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Dezembro em Cusco, Peru: a festa do Niño Manuelito

Por Berna Farias, jornalista e viajante

Turistas na Santuranticuy. Foto: Berna Farias

Celebrado em quase todo o mundo, o nascimento de Jesus Cristo ganha contornos especiais na “Cidade dos Incas”, Cusco, capital cultural do Peru. Ali, o próprio Menino Jesus tem outro nome: é o Niño Manuel (Menino Manuel, ou Emmanuel) ou, mais popularmente, Niño Manuelito, e sua festa acontece em todo o mês de dezembro. Mas é no dia 24 que uma multidão de turistas e locais toma as ruas do Centro Monumental para o espetáculo da tradicional feira do Santurantikuy, com sua diversidade encantadora de artesanato natalino e outros itens típicos da cultura peruana.

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Auto de natal representado por crianças cusquenhas. Foto: Berna Farias

 

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Outdoor da festa (feita em 2010). Foto: Berna Farias

Santurantikuy (ou Santuranticuy) é uma palavra quéchua, idioma nativo dos incas, derivada das palavras “santu” (santos) e “tikuy” (ou “ticuy”), que significa venda. A feira da “venda de santos” é uma tradição que se repete a cada 24 de dezembro, conta-se, desde a chegada dos conquistadores espanhóis à cidade de Cusco, há mais de 500 anos. Embora ocupe todo o Centro Monumental, o ponto principal do evento é, como quase tudo o que acontece na “Ciudad de los Incas”, a Plaza Mayor ou Plaza de Armas – Praça de Armas, no coração da cidade.

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“Angelitos” (anjinhos) em roupa típica peruana. Foto: Berna Farias

Além do artesanato tradicional, o visitante se depara com as mais encantadoras delicadezas em termos de peças natalinas nos mais diversos materiais, tamanhos e formatos, como presépios – chamados “pesebres” ou “nacimientos” (nascimentos) –, jogos de luzes, enfeites natalinos. Dentre os enfeites, há os anjinhos de lã (“angelitos de lana”) e dezenas, talvez centenas de outros, já que as festas do Natal e Ano Novo são muito comemoradas em Cusco e os presépios ocupam grandes extensões nos lares e em alguns lugares públicos e são cuidadosamente montados e decorados com todo tipo de peças, de animais a anjos, de figuras sacras a montanhas, florestas, lagos, pontes.

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Manuelito na cama de totora. Foto: Berna Farias

Belém e San Blas

Mas não é só no dia 24 de dezembro que o turista ou o nativo podem fazer suas compras de artigos natalinos: durante todo o mês de dezembro, outra feira é montada na Praça de Belém, onde há uma bela igreja de mesmo nome. Ali se concentram artesãos e vendedores de Cusco e de outros lugares, e também se pode encontrar todo tipo de produtos da época. O destaque vai para uma tradição bem peruana, em particular cusquenha, que são as roupinhas, sapatinhos e adereços para o Manuelito, o Menino Deus.

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Manuelito na cama de totora com traje típico. Foto: Berna Farias

São peças muitas vezes tão pequenas, delicadas e rebuscadas que é impossível não se encantar, não admirar. Isso porque, na tradição cusquenha, o Manuelito ganha, a cada ano, nova roupa – a troca é feita com todo cuidado e respeito na véspera do Natal, quando, somente à meia-noite, ele é colocado na manjedoura do presépio que, geralmente, é uma caminha feita com totora, um tipo de junco nativo do Lago Titicaca, na fronteira entre o Peru e a Bolívia. No dia 25 de dezembro, o Manuelito é levado às igrejas, nas Missas de Natal, para ser abençoado.

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Homem com artesanato típico peruano. Foto: Berna Farias

Embora em muito menor variedade, o artesanato natalino também pode ser adquirido, em dezembro e durante todo o ano, no bairro de San Blas (São Braz), tradicional reduto de artesãos e artistas plásticos. Os artigos costumam ser mais elaborados, e mais caros também, já que muitos levam assinatura de artistas, e é possível encontrar peças apaixonantes e exóticas, como anjos feitos com casca de arroz. Falando em exótico, as roupinhas do Manuelito não são apenas as tradicionais do catolicismo, havendo muitas opções de trajes típicos andinos, multicoloridos, confeccionados em lã de lhama. 

