Etnoturismo: roteiros indígenas contribuem para o empoderamento cultural

 

Por Sabrina Fernandes

No coração do Brasil, o contato com os povos originários geram conexões profundas entre viajantes, além de conhecimento de saberes ancestrais.

               Experiências em meio aos povos indígenas atraem viajantes do mundo inteiro.

Por muitos anos e até hoje, os povos indígenas e originários foram tratados como “distantes” para grande parte dos brasileiros. Mesmo sendo minoria, povos originários representam 0.6% da população brasileira. São 1.227.642 pessoas que se identificam como indígenas e vivem em 775 territórios em diferentes fases do procedimento demarcatório, de acordo com dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022.

Aldeia Shanenawa, vivências com banhos ritualísticos de ervas e de argila, pintura corporal, consagração de medicinas da floresta – Foto: Divulgação
Aldeia Shanenawa, vivências com banhos ritualísticos de ervas e de argila, pintura corporal, consagração de medicinas da floresta.

 

 

 

Dia 19 de abril é celebrado no Brasil o Dia dos Povos Indígenas, os responsáveis por proteger um terço das florestas do país por meio de seu estilo de vida. Nos últimos 35 anos, cuidaram de mais de 20% da vegetação nativa brasileira, de acordo com uma análise do Instituto Socioambiental (ISA) pelo manejo sustentável de suas terras, na agricultura, caça, pesca e uso de materiais. O turismo em aldeias, quando feito de maneira responsável e sustentável também é uma das poderosas formas de devolver para eles o protagonismo de contarem sua história em suas próprias palavras, de criarem emprego e renda e se manterem fortes e seguros em suas terras.

“Nunca na nossa história tínhamos tido essa oportunidade”. Essa frase foi dita pelo Cacique Teka Shanenawa, do povo shanenawa do Acre. A comunidade foi criada por ele há 15 anos, e hoje faz parte de roteiros da Vivalá – Turismo Sustentável no Brasil, recebendo viajantes do Brasil e do mundo, que contribuem e fortalecem a economia, a cultura e os negócios locais, como o artesanato. Um dos exemplos de como o turismo pode gerar impacto positivo está dentro da família do cacique. Suas duas filhas puderam sair da aldeia e cursar faculdade em Rio Branco (AC).

O respeito e o comportamento adequado em experiências na natureza e junto a comunidades tradicionais – Foto: Divulgação
O respeito e o comportamento adequado em experiências na natureza e junto a comunidades tradicionais. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“O turismo sustentável na aldeia Shanenawa tem trazido muito aprendizado, conhecimento e ajuda financeira, dando oportunidade às pessoas de realizarem cursos, graduações e capacitações fora da aldeia, para que, posteriormente, sejam aplicados dentro dela. Estamos divulgando nossa cultura, fortalecendo nossa comunidade e gerando emprego e renda dignos. O turismo sustentável da Vivalá veio somar. Nenhuma outra instituição construiu tanto e tão rapidamente conosco”, afirma o cacique.

Turismo nas aldeias fortalece as comunidades

Mas não basta realizar o turismo, é preciso ter responsabilidade socioambiental. “Para que a gente tenha um turismo positivo, é muito importante compreendermos a relação histórica que temos no país, nos apresentando uma grande oportunidade de fazermos uma reparação, através de experiências extremamente profundas para ambos os lados, os viajantes e as comunidades”, explica Dani Shanenawa, líder de campo da Vivalá no Acre.

A Vivalá atua com o turismo sustentável, turismo de base comunitária (TBC) e de aventura há quase uma década em 24 unidades de conservação brasileiras, entre elas, vivências indígenas na Aldeia Shanenawa (AC), Kariri-Xocó (AL) e Tenondé-Porã (SP). Ao todo, 27 expedições de Etnoturismo já foram realizadas, levando mais de 320 viajantes, ajudando a preservar 44 mil hectares de área protegida e injetando cerca de meio milhão de reais, de forma direta (compra de serviços de TBC) e indireta (injetado pelos viajantes, em compra de artesanato, alimentação, medicina tradicional, presentes e etc).

Visita à agrofloresta da Aldeia Shanenawa, plantio de árvores, muita música e danças tradicionais – Foto: Divulgação
Visita à agrofloresta da Aldeia Shanenawa, plantio de árvores, muita música e danças tradicionais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais do que esses números, com o turismo nessas áreas, diversas melhorias são realizadas, até mesmo em questões como a infraestrutura de hospedagem, banheiros, acesso à água potável, refeitórios, regularidade jurídica e fiscal e bancarização, entre outras questões indígenas que ainda são presentes na realidade destas comunidades. Ações para saúde também fazem parte da atuação, como uma parceria com a Pantys contra a pobreza menstrual, que capta doações e as reverte em calcinhas absorventes sustentáveis, que são entregues para pessoas que menstruam em aldeias indígenas. Durante as entregas também são realizadas rodas de conversa sobre o tema; além de capacitações de profissionais e oportunidades para pessoas empreendedoras das comunidades.

