Por Ígor Lopes#
Criada em 2005 em São Paulo, a Virada Cultural é o “maior festival de cultura gratuito do hemisfério sul”. Este ano, celebra, entre os dias 24 e 25 de maio, duas décadas de existência. Desde o seu início, a proposta foi “ocupar o espaço público com arte, diversidade e acesso gratuito à cultura, democratizando o que, muitas vezes, fica restrito a determinados públicos”. É desta forma que Totó Parente, secretário municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, destaca esta iniciativa, capaz de “transformar a cidade num grande palco, conectando linguagens artísticas, bairros, artistas e públicos”, durante
uma jornada de 24 horas ininterruptas de programação.
Com o tema “20 anos em 24 horas”, a Virada Cultural 2025, liderada pela Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, prevê ser a “maior da história”, com mais de mil apresentações artísticas em todas as regiões da cidade, sendo considerado um dos maiores encontros culturais gratuitos do Hemisfério Sul. Este ano, haverá espaço também para a Virada Lusófona, promovida em parceria com a Associação Portugal Brasil 200 anos e a Casa da Cidadania da Língua, ambas com sede em Portugal, num formato que permite o encontro de grandes nomes da língua portuguesa, e também com uma extensa programação. A curadoria da Virada Lusófona é de José Manuel Diogo e Tom Farias, dois experientes personagens no mundo da promoção da língua e da cultura lusófonas, razão pela qual apresentam em São Paulo nomes expressivos da literatura contemporânea, numa verdadeira maratona literária de 24 horas na Biblioteca Mário de Andrade.
Um movimento que acontece num cenário geográfico onde as estimativas indicam que a comunidade lusófona residente, sobretudo em São Paulo, excluindo os brasileiros, é composta por aproximadamente 100 mil pessoas, provenientes de países como Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Somente em relação ao país irmão, São Paulo abriga a maior comunidade portuguesa fora de Portugal, com cerca de 79 mil portugueses residentes atualmente na capital paulista.
Em entrevista exclusiva à nossa reportagem, Totó Parente – foto – falou sobre os desafios do evento, sublinhou a importância da realização da primeira edição da “Virada Lusófona” e defendeu que existe a possibilidade de “transformar São Paulo num ponto de convergência entre vozes que compartilham a língua portuguesa”. Crédito Gustavo Gonçalves.
Secretário, este ano a Virada Cultural Literária de São Paulo dá especial atenção à lusofonia. O que motivou essa escolha e como foi pensada a programação voltada para os países de língua portuguesa?
A escolha da lusofonia como foco desta edição da Virada Cultural Literária nasce do desejo de celebrar a literatura em língua portuguesa como território comum de encontro, resistência e transformação. Pensamos em uma programação que representasse essa diversidade cultural presente nos países de língua portuguesa, conectando autores, leitores e pensadores em um grande movimento contínuo de criação e partilha. A curadoria, feita por José Manuel Diogo e Tom Farias, traz nomes expressivos da literatura contemporânea, promovendo uma verdadeira maratona literária de 24 horas na Biblioteca Mário de Andrade.
Quais são os principais destaques da Virada Cultural Literária – Virada Lusófona e de que forma o evento contribui para fortalecer os laços culturais entre São Paulo e a comunidade dos países de língua portuguesa, sobretudo Portugal?
A Virada Cultural Literária traz uma programação intensa, com mesas literárias, saraus, sessões de cinema e intervenções poéticas. Destaques como Leandro Karnal, Paulo Lins, Bruna Lombardi, Amara Moira, Luciany Aparecida e Itamar Vieira Junior dividem espaço com slams, saraus e instalações sensoriais. A ideia é transformar São Paulo num ponto de convergência entre vozes que compartilham a língua portuguesa, estreitando laços culturais
com países como Portugal, e afirmando a nossa cidade como um polo dinâmico da lusofonia.
São Paulo é hoje uma das maiores cidades lusófonas do mundo. Como a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo tem trabalhado para tornar essa diversidade linguística e cultural mais visível e valorizada ao longo do ano, e não apenas durante a Virada Cultural Literária?
Temos atuado de forma estratégica para valorizar a diversidade linguística e cultural presente na cidade. Através de parcerias com instituições como a Associação Portugal Brasil 200 anos e a Casa da Cidadania da Língua, promovemos esta ação que celebra a riqueza da língua portuguesa e suas múltiplas expressões. A Biblioteca Mário de Andrade, por exemplo, é hoje um importante centro de difusão literária e cultural, com atividades contínuas que reforçam o papel da língua como ferramenta de inclusão, memória e identidade.
Que tipo de impacto espera que esta edição da Virada Cultural Literária, especialmente em relação ao eixo lusófono, tenha junto aos imigrantes,
descendentes e ao público em geral? Há planos de continuidade para este diálogo intercultural?
Esperamos que a Virada fortaleça o sentimento de pertencimento dos imigrantes e descendentes dos países lusófonos, oferecendo um espaço onde as suas histórias, línguas e culturas sejam reconhecidas e valorizadas. Para o público em geral, é uma oportunidade de ampliar o olhar e mergulhar na potência simbólica e afetiva da língua portuguesa. E, sim, este é apenas o começo. A intenção é que essa experiência se desdobre em novas ações ao longo do ano, consolidando um diálogo permanente com a comunidade em São Paulo.
Foto da Virada Cultural: © Rovena Rosa/Agência Brasil
Edição: Nelson Rocha