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“Povo das montanhas” com produtos natalinos. Foto: Berna Farias

Resistência

A tradição do Santurantikuy está registrada em crônicas sobre a colonização espanhola escritas por volta do século XVII, relatando o trabalho de catequização dos nativos pelos sacerdotes espanhóis que lhes falavam sobre Emmanuel, o menino nascido em Belém. Mesmo com a imposição do catolicismo, os povos andinos não esqueceram suas tradições e sua identidade, que se refletem no artesanato natalino, principalmente nas figuras do Manuelito – este, muitas vezes, tem pele morena e traços indígenas, e os presépios são montados em cenários onde estão representados os espíritos das montanhas (Apu), da terra (Pachamama), da lua (Mamaquilla) e do sol (Inti).

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Multidão toma o Centro Monumental de Cusco durante o Santuranticuy.. Foto: Berna Farias

Em dezembro, particularmente para a feira do Santurantikuy, se dirigem para Cusco os chamados, pelos cusquenhos, de povos das montanhas: famílias inteiras descem das terras altas dos Andes para vender suas mercadorias, geralmente papéis coloridos e plantas secas para montar os cenários dos presépios – os nacimientos. Suas características marcantes se configuram como uma atração a mais para o visitante estrangeiro, pela riqueza cultural e étnica que acrescentam à já fervilhante Cusco, cidade cosmopolita e centro da cultura e tradição incaicas.

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SERVIÇO

O que encontrar no Santurantikuy:

– Imagens sacras do Menino Jesus, de santos, pastores, anjos, reis magos, oratórios, presépios

– Cerâmica decorativa

– Trabalhos em madeira

– Miniaturas e filigranas

– Prataria

– Trabalhos em pedra e em couro

– Esculturas

– Pinturas da Escola Cusquenha

– Trabalhos em flores secas

– Trabalhos em lã, mantas confeccionadas em teares manuais

O que ver em Cusco

  • Qoricancha (Templo do Sol), Iglesia de Santo Domingo
  • Museu Inka
  • Museu Pré-Colombiano
  • Museu de Arte Monastério Santa Catalina
  • Museu de Arte Popular
  • Museu Qosqo de Arte Nativa – Danças Folclóricas
  • Museu Histórico Regional
  • Bairro boêmio e artístico de San Blas, onde se pode encontrar as famosas pinturas cusquenhas
  • Plaza de Armas (Huacaypata), “coração” da cidade, onde estão a imponente Catedral de Cuzco, a igreja da Companhia de Jesus e a fonte de Manco Capac
  • Sítios arqueológicos nos arredores da cidade

UMBIGO DO MUNDO – O ideal é, aproveitando o Santuranticuy, montar um roteiro que inclua não apenas a cidade de Cusco, mas outros pontos do país, como as cidades de Arequipa, Puno e Lima – passando, é claro, pelo lago Titicaca para uma visita às comunidades das Islas Flotantes de Uros, que vivem de forma primitiva em ilhas flutuantes feitas em totora, um tipo de junco nativo do lago. Mas a cidade de Cusco, por si só, já vale a visita. A cidade, com cerca de 400 mil habitantes, tem uma curiosa planificação urbana, em forma quadriculada.

Chamada de “umbigo do mundo” por ser considerada o centro do “Império das Quatro Direções”, e “Capital Arqueológica da América do Sul”, por sua riqueza histórica, a legendária capital dos incas é uma espécie de museu ao ar livre, onde se respira história, cultura, e também um excelente lugar para compras, passeios e diversões – para quem gosta de curtir a vida noturna, há ótimos e aconchegantes bares, restaurantes e as “peñas”, onde se pode dançar salsa e outros ritmos latinos e até música techno.

