Teatro Vila Velha de Salvador comemora aniversário de 60 anos com início da campanha de celebração

Nascido sob a essência da multiplicidade, entre a vanguarda e o popular, a sagração do Vila foi marcada pela diversidade, entre 31 de julho a outubro de 1964, quando, curiosamente, houve de tudo, logo no início, menos teatro. A primeira peça apresentada no Vila, pela Cia. Teatro dos Novos (CTN), só estreou no fim daquele ano, em dezembro, tendo a pitoresca participação da primeira Escola de Samba da Bahia: a Juventude do Garcia.

Revisitando seu passado e olhando para o futuro, o Vila reconta sua história e se prepara para uma nova era de produções, parcerias e projetos. Foto: divulgação.

 

Criada em 1959, mesmo ano de fundação da Juventude do Garcia e da época da Escola de Samba Filhos do Tororó, a CTN – Companhia Teatro dos Novos, já construía desde as décadas de 1950 e 1960 o diálogo com a variedade de expressões artísticas, grupos, movimentos sociais e linguagens que pulsavam nas comunidades, instituições e entidades da Bahia. Por essa razão, as Escolas de Samba de Salvador, tiveram um lugar especial na inauguração do Vila. Relembrando ainda nesse ciclo as apresentações da Madrigal da Universidade da Bahia, o Coro dos Franciscanos, o Festival Vivaldi, grupo de Bumba Meu Boi, entre outros.

“O icônico show “Nós, Por Exemplo”, com Caetano, Gil, Bethânia, Tom Zé, Gal Costa, entre outros artistas da época, participou da inauguração, que teve 12 espetáculos, orquestras sinfônicas, corais, bandas… Mas realmente um marco dessa inauguração é a Escola de Samba Juventude do Garcia. Você ter um teatro inaugurado por escola de samba é uma coisa inédita. Eu não sei se é o primeiro ou único, mas foi”, confirma Márcio Meirelles, diretor artístico do Teatro Vila Velha.

Escrevendo novos capítulos dessa rica história, O Vila segue em constante movimento de expansão, inovação e experimentação.

CAMPANHA VILA 60

 

O Teatro Vila Velha prepara para este ciclo de celebração de 60 anos a campanha VILA 60, que reúne um conjunto de peças de comunicação e conteúdos para diferentes formatos e suportes, assim como a construção de um novo site e a difusão de seu acervo histórico por meio das diversas plataformas de streaming.

O VILA OCUPA A CIDADE

O programa “O Vila Ocupa a Cidade” vem ao longo do ano de 2024 realizando uma série de ações, criações e colaborações, que mantém o Teatro Vila Velha atuante e presente em diversos outros teatros e espaços culturais da capital baiana, enquanto durar a obra de reforma, financiada pela Prefeitura de Salvador. A marca de um espaço em constante experimentação, formação artística e diálogo com a sociedade, em suas mais diversas linguagens. Nessa perspectiva de fruição, muitos desses eventos e projetos ocupam desde janeiro o Museu de Arte da Bahia (MAB), como têm ocupado outros espaços da cidade.

REFORMA DO TEATRO VILA VELHA

Como já é de ampla divulgação nos meios de comunicação, o Teatro Vila Velha está em processo de uma reforma completa, através de um contrato com a prefeitura para a requalificação do espaço. Recentemente, a Prefeitura de Salvador publicou o edital para a contratação da empresa que realizará as obras. Conforme o documento, o orçamento para o contrato será de R$ 13.066.894,73 e terá um prazo de um ano, para a vigência do contrato e 10 meses para a execução dos serviços, a partir da data da assinatura da 1ª ordem. O texto ainda detalha que a abertura da licitação está prevista para o dia 5 de agosto, às 10h.

“A perspectiva de entrega é para 2025, porque a gente abriu a licitação agora e tem esse processo todo, começar a obra. Acho que podemos falar do primeiro semestre de 2025. É importante até dizer que essa obra na verdade não atrasou essa abertura de licitação. Foi uma mudança de estratégia para aumentar a dimensão e escopo da intervenção. E aí foi uma decisão em conjunto da gente fazer um projeto mais bem acabado”, explica o secretário.

