Por Hieros Vasconcelos –
O dia 13 de outubro de 2024 foi especial para os brasileiros, mas principalmente para os baianos: em Salvador, se celebrou com toda o fervor que lhe é peculiar, os cinco anos de canonização de Santa Dulce dos Pobres.
No Santuário, localizado no Largo de Roma, na cidade baixa, duas missas marcaram o momento, uma às 8h30 e a outra às 16h. Logo pela manhã a praça se encheu de devotos e admiradores da Santa, que tem na Bahia e naquela região da cidade o marco de sua extensa trajetória de caridade e luta contra as desigualdades sociais.
No meio de tantas pessoas emanando fé, gratidão e pensamentos positivos em meio a orações, a aposentada Marluce Dias, 73 anos, segurava seu terço e olhava para o céu como quem agradecia por um milagre. Neste caso, ela não foi diretamente a abençoada.
“O milagre foi ela nascer, ter a força que teve para desenvolver essa benção que são as Obras Sociais Irmã Dulce. Ela é o milagre e a milagreira. Me emociono muito. Até porque convivi com ela pela cidade baixa, a víamos sempre. Ela parava na banquinha que lanchavamos, conversava, reclamava da falta de retorno de alguns políticos, bradava mesmo. Era pequena, franzina, mas era uma leoa quando se tratava de cuidar dos mais necessitados”, relembra.
Conhecida afetivamente como o Anjo Bom da Bahia, Irmã Dulce teve sua cerimônia de canonização presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano, no dia 13 de outubro de 2019. Sua memória litúrgica é celebrada em 13 de agosto.
Entre tantos santos católicos, vale ressaltar a curiosidade de que a canonização de Santa Dulce foi a terceira mais rápida da história, acontecendo 27 anos após sua morte. Mais rápida que a de Dulce, foi a de Joao Paulo II, nove anos depois e de Madre Tereza de Calcutá, 19 anos após ela ter falecido. Foram dois os milagres reconhecidos pelo Vaticano, além do milagre que está nos olhos do povo baiano: ter uma santa da terra conhecida mundialmente pela sua religiosidade e diversidade de crenças.
Após a missa, os devotos e admiradores fizeram uma procissão pelo Caminho da Fé, em direção à Basílica Senhor do Bonfim. Para quem mora ou muito andou pela região, fazer esse trajeto é uma honra, pois durante muitos anos foi o caminho percorrido por Santa Dulce. “Ela literalmente batia perna aqui. Pequena, franzina, mas ágil, ia e voltava quantas vezes fosse preciso para conquistar seus objetivos de assistir os mais necessitados, que eram muitos aqui”, lembra o taxista Osvaldo dos Anjos.
Gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres, Marcio Didier lembrou que as Osid, um dos grandes legados da Santa, abriga atualmente um dos maiores complexos de saúde do país, com atendimento gratuito. Por lá, passam cerca de três, conta Didier.
Assim como as Osid são referências, o complexo Santuário a cada ano aumenta o número de visitações. São cerca de 600 mil visitantes anualmente, uma média de 50 mil por mês. O reitor do Santuário, Ícaro Rocha, como sempre frisou a grandiosidade da canonização da santa baiana, que a projeta como um exemplo de bondade e de santidade mundialmente.
Celebração
A celebração começou no dia 10 de outubro, primeiro dia do Tríduo da Gratidão, que marca as comemorações dos cinco anos de canonização de Dulce.
História
Famosa pela resiliência e pela fortaleza que escondia por trás de um corpo franzino e frágil, a santa era reconhecida pela sua disposição de cuidar de enfermos e estar em locais onde ninguém tinha coragem de ir por causa da miséria e da enfermidade latentes.
A vida, obra e trajetória de Santa Dulce na Bahia é rica em histórias, registradas em livros, ou em reportagens. Chegou em 1935 ao lugar que receberia o nome de Alagados, um dos maiores bolsões de pobreza da cidade, e foi onde ela começou sua obra assistencial.
Nem mesmo o corpo pequeno, a aparente fragilidade a impedia de andar por aí, tocando enfermos, ajudando, levantando, abraçando, acobertando. Santa Dulce, o Anjo Bom da Bahia, hoje está nas casas, lares e estabelecimentos de quase todos os baianos. Fonte: Tribuna da Bahia.