O bairro de San Blas (São Braz), considerado reduto boêmio e cultural da cidade, reúne muitos dos barzinhos e “peñas”, além de galerias de arte e lojas onde, além da incrível variedade do artesanato peruano, pode-se apreciar e adquirir as belas pinturas em estilo cusquenho. Em San Blas se pode até tomar sorvete de coca, em uma loja onde se vende quase tudo feito com a planta-símbolo dos Andes, desde biscoito, doce de leite, chocolates, bombons, acondicionados em embalagens feitas com os multicoloridos tecidos de lã de lhama, vicunha e alpaca.

Igrejas como a belíssima e imponente Catedral e a igreja dos Jesuítas, na Plaza de Armas, e o Monastério de Santa Catalina são espetáculos à parte. A catedral reúne, em uma única edificação, três diferentes capelas, cada qual mais rica em obras de arte. O Monastério de Santa Catalina, edificado no lugar onde ficava a Acclahuasi, ou “casa das virgens” dos incas, guarda uma bela coleção de pinturas da escola cusquenha e outras obras de arte, muitas visivelmente marcadas pelo acréscimo de elementos da cultura indígena. Visitas imperdíveis são o museu Pré-Colombiano e o Museu do Inka.

Cusco também conta com muitos serviços para o bem-estar do visitante. Desde massagens terapêuticas e energéticas para “manter a harmonia com o ambiente” até a alta gastronomia. Não é à toa que a cidade é considerada a segunda cidade gastronômica do país, depois de Lima.

O tom marcante da cozinha local é o condimento, talvez um tanto forte para a altitude do lugar, mas simplesmente maravilhosa, por ser leve e de paladar sofisticado. As sugestões imperdíveis são filé de alpaca, trucha (peixe do lago Titicaca, de carne macia e branca ou rosada como a do salmão) e, para quem aprecia caça, cuy ao forno ou picante. O cuy é um roedor muito semelhante à cotia e à paca. E não deixe de provar o pisco, bebida típica peruana, pura ou com sabores

ENTORNO – Nos arredores e proximidades de Cusco estão alguns dos sítios arqueológicos mais importantes do Peru e o mais visitado deles, Machu Picchu, a cidade-fortaleza descoberta oficialmente em 1911. É um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo e permaneceu oculta por vários séculos por sua localização inacessível, entre montanhas a 2.400 metros de altitude cercadas por uma selva densa.

Machu Picchu, embora o mais importante, é apenas um dos destinos. No entorno de Cusco estão diversos outros sítios históricos, como a fortaleza de Sacsayhuaman (onde, conta a lenda, os incas combateram ninguém menos que São Sebastião), Qenko, PukaPukara e Tambomachay.

São também imperdíveis as visitas a sítios mais distantes, como Ollantaytambo, vila que manteve quase inalteradas suas características de antes da conquista espanhola, e Pisaq, a duas horas de Cusco, outra vila onde se pode comprar todo tipo de artesanato em lã de alpaca, lhama e vicunha, pedra-sabão, prata e outros materiais. Um passeio pelo vale do rio Urubamba, um dos rios que formam o Amazonas, também é ótima opção.


O Templo do Sol (Qoricancha, atual Iglesia de Santo Domingo) foi construído com pedras encaixadas de forma perfeita, no estilo denominado inca imperial, em que as paredes apresentam inclinação de até 14 graus. A construção tinha mais de 350 metros de circunferência e muitas paredes eram revestidas com placas de ouro. Outros pontos eram decorados com incrustações em ouro representando os principais objetos rituais: milho, lhamas, “chicha” (espécie de cerveja).

Serviço

Opções de pacotes de viagem

Uma das agências que montam pacotes personalizados para visita ao Peru é a Turismar Viagens e Turismo, na Av. Adhemar de Barros, 438, Ondina, tel. 71 3176-0766.

Uma opção para passeios em Cusco é a agência local Hada Tours – Tel. 00xx5184 236-920 www.hadatours.com.pe

Atenção: a viagem ao Peru exige passaporte com validade mínima de seis meses e certificado internacional de vacina contra febre amarela, emitido em posto de saúde dos aeroportos até dez dias antes da viagem.


Comentários sobre “Conheça o Peru

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