São Paulo recebe primeira “Virada Cultural Literária Lusófona” com 24 horas ininterruptas de literatura

 

Por Ígor Lopes#

A Prefeitura de São Paulo, no Brasil, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, realiza, nos dias 24 e 25 de maio de 2025, a primeira edição da Virada Cultural Literária de São Paulo – Virada Lusófona, evento que integra a programação oficial da Virada Cultural 2025 e será realizado integralmente na Biblioteca Mário de Andrade, no centro da capital. Esta iniciativa terá entrada gratuita e será aberta ao público. O programa visa “aproximar leitores de autores, promovendo atividades com nomes como Leandro Karnal, Paulo Lins, Bruna Lombardi, Itamar Vieira Junior, entre outros”.

 

Evento decorre na região central da maior cidade de América Latina.

 

 

Com curadoria de José Manuel Diogo e Tom Farias e o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, da Associação Portugal Brasil 200 anos e da Casa da Cidadania da Língua, a expetativa é a de que a virada promova “uma verdadeira maratona cultural dedicada à literatura”, com início às 18h do sábado (24) e programação ininterrupta até o fim da tarde do domingo (25), essa primeira edição nasce com o propósito de celebrar a literatura em língua portuguesa como um território de encontros, resistência e transformação. Inspirada no conceito de uma cidade que gira em torno da palavra, o evento promove “diálogos literários, poesia e reflexão, conectando escritores, leitores e pensadores dos países lusófonos em um movimento contínuo de criação e partilha”.

Segundo José Manuel Diogo, que é também presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos, com sede em Coimbra, o evento chega como uma “manifestação cultural que transforma São Paulo num espaço vivo de histórias e encontros”.

“Durante 24 horas, a cidade se transformará num grande palco de narrativas, histórias e afetos que atravessam o Atlântico. A Virada Literária de São Paulo – Virada Lusófona, nesse contexto, torna-se um marco que celebra não apenas a palavra, mas a nossa identidade comum — um mosaico de vozes que se encontram na diversidade cultural”, complementou este responsável.
“20 anos em 24 horas”

O programa terá início com a mesa “São Paulo começa a girar”, às 18h do sábado (24/5), reunindo Guilherme Borba, Flávio Hélder e os curadores desta primeira edição da Virada Literária, José Manuel Diogo e Tom Farias, que propõem um “mergulho poético e político na cidade como linguagem viva”. O debate será em torno da metrópole que se escreve e se reinventa a cada passo, convidando o público a refletir sobre os múltiplos sentidos que emergem de seus corpos, ruídos e silêncios.

Em seguida, às 19h30, acontece a mesa “A cidade que vive”, que traz uma conversa sobre a cidade como organismo sensível, contraditório e em constante transformação. Eugênio Bucci, João Paulo Cuenca e José Manuel Diogo traçam um panorama das tensões urbanas a partir do olhar do jornalismo, da literatura e da crónica, destacando a cidade como espaço de memória, de conflito e de invenção narrativa.

A mesa “As estações do corpo”, acontece às 21h, com Leandro Karnal, Simone Az e Rosane Borges, abordando temas relacionados ao corpo e suas transformações. A partir de olhares filosóficos, literários e críticos, os participantes propõem uma reflexão sobre o corpo como linguagem viva e território de disputa simbólica. Juventude, desejo, dor, tempo, política e memória atravessam esse debate que entende o corpo como espelho das marcas do tempo.

Depois, às 22h30, acontece a mesa “A cidade que escreve”, com Andrea Del Fuego, Paulo Lins e Antoune Nakkhle. A conversa parte da ideia de que São Paulo é uma narrativa que se escreve antes de ser lida, seja nos muros, nas ruas, nos silêncios e nos romances. Três escritores refletem sobre como a literatura capta, recria e desafia a cidade real, revelando aquilo que ela mostra e, sobretudo, o que tenta apagar.

Já a meia noite, a mesa “O tempo nos olhos dos outros” reúne Xico Sá, Luciany Aparecida e Semayat de Oliveira, discutindo diferentes perspectivas sobre o tempo, não aquele marcado pelos relógios, mas o tempo vivido na pele, nos afetos, nas feridas e nas margens. O encontro entre crónica e jornalismo traz à tona narrativas que revelam um Brasil profundo, onde o tempo é uma experiência desigual, moldada por exclusões, silêncios e sobrevivências. Uma conversa sobre o tempo como verdade sentida, não medida.

