Conheça Cabo Verde: Outra África no Oceano

Jamile Borges

Por: Jamile Borges / Antropóloga e viajante.

O filósofo francês e viajante, Alain de Botton, costuma dizer que poucas atividades revelam tanto a respeito da busca e idealização da felicidade — com toda a empolgação e paradoxos que pode conter — quanto o ato de viajar. Segundo Botton, viajar expressa um entendimento de como a vida pode ser, fora das limitações do trabalho e da luta pela sobrevivência.

Assim como ele, eu tenho feito dos aeroportos uma segunda morada. Os últimos anos de minha vida têm sido destinados ao trânsito e circulação entre Brasil, África e Portugal (a tríade clássica do tráfico de escravos durante séculos), assim como, a busca pela riqueza cultural e pelos encantos da América Latina. 

Foi assim que, por razões de trabalho, durante os anos de 2010 a 2012, fui algumas vezes a Cabo Verde, esse pequeno país insular, Arquipélago encravado na costa ocidental do Oceano Atlântico.  Com 527.819 habitantes distribuídos entre suas ilhas, Praia, sua capital, vem sendo descoberta pelos brasileiros a partir de vôos regulares entre Brasil e África através das companhias aéreas TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) e TAP (Portugal) via Fortaleza com duração de não mais que quatro horas.

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O que dizer a um viajante que possa estimular sua curiosidade por esse pequeno e rico conjunto de ilhas no meio do oceano entre as Américas e a África?

Composta pelas Ilhas de Boa Vista, Sal, Santo Antão, São Nicolau, São Vicente, Maio, Santa Luzia, Santiago, Fogo e Brava, Cabo Verde tem nestas duas últimas ilhas motivos e curiosidades para te incentivar a conhecê-las: a Ilha do Fogo é conhecida pelos deliciosos vinhos feitos à base de uvas cultivadas em terras vulcânicas. E a ilha de Brava de onde saíram no início de seu povoamento, os marinheiros que iriam formar a primeira colônia de emigração cabo-verdiana em Massachussets, EUA, lugar para se comer os melhores peixes como Garoupa, Corvina e Moréia Dourada entre outros. 

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Praia, é sua capital. Essa linda e convidativa cidade é também conhecida como a capital da morabeza. Em crioulo, língua comum na região, isso significa amabilidade, afabilidade, um convite a se sentir em casa. Como a dizer Bem-vindo!

Esse convite se espraia pelos cantos e ruas, pelos bares onde pode se comer a típica culinária cabo-verdiana (cachupa, mistura de feijão, milho, chouriço e outras carnes) e tomar um grogue, bebida local, espécie de aguardente, de onde possivelmente deve ter originado a expressão sinônimo de embriaguez do lado de cá do oceano.

A música cabo-verdiana é uma sensação à parte. Pode-se ouvir desde os clássicos na voz de Cesárea Évora (Sodade) aos sons da nova geração que passa por Ceuzany e Sara Tavares e sua musicalidade mestiça a cantar em crioulo, francês, inglês e português na mesma canção (one Love) “Cima is ta dzê n’inglês , I love you, I need you, Quero dizer também em Português Te amo, eu te preciso. Alo bonjour comment ça va, Mana Sara do lado de lá.”

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Isso é Cabo Verde: crioula e doce, lusófona e rebelde, a um passo do EUA e de Fortaleza.  Sua feira principal leva o nome de Mercado de Sucupira numa franca homenagem a dramaturgia brasileira de Dias Gomes e o Bem-Amado.

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Dependendo da época do ano, é possível assistir de graça e em praça pública, o belo festival de Jazz (Krioll Jazz Festival) onde já tive o prazer de ouvir nosso querido Chico César dividir o palco com Ceuzany, Sara Tavares e Paco Sery.

Em quase todo portal e revistas de viagem, há sempre recomendações sobre os lugares para onde viajar, mas pouco ouvimos sobre como e por que deveríamos ir. Isso é o que me propus a fazer para você, leitor.  Em lugar de apenas indicar bares ou restaurantes, quis dividir com você porque eu amo esse pequeno país com todas as suas belezas e coisas ainda por descobrir.

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