Amostrão Vila Verão no projeto O Vila Ocupa o MAB 2024 – Foto- Icaro Sena.

 

O encenador e diretor artístico do Teatro Vila Velha, Márcio Meirelles, relembra que “Em 1961 o terreno do Passeio Público de Salvador foi cedido, pelo governador Juracy Magalhães, ao grupo Teatro dos Novos, para a construção do Vila. O Prefeito, Virgildásio Sena, que tinha sido Secretário Municipal de Obras na gestão anterior, muito apoiou a construção. No dia 31 de julho de 1964, o Vila foi inaugurado com o apoio da Prefeitura de Salvador e do Governo do Estado da Bahia. 59 anos depois, em 2023, o Prefeito, Bruno Reis, que foi Secretário Municipal de Obras na gestão anterior, fez uma visita para conhecer o teatro, levado por Pedro Tourinho e Fernando Guerreiro. E, pela importância do Vila para a cidade, estado e país, oferece o investimento municipal para sua reforma e requalificação. No primeiro semestre de 2025, o Vila, que tem apoio financeiro para sua manutenção do Governo do Estado, será reinaugurado com esse investimento da Prefeitura”.

PIA BATISMAL

“Pia batismal dos artistas baianos”, como definiu Gilberto Gil, que, junto à Bethânia, Caetano, Gal Costa e Tom Zé, começou a sua carreira no Vila, com o show “Nós, Por exemplo”, que inaugurou o teatro em 1964. O Vila continua sendo um dos mais atuantes centros de formação, criação e difusão das artes cênicas no Brasil. Palco-natal de Othon Bastos, dos Novos Baianos, de Lázaro Ramos, Wagner Moura, Virgínia Rodrigues e dos grupos Bando de Teatro Olodum, Viladança, Cia de Teatro Novos Noves, VilaVox e de uma série de outros grupos, projetos e artistas. Foi também no palco do Vila que foram julgadas e aprovadas as anistias políticas do cineasta Glauber Rocha e do guerrilheiro Carlos Marighella, e o Estado Brasileiro pediu desculpas a suas famílias pelos atos criminosos durante o regime militar. Histórias que o acervo do Vila preserva através de registros audiovisuais, fotográficos, jornalísticos e diversos outros documentos e formatos.

Para ficar atualizado e bem informado sobre toda a programação de “O Vila Ocupa a Cidade” (um calendário amplo e intenso de ações, criações, atividades e espetáculos em outros espaços culturais da cidade),  acesse o instagram @teatrovilvelha e acompanhe as novidades nas redes sociais.

O Teatro Vila Velha conta com apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

UNIVERSIDADE LIVRE DO TEATRO VILA VELHA – 11 ANOS

 

Turma 2024 da universidade LIVRE do Vila Velha – Foto de Diana Carvalho.

 

Outro marco dessa trajetória é a criação, em 2013, da Universidade LIVRE do Teatro Vila Velha. A LIVRE é um programa de formação profissionalizante que inclui oficinas das artes do palco, com colaboradores locais, nacionais e internacionais. Periodicamente, são abertas convocatórias. Além da formação como atores, os participantes integram territórios nos quais aprendem e executam atividades nas áreas de gestão, comunicação, arquitetura da cena, memória, elaboração de projetos e audiovisual.

“A LIVRE é uma comunidade multidisciplinar, que surge com a necessidade de repensar a sociedade através do teatro. Propõe não só a reflexão, mas a ação, dando resposta a um teatro que encontra dificuldades para conservar seu público. É um espaço de troca sempre constante de conhecimento. Não temos professores, alunos, departamentos, mas projetos e experimentos…. Trabalhamos com dramaturgia, cenografia, iluminação, figurino, percussão, voz, corpo, tecnologia. Não há obrigação. O que nos interessa é o compromisso”, explica o diretor Marcio Meirelles.