Além das mesas, a Madrugada Poética começa às 1h30 com coordenação de Mel Duarte, trazendo um mergulho nas vozes poéticas emergentes da lusofonia, incluindo slams e recitais. A madrugada será ocupada por nomes de grande relevância, como Akins Kintê, Alice Ruiz, Binho, Cuti, Elizandra Souza, Esmeralda Ribeiro, Luz Ribeiro, Ryane Leão e Sérgio Vaz.

A partir das 3h30, o “Slam dos 13” – um coletivo de poesia falada que se tornou referência no circuito nacional de literatura periférica e slam, ocupa a biblioteca com um embate poético de vozes afiadas, ritmos pulsantes e verdades à flor da pele. Mais que competição, o slam é rito, pulsação e política. É um campo de escuta radical onde palavra e corpo disputam o centro da cena.

Já às 6h, será exibido o filme “O avô na sala de estar: a Prosa Leve de Antonio Candido” que apresenta uma biografia afetiva de um dos maiores intelectuais brasileiros: Antonio Candido de Mello e Souza. O seu trabalho impactou a historiografia e a crítica literária no Brasil, e continua a ser basilar na formação de estudantes e profissionais.

A programação segue às 7h com o café da manhã “Pão nosso literário”, instalação comestível comandada por Ricardo Magalhães e inspirada na obra de Mário de Andrade. O público é convidado a prestigiar uma verdadeira “padaria poética”, onde os visitantes poderão literalmente comer o texto, saborear frases, trocar ideias com os dedos e os dentes, com pão na forma de letras e livros na forma de pão.

Às 8h, começa a mesa “Pequenas galáxias do cotidiano” com Amara Moira, Luciany Aparecida e Rodrigo Casarin. A conversa propõe um olhar atento às miudezas do dia a dia e entre a força poética do corpo, a oralidade popular e a escuta crítica.

Logo após, às 9h30, é a vez de Bruna Lombardi, João Paulo Trevisan e Francis Manzoni que participam da mesa “Livros que andam nas mãos do povo”. A mesa celebra as palavras que circulam de mão em mão, tocando diferentes públicos e reafirmando que a leitura é também um gesto coletivo, afetivo e transformador.

Já às 11h, a mesa “O fim da noite não existe” traz Trudruá Dorrico, André Diasz e José Manuel Diogo. Esta mesa marca a travessia entre escuridão e aurora, reunindo a força ancestral da palavra indígena com a vibração urbana de uma literatura que pulsa na contramão da lógica do mercado. Uma conversa sobre resistência, sonho, escrita e permanência. Porque quando a noite parece longa demais, a literatura insiste em amanhecer.

A mesa “E se a terra parasse?”, com Antonio Prata, Ilana Trombka e Angélica Ferrarez, ocorre às 12h30, e propõe imaginar o impensável com humor, profundidade e precisão, os participantes exploram o colapso do tempo afetivo, da escuta, da política e da linguagem. Um diálogo entre a crónica, a ação institucional e o pensamento crítico sobre como resistir à paralisia coletiva — e encontrar movimento mesmo no imobilismo.

Às 14h, é a vez de “A palavra é o sol”, com Calila das Mercês, Renato Janine Ribeiro e Giovana Madalosso, que juntos buscam uma reflexão sobre a potência regeneradora da linguagem e seu papel na construção de futuros mais justos. Depois a programação segue com a mesa performativa “Uma orquestra literária”, às 15h30, com Paulo Scott, Marcelo Fornasier, Mauro Dahmer, Flavio Flu Santos e Fernanda D’umbra. A proposta é fazer com que as linguagens se cruzem como instrumentos afinados: a crônica marginal, a ficção filosófica e o traço visual se encontram num mesmo palco para improvisar sentidos e desafinar certezas.

A Virada Literária encerra a programação com a mesa-entrevista “Última volta do sol”, onde o escritor Itamar Vieira Junior, um dos nomes mais significativos da literatura brasileira contemporânea, conversa com a jornalista Joyce Ribeiro sobre memória, território, resistência e o lugar da literatura na reinvenção do Brasil profundo. O encontro será precedido por uma apresentação especial do escritor e curador Tom Farias, que contextualiza o gesto simbólico da mesa e homenageia a travessia coletiva realizada ao longo desta primeira edição do evento.

