* Duda Tawil, de Paris, texto e fotos –
O novíssimo Théâtre de la Concorde, no 8° distrito da Cidade Luz, ao festejar seis meses de inaugurado no fim de semana, viveu quatro dias de efervescência cultural, ao abrir as suas portas para a incansável Associação Autres Brésils no seu combate pela democracia, cultura brasileira, justiça social e muita resistência. Estamos no Ano França-Brésil, e como o teatro é e se intitula a “casa da democracia”, é o espaço perfeito para as manifestações artísticas e culturais “cruzadas” entre os dois países, como assinalou a sua diretora, Elsa Boublil, visivelmente feliz e comovida por esse encontro tão desejado.
Ela publicamente agradeceu o apoio da prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, sem o qual nada ali estaria acontecendo. Ontem, o alto comissariado do France-Brasil foi prestigiar o evento, leia-se Anne Louyot e Emílio Kalil, assim como a prefeita do 8° arrondissement, Jeanne d’Hauteserre, esta ao lado de Raí na inflamada, literalmente, plateia que foi aplaudir o espetacular show de Seu Jorge, “Cru”, que encerrou um dia memorável na capital francesa.
Associações como “Femmes en Résistance” (@femmesenresistance) e o projeto cultural itinerante Verso, da jornalista e produtora gaúcha Rosângela Meletti, assim como o jornalista esportivo paranaense Edson Militão e o criador/agitador da Lavage de la Madeleine (este ano de 9 a 14 de setembro, e dentro do França-Brésil), o santo-amarense Robertinho Chaves, a artista visual gaúcha Dedé Ribeiro e a realizadora baiana Liliane Mutti foram prestigiar esse rendez-vous intitulado “Dialogues en Mouvement”, que englobou filme sobre e concerto da musicista Léa Freire, debates, encontros, exposições e espetáculos.
Uma segunda edição acontecerá no mesmo Teatro da Concorde de 11 a 14 de junho. E ali mesmo, nos dias 4 e 5 de julho, se dará a segunda edição da Expo Favela Paris (@expofavelaparis), pilotada pela paulista Karina Tavares Rouffio.
As atividades de ontem tiveram o pontapé inicial com cinema e debate, na sala Studio Pierre Cardin, “Olhares Cruzados France-Brasil”, através do documentário narrado pela saudosa Rita Lee, “Democracia em Preto e Branco”, de 2014, e depois da projeção uma mesa-redonda entre intelectuais e o ex-jogador Raí, irmão do também craque Sócrates (1954-2011), fundador, junto ao colega de campo Leonardo, da Associação Gol de Letra, que atua em São Paulo e em breve com antenas no Norte e Nordeste brasileiros.
O emocionante filme mescla futebol, política e rock nacional na primeira metade dos anos 80 e propõe, a partir da criação da “Democracia Corinthiana“, movimento histórico no esporte, liderado pelos jogadores Sócrates, Wladimir e Casagrande, a reformulação social interna do popular time de São Paulo, que, ao adotar a democracia dentro do time, renovou não só as relações internas, mas como essa conscientização de necessidade de mudança ganhou a sua torcida, e a sociedade brasileira, gradativamente, pelas torcidas Brasil afora, para descambar na histórica campanha pelas “Diretas Já” de 1984.
Depois, numa plataforma circular, de madeira, bem na frente do teatro, gratuita, aberta a todos os que foram ao evento e transeuntes, rolou durante duas horas a roda de samba com o Samba de Quartier.
O grupo existe desde 2021, composto na formação completa por 12 integrantes, músicos e cantores brasileiros de vários Estados (@sambadequartier). A multidão cantante e dançante se aglomerou em volta da trupe de repertório primoroso, de sambas lindíssimos, entre geladas, caipirinhas, pastéis e salgadinhos do estande de gastronomia brasileira que também fazia parte, claro, da festa.
A convivência e integração eram totais entre artistas e público. A roda do Samba de Quartier tem um porto para se fixar sempre no último sábado de cada mês, o Café A, no 10° distrito, colado com a estação de trem Gare de l´Est.

Às 20h o multitalentoso ator, cantor e compositor carioca Seu Jorge subiu ao palco da Grande Sala Joséphine Baker do teatro, com seus músicos do Rio mais o baixista Feijão, há anos estabelecido na cena jazz da França, onde também fez show na véspera, espetáculo a preço acessível de 25€ e meia entrada.
Com enorme carisma e suingue, apresentou o recente álbum “Cru” e muitos sucessos dos seus 20 anos de estrada. Francófono e comunicativo, o que agrada em cheio à plateia franco-brasileira, e internacional, colocou a plateia de pé logo a partir da segunda música. Cantava, conversava, pedia para repetir trechos das canções, suas e de Martinho da Vila e do seu xará Jorge Benjor, por exemplo, sem esquecer uma do repertório do Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil, de Salvador, 50 anos de fundado no ano passado.
Voltou para três “bis” e dedicou a noite, em alto e bom som, ao saudoso e icônico jornalista francês do jornal Líbération e da rádio Latina, Rémy Kolpa Kopoul, um verdadeiro arauto, porta-voz e responsável pela descoberta de tantos e tantos jovens talentos musicais brasileiros da França, durante décadas.
Vive la França e.t salve o Brésil!
Mais informações: www.theatredelaconconcorde. paris e www.autresbresils.net
Edição: Nelson Rocha