NOVO VILA VIRTUAL / WEB-TEATRO

Em março de 2020, com a pandemia de Covid19, um Novo Vila virtual foi pensado, planejado e construído logo na primeira semana de confinamento. As primeiras atividades foram as da Padaria de Projetos, área que planeja a sustentabilidade do Teatro Vila Velha, na elaboração de projetos para captação de recursos. Em seguida foram as oficinas-experimento da universidade LIVRE e os ensaios da companhia teatro dos novos. Ao mesmo tempo, a recriação do palco em plataformas de transmissões; da memória, organizando, recuperando e exibindo os vídeos/registro de peças; do espaço expositivo, também em plataformas digitais; transformando o edifício físico num espaço virtual. No período pandêmico, duas exposições e seis espetáculos inéditos foram produzidos, encenados e transmitidos ao vivo, radicalizando a pesquisa em web-teatro desenvolvida pela Companhia Teatro dos Novos. Youtube: @teatrovilavelha,

PROJETO PÉ DE FEIJÃO/PROGRAMA DE FORMAÇÃO ARTÍSTICA PARA AS INFÂNCIAS E A EDUCAÇÃO

 

Apresentação do Projeto Pé de Feijão no Teatro SESC Pelourinho 2024. Foto: Felipe Matos.

 

 

Criado em 2016 pela diretora, curadora e coreógrafa Cristina Castro, o projeto Pé de Feijão Arte e Educação concluiu em 2024 sua terceira edição, promovendo um amplo trabalho de mediação cultural com foco na iniciação artística de crianças e adolescentes da rede pública de ensino, de comunidades e de instituições sociais, através do acesso gratuito a atividades culturais e educativas, unindo arte, sociedade, educação e ações de acessibilidade. A quarta edição será anunciada em breve.

TEATRO VILA VELHA/ HISTÓRIA

Escola de Samba Juventude do Garcia no Teatro Vila Velha em 1975. – Foto registro do Diário de Notícias.

 

O Teatro Vila Velha sempre foi um espaço de liberdade, desde a sua inauguração, em 31 de julho de 1964, exatos quatro meses após o Golpe Militar. O Vila reagiu à ditadura, acolheu artistas e estudantes perseguidos, abrigou encontros do movimento estudantil. Por toda essa história, foi sede da Anistia Internacional. Também no palco do Vila foram julgadas e aprovadas as anistias políticas do cineasta Glauber Rocha e do guerrilheiro Carlos Marighella, e o Estado Brasileiro pediu desculpas a suas famílias pelos atos criminosos durante o regime militar.

Em 2012 e 2013, o Vila abrigou o Movimento Desocupa, contrário aos abusos feitos pela administração municipal e, junto a ele, realizou o projeto “A Cidade que Queremos”, que discutia o futuro de Salvador. Mais tarde, apoiou o Movimento Passe Livre, que tinha o Passeio Público como quartel general.

É também histórica a luta do Vila contra o racismo, principalmente através do Bando de Teatro Olodum. A luta por respeito ao povo negro e, especialmente, à arte negra, levantada pelo Bando, serve de inspiração a muitos, e já transcendeu as fronteiras do Brasil.

Também a luta contra a discriminação à comunidade LGBTQIA+ tem palco no Vila, como a defesa da mulher, o acesso a artistas, projetos e ações que buscam a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência física.

Fazer Teatro Vila Velha é também construir no plural. Fundado pelo Teatro dos Novos, primeira companhia profissional de teatro da Bahia, foi berço de importantes grupos artísticos. Nasceram aqui o Teatrinho Chique-Chique, o Vilavox e a Companhia Novos Novos, hoje com sedes próprias. Aqui surgiu o Viladança e o Vivadança Festival Internacional, que coloca o Vila e a Bahia no circuito internacional de dança. Abrigou o Teatro Livre da Bahia, A Outra, o NATA – Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas, a Cia Teatro da Queda, a Supernova Teatro e o Bando de Teatro Olodum.

Este palco, chamado por Gilberto Gil de “pia batismal dos artistas baianos”, é lembrado com carinho por quem já passou por aqui e, por isso, costuma emocionar os que pisam nele pela primeira vez.

Editor: Nelson Rocha

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