 

Luciany Aparecida (esq.), Itamar Vieira Junior e Bruna Lombard. Fotos: divulgação.

 

 

A Virada Literária de São Paulo – Virada Lusófona promove atividades paralelas que complementam a programação, como sessões de autógrafos, feira de troca de livros, instalações sensoriais e projeções de vídeo mapping na fachada da Biblioteca Mário de Andrade.
Mais de 800 atividades na Virada Cultural

Segundo apurámos, a Virada Cultural de 2025 chega à sua 20ª edição com uma programação extensa e diversificada, reunindo mais de 800 atrações em diferentes pontos da cidade. Além da Virada Literária, o evento – promovido pela Prefeitura de São Paulo por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, traz uma série de apresentações musicais, teatrais, de dança e circo, além da Virada Literária. Entre os destaques da programação musical estão BK, Banda Uó convida Gaby Amarantos, Djonga, João Gomes, Luísa Sonza, MC Hariel, Michel Teló, Rincon Sapiência, Tássia Reis e Vanessa da Mata, além de outros artistas já confirmados.

A Virada Lusófona é um convite à vigília poética, intelectual e afetiva de uma cidade inteira — um gesto inédito que transforma São Paulo numa constelação de encontros onde a palavra atravessa a noite, ilumina o corpo e reencanta o pensamento.

Mais informações sobre a Virada Literária – Virada Lusófona estão disponíveis no site: https://viradaliteraria.com/

 

Acompanhe o programa completo abaixo:
18h | Mesa 1 — São Paulo começa a girar
José Manuel Diogo | Guilherme Borba | Tom Farias | Flávio Hélder

19h30 | Mesa 2 — A Cidade que Vive
Eugênio Bucci | Joao Paulo Cuenca | José Manuel Diogo

21h | Mesa 3 — As Estações do Corpo
Leandro Karnal | Simone Az | Rosane Borges

22h30 | Mesa 4 — A Cidade que Escreve
Andréa Del Fuego | Paulo Lins | Antoune Nakkhle

00h | Mesa 5 — O Tempo nos Olhos dos Outros
Xico Sá | Lucianny Aparecida | Semayat de Oliveira

1h30 | Madrugada Poética
Coordenação de Mel Duarte – Com Sérgio Vaz, Elizandra Souza, Ryane Leão, Akins Kintê, Luz Ribeiro, Binho, Alice Ruiz, haicaísta do cotidiano e mestra da delicadeza política, Esmeralda Ribeiro,

3h30 às 6h | Slam do 13
Slam do 13 | Caio Feitoza | Jéssica Campos | Maitê Costa | Santos Drummond | Thiago Peixoto

6h | Cinema “O Avô na Sala de Estar: a Prosa Leve de Antonio Candido”
Brasil | 2024 | 45 min | Documentário | Livre

7h | Pão Nosso Literário. Entrada da Consolação
Curadoria de Ricardo Magalhães

8h | Mesa 6 — Pequenas Galáxias do Cotidiano
Amora Moira | Marco Haurélio | Rodrigo Casarin

9h30 | Mesa 7 — Livros que andam nas mãos do povo
Bruna Lombardi | João Silvério Trevisan | Francis Manzoni

11h | Mesa 8 — O Fim da Noite Não Existe
Trudruá Dorrico | José Manuel Diogo | André Diasz

12h30 | Mesa 9 — E se a Terra parasse?
Antônio Prata | Ilana Trombka | Angélica Ferrarez

14h00 | Mesa 10 — A Palavra é o Sol
Calila da Mercês | Renato Janine Ribeiro | Giovanna Madalosso

15h30 | Mesa 11 — Uma Orquestra Literária
Flavio Flu Santos | Marcelo Fornasier | Mauro Dahmer (mediação visual)
Direção: Paulo Scott

17h | Mesa 12 — Última Volta do Sol
Joyce Ribeiro entrevista Itamar Vieira Junior | Apresentação: Tom Farias

Edição: Nelson Rocha

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