Por Gláucia Campos –
Neste sábado, as vozes de Jussara Silveira e Sylvia Patricia se encontram na Casa Rosa para homenagear o poeta e compositor Waly Salomão. O show, intitulado Balada de um Vagabundo – A Música de Waly Salomão estreou em maio de 2024, marca um reencontro artístico das cantoras e celebra a obra do artista jequieense.
A apresentação propõe uma imersão no universo multifacetado de Waly, trazendo suas canções, suas palavras e sua presença ao palco. “É um mergulho na poesia de Waly, um convite ao público para redescobrir a sua genialidade e sua atualidade”, define Jussara.
Waly Salomão foi um nome importante para a música brasileira. Nos anos 1960, se associou à Tropicália, movimento cultural que desafiava as convenções artísticas e sociais da época e reunia nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Jards Macalé.
Enquanto compositor e produtor, Waly teve participação em algumas das canções mais famosas do período, como Mal Secreto e Vapor Barato, além de ter dirigido o show Fa-Tal – Gal a todo vapor, um grande marco na carreira da imortal Gal Costa.
O artista era conhecido por ser “multifacetado”, pois sua produção não se limitava apenas a música e aos tropicalistas. Ao longo de sua carreira, atuou em parceria com outros artistas, como Adriana Calcanhotto, Maria Bethânia e Cássia Eller, além de ter investido em sua produção literária, que inclui obras como Me Segura que Eu Vou Dar um Troço (1972) e Algaravias: Câmaras de Eco (1996).
“Waly sempre foi um referencial para nós. Ele acompanhou os primeiros passos de nossas carreiras e esteve presente nos momentos iniciais da nossa trajetória”, relembra Jussara.
A conexão com o poeta remonta ao final dos anos 1970, quando as cantoras se conheceram e participaram de um show em Jequié, produzido por Antonio Salomão, sobrinho de Waly. A amizade floresceu e, desde então, as artistas compartilharam momentos significativos com ele. “Foi uma espécie de mentoria afetiva, com dicas que marcaram nossas carreiras”.
“Waly era um artista único, um visionário, sempre à frente de seu tempo. Ele transitava por tantas áreas – poesia, música, direção de shows – e nos ensinou que a arte pode e deve ser ilimitada. Queremos que o público conheça mais de sua poesia, que é tão atual, tão viva”, acrescenta Sylvia Patricia, entusiasmada.
Diversidade musical
O show apresenta um repertório que abrange a multiplicidade de Waly. Entre as músicas escolhidas estão Mel e A Voz de Uma Pessoa Vitoriosa (com Caetano Veloso), Memória da Pele (com João Bosco), Vapor Barato (com Jards Macalé) e Motivos Reais Banais (com Adriana Calcanhotto). O processo de seleção foi colaborativo, com cada cantora trazendo contribuições pessoais.
“Eu já tinha uma relação íntima com Memória da Pele, mas quando ensaiamos, acabamos cantando juntas. Foi lindo ver como as vozes se entrelaçaram naturalmente”, conta Jussara. Sylvia, por sua vez, destaca Vapor Barato: “Essa canção nos conecta às nossas memórias de juventude, quando já cantávamos juntas em Itapuã. É muito especial trazê-la para este momento”.
Apesar de estilos musicais distintos – Jussara com sua veia mais voltada à canção popular e Sylvia com influências do pop-rock –, as artistas encontraram no universo de Waly um ponto de convergência. “A obra dele nos permite experimentar e sair das nossas zonas de conforto. É como se a música de Waly nos dissesse que não há limites”, reflete Sylvia.
Poética em movimento
Além da música, o show conta com elementos gráficos como fotografias, vídeos e grafismos criados por Omar Salomão, filho de Waly, que transportam o público para o universo vibrante e irônico do homenageado. A direção artística, assinada por Hebe Alves, trouxe ainda mais dinamismo à apresentação, destacando a cumplicidade entre as artistas. “Nós não saímos do palco em nenhum momento. Estamos o tempo todo interagindo, seja nos vocais, seja nas coreografias”, diz Sylvia.
Para Jussara, a presença de Waly nos vídeos traz um toque especial: “Ele tinha essa capacidade de ser ele mesmo em qualquer situação. Ver sua imagem ali nos lembra de sua potência, sua irreverência.”
Waly Salomão faleceu em 2003, aos 59 anos, mas, para Jussara e Sylvia, sua obra permanece atual e relevante, e seu trabalho continua a inspirar. “Queremos que esse show seja uma porta de entrada para que mais pessoas descubram a poesia de Waly, tanto nas músicas quanto nos livros”, destaca Jussara.
Para as cantoras, o tributo também é uma oportunidade de revisitar uma amizade que marcou suas trajetórias.
“Estamos nos redescobrindo juntas, como artistas e como amigas. E Waly está no centro disso tudo, como o elo que nos une”, comenta Sylvia. No ao passado, as outras edições do tributo tiveram uma resposta positiva do público e para essa apresentação na Casa Rosa, a artista espera que ocorra o mesmo.
“A recepção sempre tem sido muito boa, é surpreendente o público também se identificar com as canções que conhece, ou que já conhecia e que tem uma afinidade, mas que não sabiam que o autor era Waly. Então, a gente estar levando essa informação é uma coisa que me deixa muito contente. Eu tenho uma grande expectativa com esse projeto. cada uma de nós tem a sua carreira separado, mas temos uma alegria muito grande de estar fazendo esse tributo. Eu acho que a obra de Waly tem que ser mais falada, mais ouvida, mais lembrada e mais reconhecida” concluiu Sylvia.
Jussara Silveira e Sylvia Patricia: “Balada de um Vagabundo – A Música de Waly Salomão” / Sábado (11), 22h / Pátio Viração da Casa Rosa (Praça Colombo, 106 – Rio Vermelho) / Ingressos entre R$ 60 e R$ 100 / Vendas: Sympla
Foto: Divulgação – Fonte: A Tarde