtindo o verão, as praias, os festejos e ensaios, agora com a chegada do carnaval as ruas da cidade se transformam em uma grande miscelânea cultural e de povos de diversos estados e países, acomoda visitantes da França, Espanha, Argentina, Chile e muitos estrangeiros de países africanose.
E a tendência é aumentar: a Empresa Salvador Turismo (Saltur), estima que pelo menos 1 milhão de pessoas passem pela primeira capital do Brasil. Já estimativa da Secretaria de Turismo do Estado (Setur-BA) é de um fluxo de quase 3 milhões de turistas durante a festa, na capital e no interior.
Do Santo Antônio Além do Carmo ao Rio Vermelho, e até mesmo em pontos não turísticos, o que mais se vê, além dos moradores, são milhares de turistas de todos os tipos, com câmeras nas mãos e brilho nos olhos vivenciando e na espera de um momento que faz parte da construção da identidade social e popular da cidade.
“Eu só acompanhava o Carnaval pela televisão e ouvia falar pelos meus amigos que era o melhor carnaval do mundo. Eu achava que era exagero, mas quando a gente chega em Salvador é algo tão peculiar, tão contagiante que agora entendo. Aqui os problemas ficam passado”, comenta, aos risos, o carioca e professor de História na UFRJ, Cadu Campos Oliveira, 37 anos.
Ele chegou na capital baiana no dia 25 de janeiro e desde então não parou de sair um dia sequer para as festas nas ruas. “No entanto, o número alto de turistas também tem trazido algumas reclamações nas redes sociais, principalmente sobre aqueles que chegam sem consciência social e sem respeito a cultura local, destratando baianos ou achando “que podem tudo em qualquer lugar”.
Não é o caso da dançarina norte-americana Emna Han, 33 anos, chegada a cidade há uma semana. “passei carnaval no Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte, mas o de Salvador é realmente muito especial porque são milhares de pessoas coladinhas, trocando suor, energia. Mas tenho visto muitas turistas falando como se tivessem que ser apenas servidas. Com muita rispidez, pressa, impaciência como se o nativo fosse submisso à vontade deles”, contou.
Um dos memes que circula bastante nas redes “Salvador não é casa de noca: Bom dia, por favor, obrigado, chegue na paz, trate bem o comerciante local e trate a cidade como se fosse a sua”, diz um deles. Para o turismólogo Eduardo Santana, é de se esperar que parte do que ele chama ‘ turismo predatório’ também seja atraído pela ‘boom’ de Salvador como destino turístico. E a dica dele é que o setor de serviços não se deixe humilhar, se posicione com casos de qualquer tipo de discriminação.
Fonte: Tribuna da Bahia
Foto: Manu Dias -GovBA – Arquivo Portal Turismo Total
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