Conheça as Experiências:

Expedição Amazônia Aldeia Shanenawa

Terra Indígena Katukina Kaxinawá, Acre

No coração da maior floresta do mundo, a Amazônia, e dentro de um dos estados com a maior diversidade de povos indígenas do Brasil, se encontra a Aldeia Shanenawa, do povo Shanenawa, conhecido como povo do pássaro azul. Neste lugar repleto de fauna e flora, com tradições muito preservadas e grande acolhimento de seus moradores, a vivência atrai viajantes do mundo inteiro, que buscam uma profunda conexão com a natureza e consigo mesmo, além de aprendizados e novas formas de ver o mundo.

Expedição Kariri-Xocó

Terra Indígena Kariri-Xocó, Alagoas

Outra forma de adentrar territórios indígenas de maneira consciente, autorizada e profunda é no encontro da Caatinga com a Mata Atlântica, às margens do Rio São Francisco e na divisa de Alagoas com Sergipe, onde habita o povo Kariri-Xocó. A expedição é repleta de muita natureza e saberes ancestrais. Grande parte das vivências acontecem no espaço cultural criado pela comunidade, inclusive o ritual do Toré, – uma consagração de medicinas tradicionais da floresta, como a Jurema e o rapé -, banhos ritualísticos, oficina de ervas, danças, músicas e navegação com mergulho no Velho Chico.

Expedição Tenondé-Porã

Terra Indígena Tenondé-Porã, São Paulo

Para quem busca uma vivência mais curta, mas também muito significativa, a boa notícia é que existem roteiros acessíveis e próximos da capital mais populosa do país. A expedição para a terra indígena Tenondé-Porã é perfeita para conhecer os hábitos, a luta por autonomia e a resistência do povo Guarani.

A terra indígena Tenondé Porã tem uma extensão aproximada de 16 mil hectares, abrangendo cerca de 10% da totalidade da cidade de São Paulo e de outros três municípios. É possível caminhar pelas exuberantes trilhas do território e vivenciar o nhanderekó (modo de ser) do povo originário que vive e resiste nas fronteiras da maior metrópole do Brasil. A experiência pode ser realizada em um único dia e é excelente para quem está na capital paulista e quer ter uma vivência junto à natureza, mergulhando nos seus saberes ancestrais.

Novos roteiros são protagonizados por indígenas

Rituais mostram aspectos da sabedoria ancestral de indígenas de diferentes etnias – Foto: Divulgação
Rituais mostram aspectos da sabedoria ancestral de indígenas de diferentes etnias 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma das novidades para 2024 são as novas opções de enriquecimento cultural por meio de outros povos originários. O povo Yanomami, localizado na maior terra indígena do Brasil, a Terra Indígena (TI) Yanomami, com 2,2 milhões de hectares entre o Amazonas e Roraima. Serão lançados dois roteiros de aventura em parceria com a comunidade.

Expedição Monte Roraima
Parque Nacional Monte Roraima

O Parque Nacional Monte Roraima fica na fronteira do Brasil com a Venezuela. Acerca do monte há uma cosmologia envolvida, cheia de lendas, espiritualidade e cosmovisões. O roteiro, com estreia prevista para o meio de 2024, será guiado pelos anfitriões indígenas Taurepang, e contará com a subida ao Monte e uma linda experiência de imersão na cultura local e no folclore Makunaima, que compreende os aspectos sacros da sabedoria ancestral de indígenas de diferentes etnias.

Expedição Yaripo
Parque Nacional do Pico da Neblina e Terra Indígena Yanomami, Amazônia

A expedição ao Pico da Neblina, ou Yaripo, – como chamam o pico em Yanomami -, irá estrear no segundo semestre deste ano e terá experiências feitas com exclusividade pelos próximos três anos. A atração, considerada a maior aventura do Brasil, ficou fechada de 2003 a 2022 e é retomada agora tendo a Vivalá como uma das duas empresas que conseguiu a anuência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) para realizar o etnoturismo na área e o credenciamento pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A maior montanha do Brasil possui 2.995 metros e fica dentro do Parque Nacional do Pico da Neblina e da Terra Indígena Yanomami, a maior do Brasil.

Fonte: JP Turismo – Fotos: divulgação.

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